quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Comemorações a álcool


S
egundo definição, hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui.  E ninguém melhor do que François duc de la Rochefoucauld quando sintetizou esse conceito ao revelar de maneira mordaz a essência do comportamento hipócrita: "A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". Ou seja, todo hipócrita finge emular comportamentos corretos, virtuosos, socialmente aceitos. Sem a intenção de fomentar ainda mais o pessimismo do moralista e aristocrata francês, pego carona nessa premissa ao observar o comportamento humano em épocas comemorativas como o Natal e a Páscoa, onde a intenção cristã deveria ser exclusivamente a comemoração do nascimento e a ressurreição de Jesus Cristo. Porém, o intento torna-se, na maioria das vezes, uma festa pagã, onde o que vale mesmo é a ingestão absurda de bebidas alcoólicas, hábito cada vez mais bizarro e ameaçador. A cerveja e a aguardente, em especial, fazem parte desse contexto cultural, e geralmente são as mais incorporadas nessas reuniões sociais. As festividades, permeadas por situações de embriaguez, evidenciam esse caos social, onde o vício, mascarado de boas intenções, celebra a virtude daqueles que se declaram cristãos. 

     Tudo é diversão... e mau exemplo. Quando essa prática passou a ser considerada normal!? Idosos, adultos e adolescentes expondo-se de maneira irresponsável à frente de crianças, como se a bebedeira fosse uma coisa banal. O que os pais, no entanto, ignoram é que esse tipo de comportamento leva aos filhos a concepção errônea de que para o estabelecimento de laços sociais é necessário atravessar essa ponte perniciosa, cujo pedágio cobrado é a ingestão farta de bebida alcoólica. Entretanto, eles se esquecem que, uma vez cruzada essa ponte, retornar pode ser muito difícil. Assim, a falsidade dos devotos conduz às gerações mais novas um entendimento comportamental de que a bebedeira faz parte do pacote festivo da tradição cristã. Contudo, não raras vezes, são esses mesmos pais que exigem dos filhos um comportamento exemplar quando chega a hora de eles saírem para as “baladas” noturnas. Mas essa reversão de valores está equivocada, já que o exemplo, nesse caso, passa de pai para filho, e não o contrário. Por isso quando o jovem se insere nesse mundo tortuoso das drogas fáceis, talvez ele esteja a protestar pelos limites ausentes e pela falta dos bons exemplos de conduta, já que a família, quase sempre, tem sua parcela de responsabilidade. Por isso não adianta levar o filho à igreja, rezar, e, logo em seguida, se afogar em copos de cerveja, uísque, vodka, cachaça... As coisas não funcionam assim. Ou você dá o exemplo ou conte com a sorte. E é bom lembrar que não adianta chorar depois do leite derramado.

     Portanto esse modelo, que propõe uma interação social regada ao consumo excessivo de bebida alcoólica, nos leva a acreditar que o homem não sabe mais dialogar de “cara limpa”, isto é, não basta uma conversa animada e civilizada, o intuito é extrapolar, nem que isso provoque nos filhos repulsa, vergonha e/ou mau exemplo. Mas de quem é a culpa? De toda a sociedade que costuma incentivar o consumo de álcool, mesmo ciente de que esse também é uma droga psicotrópica. Ou seja, o alcoolismo não difere psicologicamente da dependência de outros tipos de drogas. Assim essa “carga negativa” é arremetida pela sociedade contra ela mesma, quando permite e incentiva de forma indiscriminada o consumo generalizado de bebidas que levam o indivíduo a uma situação vexatória e irresponsável perante seus pares, amigos e familiares e principalmente diante dos próprios filhos. E aqui cabe a famosa frase do escritor francês Gustave Flaubert “A fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia social”.
     É nesse momento que a hipocrisia dita ordem quando abandona a principal motivação do encontro festivo: tempo de troca de afetos e de matar a saudade. E o que deveria ser um momento reflexivo, alegre e benéfico a todos, não passa de um blefe, já que essa compulsão pela bebida tende muitas vezes a enganar a consciência para que assim sejam expostos os problemas emocionais: angústias e frustrações. Porém, é bom lembrar que a bebida só acentua o problema e comumente costuma gerar ainda mais, e que pessoas civilizadas devem agir, principalmente diante dos filhos, com o máximo de responsabilidade e dignidade. Vale aqui citar a célebre frase “Quem se modera raramente se perde” do filósofo chinês Confúcio.   
     Engana-se, entretanto, quem imagina que o intuito desse texto é a propagação da eliminação de bebida alcoólica nas comemorações festivas. Na verdade, a finalidade dessa matéria é chamar a atenção para o fato preocupante do aumento excessivo de pessoas embriagadas, que sem nenhuma responsabilidade, todos os anos, são capazes de colocar em risco, além da própria vida, a vida daqueles que juram amar, quando sem nenhuma consciência de sua ebriedade decidem dirigir.  Os números incontestáveis demonstram que é justamente nessa época do ano que o número de acidentes e a violência no trânsito aumenta consideravelmente, em relação a outros períodos do ano, consequências do alto consumo de bebidas alcoólicas. O que seria motivo para celebração da vida, rotineiramente, transforma-se em tragédia. Aquele que precisa  beber constantemente valendo-se de variadas desculpas deve, sim, procurar ajuda médica e psicológica, urgentemente. É importante ressaltar que se o objetivo das reuniões sociais é difundir a tradição e a fé cristã, e acreditando que Ele ressuscitou, fica aqui a pergunta para quem jura seguir os mandamentos divinos: acaso beber em demasia não causa desonra ao pai e a mãe, ainda que estes já não estejam mais neste plano físico? O que será que o aniversariante, Jesus, pensa ao “observar” que a maioria dos homens, pelos quais Ele ofereceu a própria vida, se embriaga, diante dos próprios filhos, em sua homenagem e memória?
                 Lembre-se, de nada adianta procurar a frente das coisas olhando de lado, POR ISSO BEBA COM MODERAÇÃO.
                                        FELIZ ANO NOVO!



terça-feira, 27 de novembro de 2012

REVISTA D'FATOS & FOTOS

T
ornar inesquecível a sua festa ou o seu baile de debutante agora é possível, basta que você, no dia do grandioso evento, entregue aos seus convidados sua própria revista D’FATOS & FOTOS, autografada ou não, a escolha é sua. Serão, no mínimo, oito (08) páginas de pura emoção, com uma tiragem, também, de no mínimo 100 (cem) exemplares, onde você poderá contar e mostrar, através de fatos e fotos, os melhores momentos da sua vida. Imagens e reportagens que evidenciarão sua família, amigos, namorado, viagens, animais de estimação, propiciando, assim, a todos os seus convidados a oportunidade de lhe conhecer melhor.
As entrevistas e a condução das matérias serão feitas por uma profissional da área de comunicação social, formada em Jornalismo, que agregará qualidade e seriedade à sua revista. A publicação personalizada visa proporcionar o compartilhamento dos seus memoráveis momentos com aqueles que fazem parte de sua importante e exclusiva jornada. Assim, expressar suas ideias e dividir suas emoções tornará o seu evento social especialmente majestoso, além de oportunizar, através do seu próprio editorial, a prestação de homenagens e agradecimentos. Toda Princesa merece ser capa de Revista, para assim eternizar essa inesquecível comemoração. 

A
 cerimônia de formatura é um dos momentos mais gloriosos da vida de um estudante,  já que é nessa data que ele sente a plenitude de sua capacidade intelectual, para assim poder desempenhar determinada profissão, escolhida em função de suas aptidões naturais. Por isso não é exagero dizer que essa celebração é uma das conquistas mais sonhadas pelo ser humano. A conclusão do ensino superior eleva a jornada de qualquer pessoa a querer compartilhar esse momento especial com os entes mais queridos, assim como expressa o reconhecimento para aqueles que, de alguma forma, contribuíram para essa vitória.
Além disso, a Solenidade de Colação de Grau é um momento de magnitude da Instituição de Ensino, quando dirigentes, professores, funcionários, pais e alunos externam seus sentimentos para provar que a missão de ensinar foi cumprida e o esforço valeu a pena.
As etapas ultrapassadas e vencidas, durante essa prazerosa, porém muitas vezes extenuante jornada, no entanto, nem sempre é do conhecimento dos mais próximos e, por vezes, caem no esquecimento, assim como os  colegas e amigos de turma, que após a formatura, por desígnios do destino, acabam perdendo o contato, mesmo com o advento da internet. Então por que não celebrar essa data com uma publicação personalizada. Através da Revista D’FATOS & FOTOS, conte sua história, homenageando de modo particular os professores, os colegas, os funcionários, os pais... As matérias serão elaboradas por uma profissional, formada em Comunicação Social, Jornalismo, que garantirá um trabalho sério e meticuloso.
Esse pode ser um grande legado que você deixará à próxima geração, que com o seu exemplo de vida, poderá com orgulho seguir os mesmos passos rumo a um futuro promissor. 

T
odas as histórias de amor começam da mesma forma: Era uma Vez... Porém, cada uma possui sua singularidade, já que é composta por pessoas, circunstâncias, culturas, épocas e panoramas diferentes, por isso mesmo são únicas e intransferíveis.
E a sua história parece romance de cinema? Então por que não compartilhá-la, através de uma revista personalizada, com os seus convidados: familiares, amigos e colegas, na linda cerimônia que celebrará o seu casamento. Assim, além dos bem casados e das lembrancinhas, você poderá oferecer, ainda, aos seus convidados uma publicação original, que contará com um lindo editorial, onde o casal poderá fazer uma declaração de amor, homenagens ou agradecimentos.
 Sua revista de D’FATOS & FOTOS poderá trazer entrevistas e reportagens com pessoas importantes ao casal: parentes, amigos, colegas de trabalho – podendo ser as próprias testemunhas da cerimônia civil e/ou religiosa – que irão relatar e/ou desejar ou mesmo aconselhar, ao casal enamorado,  como manter o fogo ardente da paixão. Será uma publicação única, e deverá ser preservada por todos para sempre, já que ninguém se desfaz daquilo que faz parte de sua vida. Sua revista será passada de geração a geração, como uma testemunha ocular a fortalecer ainda mais essa linda história de amor. Por isso não distribua, tão somente, as “lembrancinhas”, elas inevitavelmente serão esquecidas. Assim sendo, lance a todos os presentes à sua magnífica cerimônia matrimonial, a sua esplendorosa revista, cujo conteúdo deixará a todos os convidados a certeza de estarem diante de uma verdadeira e autêntica história de amor, a sua, que um dia poderá ser lida pelos seus filhos e netos, que orgulhosamente saberão que fazem parte dessa história. Para maiores esclarecimentos entre em contato através do e-mail: rosaide.gomes@hotmail.com

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Verdade seja dita


N
essa semana uma frase chamou a minha atenção, aquelas escritas nos para-choques dos caminhões, “O homem procura pela verdade, mas quando a encontra é incapaz de suportá-la”. Receio que essa locução seja, na maioria das vezes, uma realidade. Quantas vezes nos deparamos com situações onde a verdade precisou ser suprimida. Muitas vezes besteiras. Mas o suficientemente grandes para salvar relacionamentos amorosos e amizades. E quem por motivos profissionais já não foi obrigado a mentir? E aquela famosa dor de cabeça que apareceu na hora “H”? Ou então aquela reunião de trabalho que precisou se estender noite adentro? Desculpas “esfarrapadas” que quando “empilhadas” já não são capazes de conter o desmoronamento inevitável dos vínculos afetivos, cuja base precisa estar alicerçada sobre estruturas sólidas, sem a corrosão das mentiras.
Entretanto, é fato científico que engodos e mentiras são nossos companheiros constantes, assim como no princípio, agora e, talvez, para sempre. E nem mesmo os nossos “primos” os chimpanzés, que vivem em bando, escapam do artifício da dissimulação, quando usam de truques, tapeações e fingimentos para conseguir posição hierárquica, comida e parceiros sexuais. Mas também eles correm riscos ao tentar ludibriar o grupo, garantem os biólogos da evolução. Uma vez descobertas suas trapaças, o preço a pagar é a degradação social, exatamente igual ao que ocorre aos seres humanos. Será que Adão e Eva não passaram muito tempo observando seus parentes – os macacos – e com eles aprenderem o ofício da enganação? Ou será que eles também fazem parte de uma grande mentira, já que não suportaríamos a verdade suprema sobre a nossa origem? Parafraseando o filósofo francês, René Descartes, “Penso, logo existo”.
Contudo, contrariando a lógica, a mentira parece ter mais adeptos do que a soberana verdade, já que ganhou até uma data específica em sua homenagem, o dia 1º de abril. Agora pense se fosse sua rival a receber o merecido tributo, quem se arriscaria a sair de casa, sabendo que poderia ouvir e/ou dizer inconveniências. Certamente, nesse único dia, se conseguiria mais inimigos do que todos os outros dias do ano, já que certas verdades devem ser suprimidas, até mesmo por uma questão de educação e respeito, ou ainda porque algumas verdades, de forma velada, podem fazer sofrer, através das “boas intenções”. Segundo Samuel Langhorne Clemens, escritor e humorista conhecido pelo pseudônimo de Mark Twain Algumas pessoas nunca dizem uma mentira - se souberem que a verdade pode magoar mais.” E isso faz lembrar o dito popular que diz que de boas intenções o inferno está cheio.
Não estou aqui tentando difundir a mentira como uma filosofia de vida. Mas o fato real é que ninguém é totalmente sincero, há sempre, ainda que de uma maneira sutil, uma situação que nos obriga a faltar com a verdade, mesmo que seja pela omissão, o que eu acredito que seja a forma mais branda de a humanidade conseguir conviver em sociedade. Um exemplo disso é quando você descobre que o seu chefe ou cliente é um perfeito idiota, quando revela seu lado preconceituoso, autoritário e ignorante. Você, ali diante daquele boçal, cheio de vontade de dizer-lhe umas verdades, mas pensando no quanto está difícil pagar suas contas, simplesmente se obriga, quase consentindo com aquele disparate, a se calar. É a lei da sobrevivência humana. E quem não deseja ser constantemente enganado, precisa ter a capacidade de descobrir artifícios e enganações alheias.  Ainda que a maioria prefira aceitar as mentiras que as envaidecem, às verdades que as desagradam, preceitos que crescem à medida que nos tornamos civilizados. E conforme o crítico social e jornalista, norte americano, Henry Mencken É difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele”.
Mas quanto à questão de mentir, temos ou não esse direito? Acaso não teríamos nós o direito total de liberdade de ação, isto é, não deveria haver uma “Lei” que nos protegesse pela forma como repudiamos e negamos a mentira? Certamente as pessoas entrariam em conflitos diários. O colapso seria atribuído as nossas diferenças individuais, culturais, sociais...  E é por isso que os nossos pensamentos são apreciados somente pela nossa consciência particular. Já imaginou se pudessem ser lidos! Você decide sair com aquela sua roupa predileta e todos – em pensamentos - ridicularizando sua escolha. Ou mesmo aquele momento “mau hálito” e você “ouvindo” os pensamentos de repulsão à sua respiração e fala. Seria muito constrangedor. Ainda bem que a natureza é sábia, deu aos homens apenas o dom da fala e não de invasão de privacidade, se ele assim o faz é por escolha própria. Talvez seja por isso que mentira e verdade estejam “irmanadas” como duas faces opostas de uma mesma moeda, para que dessa forma possamos escolher o momento para fazer bom uso de uma ou de outra, mas sempre tem uma terceira opção: o silêncio.
 Embora a máxima de que uma vida não possa ser baseada sob a égide da mentira, que não costuma se sustentar por muito tempo, a verdade é a única que, dentro da ética e do conhecimento, pode conduzir à evolução humana.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Família

D
Sem a família o homem não teria alcançado relevante evolução
esde os primórdios da humanidade, quando ainda nas cavernas, que o homem obtém sua formação dentro da família, é provável que isso tenha ocorrido pela fragilidade de sua natureza humana, já que, sozinho, não conseguiria sobreviver sem a união de forças dos pais e parentes, cujo propósito era garantir à criança pleno desenvolvimento físico e intelectual, transformando-a assim em um ser sociável e preparado para enfrentar as agruras da vida. Dessa forma a família passou a ser a base fundamental que dá sustentação à formação do indivíduo. E aqui a maioria concorda que sem esse suporte tudo se tornaria muito mais difícil. No livro “Casa não é lar”, Ramón Llongueras Arola diz que “a família é o primeiro e principal contexto de socialização dos seres humanos”. Para o antropólogo, professor e filósofo francês, Claude Lévi Strauss a família é um grupo social que tem origem no casamento, é uma união legal com direitos e obrigações econômicas, religiosas, sexuais e de outro tipo. Porém, também está associada a sentimentos como o amor, o afeto, o respeito e/ou o temor. Embora, em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de conservação e reprodução da espécie, atualmente ela passa por um processo de isolamento nuclear, onde se acentua o papel da mãe, na medida em que ela já não conta mais com os parentes para ajudar e, comumente, nem mesmo com o apoio do pai dos seus filhos. No entanto, não quero, aqui nesse espaço, me ater ao papel independente dos pais.
Contudo, há uma classificação bem interessante que indica, de maneira particular, as características existentes dentro desse conceito de família, sendo elas: elementar, extensa, composta, conjugada fraterna e a fantasma, sendo que esta última consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou mãe, e o chamado fantasma, além dos filhos.
Toda família tem suas esquisitices
     Na verdade minha abordagem é muito mais reflexiva, no momento em que procuro entender qual o conceito real de família quando nos referimos à família extensa: pais, avós, filhos, tios, sobrinhos, primos, noras, genros... De forma singela, desde muito cedo, compreendi que os filhos ao saírem da casa dos pais, com o objetivo de unirem-se a alguém, formam sua própria família, deixando para trás sua referência familiar: pais, irmãos... E aqui tudo fica muito subjetivo. Dou relevância a este assunto por entender que as relações de parentesco dentro da propagada base familiar se dá muito mais pela afinidade - conjugada fraterna - do que pelo vínculo consanguíneo – quando descendem do mesmo tronco ancestral. No entanto, sempre observei dentro das famílias elementares e extensas a existência, ainda que velada, de uma rivalidade e até mesmo uma animosidade em relação aos novos agregados – sogros, noras, genros, cunhados, madrastas e padrastos. Pessoas que repentinamente são inseridas no núcleo familiar, e que por isso mesmo passam à condição de parentes da noite para o dia. Essa atitude generalizada tem provocado, ao longo dos séculos, em toda a sociedade muita controvérsia e hostilidade. A literatura está repleta de exemplos “malditos”, onde a hipocrisia da família teve uma atuação tão nefasta que o melhor seria não tê-la, como no caso da trágica história de William Shakespeare, Romeu e Julieta, cuja guerra travada entre duas famílias levou o casal apaixonado à morte. E quem não se lembra dos clássicos contos infantis que evidencia o sofrimento de jovens como a Branca de Neve e da Bela Adormecida, causados por suas odiosas madrastas, que impuseram às pobres moças múltiplos infortúnios, sendo que a última ainda padeceu com a inveja das próprias irmãs. Histórias que revelam que a dor, quando causada por parentes, é muito mais difícil de ser assimilada, já que o normal é que a família proteja e jamais provoque consternação.
A família como instituição desagregadora
     Porém, é bom lembrar que a responsabilidade pelas discórdias nem sempre é da família, muitos agregados, oriundos de outros núcleos familiares, também costumam causar tristezas e decepções, já que à primeira vista a verdadeira face fica oculta, é mais tarde que a máscara costuma cair. Infelizmente esse é um aspecto essencialmente humano. E se alguém ao ler este texto pensou que a minha inspiração veio da Carminha, personagem da novela das nove, que deveria se chamar “Avenida dos Cornos”, se enganou redondamente, ainda que haja certa coincidência, já que a personagem sempre escondeu da família e do próprio marido seu verdadeiro caráter – embora eu não tenha por hábito assistir novelas, conheço o enredo central, por isso logo me lembrei do acaso da história.
Sagrada Família
     Mas o caro leitor deve estar se perguntando aonde eu quero chegar com esse texto. É simples, estou tentando, há muito tempo, entender essa relação intrincada e complexa que leva muita gente a desistir do convívio familiar, isto é, pessoas que se afastam dos parentes, deixando para trás o caos social provocado pelo conflituoso relacionamento, muitas vezes entre seus pares e seus familiares. Assim irmãos, pais, filhos, tios, avós... perdem o contato mútuo por muito tempo, quiçá para sempre, em decorrência  de atitudes questionáveis por ambas as partes. Isso ocorre geralmente pelo excesso de intimidade entre os membros da família, cujos comportamentos conflituosos e contraditórios, além de provocar fofocas, já serviram de inspiração nos anos 90, para o filme do diretor Mario Monicelli “Parente é Serpente”. É óbvio que a intriga é tão antiga quanto o homem. Na História da Roma Antiga, Julio César costumava lançar mão desse artifício pagando pessoas a peso de ouro para espalhar boatos contra seus adversários políticos. Contudo, voltando ao tema proposto, penso que tanto os novos agregados quanto a própria família, ambos, brindes que vêm sem etiqueta de troca, precisam estabelecer limites para que a conexão entre todos pertencentes ao mesmo “clã” fortaleça a convivência familiar. E, para que isso aconteça de fato, o mais importante é que se instituam determinadas regras: como diria uma amiga “cada um no seu quadrado”, já que é inegável que, apesar dos pontuados desentendimentos, a família contribui para a formação social do indivíduo. Entretanto, para que haja uma relação saudável entre todos os parentes, é necessária a adoção de certas medidas: diálogo, respeito, limites e principalmente compreensão. É óbvio que não existe família perfeita, mas quando todos os membros reconhecem a importância de pertencer ao núcleo familiar, desenvolvendo sua responsabilidade em prol de um convívio salutar, todos saem ganhando, principalmente as crianças que, ainda hoje, carecem do afeto dos avós, dos tios, dos primos, dos padrinhos e dos amigos, que passam a compor a grande família.  
    
        

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A criatura e o criador

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C
onhecidas como Rede Social Primária ou Informal, as redes de relacionamentos como Orkut, Facebook, Linkedin, Monster, em tese, formam-se a partir de relacionamentos entre indivíduos, que em certa fase de suas vidas estabeleceram algum contato, primário ou informal. São pessoas que fizeram ou ainda fazem parte da vida cotidiana do homem moderno: amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos, instituições sociais... Cada um de modo singular proporciona ao sujeito compor sua própria identidade, ao menos essa é a intenção, já que muitos agregam famosos - ilustres desconhecidos -, para assim angariar status maior perante o grupo de amigos escolhidos. Na verdade, esse intrincado procedimento leva a pensar que nossas páginas de relacionamentos são tão artificiais como o monstro criado por Mary Shelley, Frankenstein, quando recebem frequentemente membros tão distintos. Assim sendo, podemos dizer que quando optamos por nos conectar com centenas de pessoas, adicionando elas a nossa  página virtual, estamos criando um clone moderno do monstro, cujo nome poderia ser Facenstein. O problema é que criatura e criador nem sempre conseguem conviver juntos, e comumente fica difícil identificar um do outro.
Contudo, como o próprio doutor Victor Frankenstein, nessa tentativa de conectar e juntar personalidades tão diferentes, corre-se o risco de uma contumaz tragédia, ao se perceber como uma união  desordenada  de  partes desconhecidas  pode instituir algo tão irreal e subjetivo e, sobretudo, sem uma identidade definida. Sim, até mesmo porque sem noção da dosagem muitas pessoas se expõem à rede de maneira exagerada. Diante desse fato não tarda a ocorrência do arrependimento por vaidade e até mesmo por ansiedade, já que a intenção é mostrar o quanto se é culto, bonito, bondoso, batalhador, religioso, apaixonado, rancoroso, bem sucedido, emblemático, vingativo, conquistador, invejoso, simpático ou antipático... Vale tudo para chamar a atenção. E esses membros tão desconexos caem na pluralidade das páginas compartilhadas; eis novamente o surgimento do Facenstein. Devido a esse comportamento acintoso muitos são “amputados”, quando têm sua assinatura bloqueada ou cancelada sumariamente sem aviso prévio.
O paradoxo do monstro, porém, está na dualidade de sua personalidade: poética e paranoica, fazendo com que todas as partes – os faceamigos – mergulhem facilmente na paródia que se torna a criatura virtual, que, frequentemente, recebe novos agregados à sua personalidade, “novos amigos”, geralmente garimpados pela peneira da rede. Um constante processo que pode se transformar em vício, quando possui, ainda, uma ferramenta que fornece a opção curtir, comentar e compartilhar. É aqui que o bicho pega, quando o indivíduo se desnuda completamente. Embora muitos não percebam, os sites de relacionamentos são em menor escala uma espécie de reality show, ignorando esse fato muitas pessoas esquecem de que estão sendo observadas, e expõem suas fraquezas, preferências religiosas, culturais, sociais e até mesmo sexuais. Desse modo cada um a sua maneira vai se “despindo” ao evidenciar sua predileção por determinados assuntos: futebol, política, roupas, maquiagem, filosofia, animais, viagens, religião... Porém, não tem jeito, assim que o sujeito se insere nas redes de relacionamentos sua vida privada passa a ser do conhecimento de todos. Tudo acabará sob o julgamento alheio. É quando tudo descamba para a desconstrução do relacionamento civilizado, quando há uma contumaz invasão de privacidade. Então vem a pergunta que não quer calar: por que adicionamos pessoas tão inexpressivas ao nosso modo de viver, se elas estão longe de pertencer ao nosso círculo de amizades ou dos nossos interesses reais, e o pior se não conhecemos minimamente o seu caráter?
Algumas vezes, quando percebo alguns comentários de amigo para amigo, mas perfeitamente dispensáveis pela ocasião e pela exposição à rede, me vem à memória a célebre frase de Rui Barbosa “Amigos e inimigos estão em posições trocadas. Uns nos querem mal, fazem-nos bem. Outros almejam o bem e nos fazem mal.”  

Os Jovens - No entanto, ao observar o comportamento dos jovens à rede se percebe nitidamente que eles sabem melhor lidar com o mundo virtual do que os adultos, e isso, sim, é extremamente positivo, pois seus relacionamentos são mais vaporosos. Creio mesmo que eles sejam mais sociáveis, e por estarem inseridos num mundo mais globalizado e eclético, aprenderam a lidar com as diversidades alheias, e como não costumam “deixar barato”, não mandam indiretas; a resposta é objetiva, sem subterfúgios. Dentro desse contexto, podemos observar uma adaptação mais efetiva e até mesmo produtiva inserida nessa comunicação digital, o que a torna muito mais proveitosa, já que eles não se limitam ao plágio ou mesmo a uma personificação fictícia, mesmo que compartilhem de fantasias ou brincadeiras. Nesse caso, isso significa que essa geração, que praticamente já nasceu dedilhando os teclados de um computador, mostra-se exatamente como parece ser; já em contrapartida os mais velhos buscam inserir conceitos abstratos em sua concretude existencial. Trocando em miúdos, gostam mesmo é de aparecer. E aqui eu preciso concordar com a minha filha quando diz que muitas pessoas costumam dar um crédito real a fatídica pergunta do facebook, “No que você está pensando?”, como se estivessem estiradas no divã de um analista qualquer, compartilhando com ele suas insatisfações e frustrações em tempo real. Assim esses sujeitos vão postando tudo o que lhes vêm à cabeça, sem medir as consequências. Como a vida cotidiana, principalmente a urbana, costuma ser estressante para todos, devido à correria, falta de trabalho, dinheiro, amor, solidariedade, segurança, e também devido ao excesso de expectativas que colocamos em cima de determinadas pessoas, as decepções são praticamente certas, assim o “Facenstein” passa também a ser usado como uma ferramenta de válvula de escape, tornando-se um lugar comum a todos que estão solitários, descontentes, apaixonados... E as páginas viram um diário virtual em tempo real, onde a intenção é não somente desabafar, mas o envio de recados indiretos ou direcionados aos seus desafetos: chefes, colegas de trabalho, amigos, vizinhos, parentes... Contudo é bom lembrar que essa “metralhadora giratória” nem sempre atinge o alvo, e o tiro pode sair pela culatra. Desse modo um amigo virtual pode passar facilmente a um inimigo real.

Então, só para recordar, se você escolheu adicionar alguém, sem ao menos conhecê-lo de fato e não consegue conviver com suas ideias, fotos... cancele sua assinatura, simplesmente. Não dê desenvolvimento ao Facenstein que você mesmo ajudou a criar...
Se gostou do texto por favor não deixe de curtir, comentar ou compartilhar, aqui ou no meu Facenstein!
LUZ E PAZ! 


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Solidão em boa companhia



É
 estranho abordar esse assunto em pleno século XXI, mas a verdade é que a sociedade ainda não aceita a escolha de uma mulher pela “liberdade”, após o divórcio ou separação. É como se ela tivesse ligado o pisca alerta e passasse a avisar as outras, depois de se livrar das correntes, de que uma vida fora do casamento infeliz é possível e aconselhável. Em contrapartida, as casadas são consideradas “plenas”, pois estão sob a tutela do macho que tudo pode e decide. Seguindo essa premissa muitos conhecidos e até mesmo certos amigos passam a “empurrar”, de forma sutil, às vezes nem tanto, algum pretenso candidato, com a óbvia intenção de arrumar a desordem que eles imaginam ser a vida de uma pessoa solteira, ainda mais quando essa já passou pela experiência do casamento ou de algum relacionamento mais duradouro. Para eles eu cito a frase de Friedrich Nietzsche Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….”. A atitude, ainda que em alguns não seja intencional, revela um comportamento machista, onde o macho deve ser o foco principal de toda fêmea humana. O problema dessa maneira de pensar do casamenteiro de plantão está na falta de consciência e na incompreensão de que estar sozinho não significa necessariamente estar solitário. Contudo, o posicionamento expõe um preconceito camuflado contra as separadas, divorciadas e as chamadas “solteironas”, todas passam a sofrer o estigma das encalhadas. Uma mulher sozinha representa, ainda hoje, a independência do sexo masculino e a comprovação de sua própria competência. Não estou dizendo com isso que uma nova (ou novas) tentativa não seja válida, porém nem sempre isso torna-se o objetivo principal na vida de uma mulher “descasada”, e isso sim é o que deve ser respeitado. 

Liberdade de escolha
     O que muitos ignoram é o fato de que após a separação a maioria das mulheres precisa colocar a “casa” em ordem, ou seja, rever alguns posicionamentos, tomar as rédeas novamente de sua própria vida, e então quando há filhos, ela precisa resgatar e reforçar os laços de amor, pois os filhos são os primeiros a sofrer o impacto da dissolução da união dos pais. Diante desses acontecimentos a mulher sente uma necessidade inerente e particular de mergulhar profundamente dentro do seu próprio âmago, é lá que ela encontrará as forças para recomeçar, pois uma ruptura, ainda que desejada, trás uma sensação de fracasso e tende a baixar, logo no começo, a sua autoestima. Somente após esse resgate e a reconstrução de sua identidade é que a mulher descobre estar viva e pronta para a luta. E aqui muitos acreditam que a “batalha” deve ser pela conquista de um novo macho. Ledo engano! Toda a sua ação será de forma a reconquistar seu próprio mundo: filhos, amigos, trabalho...
“Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é necessário ser um”.
Fernando Pessoa


      No entanto, essa nova mulher provoca uma inquietante e alienada sensação naquelas que temem passar pela mesma situação, isto é, a metamorfose, nesse caso, é sempre um processo doloroso, e encarar a vida de frente e sozinha provoca calafrios em qualquer pessoa, por isso muitas optam por manter as aparências, levando o casamento de fachada até o fim dos seus dias. Além disso, um relacionamento estável dá ao casal a condição única de identidade dentro da sociedade patriarcal em que vivemos, e como eu já disse antes, a separação costuma derrubar todas as crenças e romper conceitos pré-estabelecidos, separando de ambos uma convivência mais amiúde com a família do outro. Em suma nada mais será como antes, e assim deve ser, até porque a possibilidade de inserção de outras pessoas é dada como certa, principalmente na vida dos homens, que conforme indicações de estudiosos costumam refazer suas vidas mais rapidamente. Mas, voltando ao tema que me levou a escrever esta postagem, a mulher sozinha volta à tona revigorada, mais confiante em sua capacidade de recomeço, e não necessariamente trás escrito à testa “mulher solteira procura”... Diante desse argumento fica fácil entender que ela busca pelo autoconhecimento. Evidentemente não sou contra, nem mesmo julgo aquelas que saem à procura de novos “amores”. Entretanto não se pode ignorar que a maioria após a dissolução conjugal opta por qualidade, já que muito provavelmente o relacionamento anterior não contava com esse predicado. A pergunta que não quer calar é a seguinte: por que as pessoas acreditam que uma mulher sozinha pode estar infeliz? A felicidade é somente um estado de espírito. Na minha particular maneira de perceber a vida, observo um medo irracional da solidão, quando muitas pessoas estão mais solitárias acompanhadas do que se estivessem efetivamente solteiras. Aliás, a disponibilidade para novos relacionamentos não parece ser condição básica para impedir certos parceiros de manter relacionamentos paralelos, haja vista o número cada vez maior e crescente de traições. E isto sim é uma atitude covarde de alguém que não consegue enfrentar a falida união, seja pela religião, pelo patrimônio, pelos filhos e muito provavelmente pelo próprio comodismo. Embora estejamos sujeitos a nos apaixonar por alguém comprometido, até porque o amor não escolhe hora nem lugar - basta que uma centelha seja despertada pela convivência, pelo ardor da admiração, pelo desejo e pela própria amizade - o que deve permanecer em relação ao outro é a honestidade. Do que adianta vivermos ao lado de outro em sacrifício pelos filhos, pela sociedade... quando o coração pulsa na presença de outro. A questão é que o amor se não for regado constantemente murcha e faz padecer todos os envolvidos.
Que as minhas pegadas encontrem seu destino

Diante desses argumentos a lição que fica é de que não devemos colocar nossa felicidade nas mãos de uma única pessoa, somos nós os grandes responsáveis pelo deleite de saber aproveitar os melhores momentos da vida, seja na companhia de alguém ou não, por isso finalizo esse texto com a brilhante escritora: Clarice Lispector
“Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo”. 


terça-feira, 24 de julho de 2012

O cordão dos puxa-sacos promove atraso social


A
o que tudo indica, a expressão “puxa-saco” teria se originado a partir de gíria militar, já que os oficiais não colocavam suas roupas em malas, mas em sacos durante as viagens. Contudo, quem carregava, obedientemente, a bagagem para cima e para baixo eram os soldados. Dessa forma, puxar esses sacos virou sinônimo de subserviência, com isso a função passou a definir todos que bajulavam superiores ou qualquer outra pessoa. Desde então eles podem ser encontrados em todos os lugares: nas repartições públicas, no mundo corporativo, nas escolas e até mesmo inserido no próprio ambiente familiar.
  Quase sempre despiciendo, o bajulador precisa “masturbar” o ego alheio, principalmente se a pessoa, em questão, estiver hierarquicamente numa esfera social acima dele. Decorre daí sua fraqueza e uma dedicação exagerada, praticamente pornográfica, em relação ao outro, já que o referido homo sapiens comumente costuma se regozijar com as migalhas que recebe por sua atuação vulgarmente amadora e teatral, onde a verdadeira intenção é esconder sua falta de talento e competência, ainda que estes não sejam uma regra, pois sempre há exceções. Sendo assim o adulador costuma se adaptar ao meio, melhor do que os demais, por isso qualquer tentativa de exterminá-lo torna-se pura perda de tempo. Talvez por esse motivo o malandro tenha ganhado até um dia especial, 20 de dezembro, data limite para o pagamento da segunda parcela do 13º salário. Época, então, propícia para sair à procura do presente de Natal do respectivo chefe, o importante é garantir a tão sonhada  posição de subserviente. Mas é bom lembrar que “Entregar-se às pérfidas insinuações de um adulador, equivale a beber veneno numa taça de ouro”, Demófilo, arcebispo de Constantinopla no período de 370/380 d.C.
   Apesar de não conseguir emitir luz própria, o sujeito parco de talento e qualidades morais faz sua órbita de forma apagada em torno daqueles que irradiam força e determinação. Infelizmente com isso, não raras vezes, o puxa-saco consegue desviar uma trajetória de sucesso, pelo simples fato de ele, temeroso, sentir-se ofuscado pelo brilho de alguém que ele imagina que possa ocupar o seu lugar. E quem já não se sentiu prejudicado por essa criatura que, aproveita-se da escuridão, assim como um vampiro, para sugar a energia vital daqueles que estão à sua volta, não se expondo jamais à luz da verdade? Entretanto, é preciso fazer justiça ao puxa-saco, que só existe porque encontra quem o alimente, nesse caso o adulado, que precisa demasiadamente ter o seu ego massageado com frequência, porque é tão inseguro e arrogante quanto o próprio despiciendo, já que não consegue lidar com a possibilidade de fracasso ou rejeição às suas ideias, situação que denota em ambos, bajulador e bajulado, as mesmas características: fraqueza, oportunismo, baixa autoestima, insegurança e ignorância. No entanto, Marques Rebelo, jornalista brasileiro, dizia que “Adular não é meio de vida, mas ajuda a viver”. 
    Contudo, estudos indicam que é na crise que o vírus do “puxa-saquismo” se reproduz. Assim, com um ambiente propício, onde os ânimos se acirram e a competitividade exagerada cresce de forma desordenada, mesmo aqueles que pareciam imunes a tal comportamento, passam a desenvolver aspectos semelhantes. É provável que o filósofo grego, Epicteto, tenha percebido o quanto é tênue a linha que separa a vida profissional da vida pessoal, por isso fez o alerta de que Um adulador parece-se com um amigo, como um lobo se parece com um cão. Cuida, pois, em não admitir inadvertidamente, na tua casa, lobos famintos em vez de cães de guarda.” 
   Em suma, o puxa-saco é, de maneira singular ou pluralista, tão nefasto para o ambiente social e econômico, quanto a própria corrupção, porque contribui de forma particular para que não haja vitória dos justos. Ele só tem um objetivo: cuidar do próprio umbigo. Por isso Cada frase do adulador é composta de um sujeito, um predicado e um cumprimento.”, Georges Clemenceau, jornalista, médico e estadista francês. Assim sendo, o adulador passa a vida nas sombras sorvendo o “sangue bom” dos competentes, enquanto onaniza o ego dos seus superiores, que personificam e incentivam para o aumento substancial do cordão dos puxa-sacos, cujo comportamento repulsivo acaba contaminando o caráter dos fracos e desmotivando os demais: profissionais talentosos, de fato, que não precisam se valer desses estratagemas para alçarem sucesso, quando não são descobertos e ceifados pelo pérfido bajulador, que com isso costuma tornar a vida no habitat natural de trabalho um verdadeiro inferno, quando alardeia boatos, se apodera de ideias e projetos que não são seus, faz intrigas com o intuito de semear a discórdia, desestabilizando o ambiente. O problema é que não existe, em toda a medicina, um antídoto para combater esse mal, que apesar de, em certos casos, a gravidade da situação ser quase "patológica". Enquanto isso o vírus, que há tanto tempo contaminou o ser humano, continua a fazer vítimas em todos os cantos do planeta, principalmente nos lugares onde a educação e a cidadania são relegadas à posição de inferioridade nas esferas do desenvolvimento social. Diante disso, como diria a Rainha de Copas, assim que for detectado o pusilâmine sujeito, metaforicamente, "Cortam-lhe a cabeça!"
                                                                                                               

sábado, 21 de julho de 2012

Amigos X Amigos


Ao
 longo do tempo fui aprendendo a valorizar somente as coisas “palpáveis” da vida, ou melhor, fui abandonando paulatinamente as demagogias. No entanto, até mesmo decisões como esta têm seu preço, pois ao deixarmos as hipocrisias de lado, passamos à condição de ranzinzas, e talvez esse seja o sinal mais evidente de que estamos envelhecendo ao passo que ficamos mais seletivos. “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados”, Confúcio.
Entretanto, esta semana me envolvi numa polêmica, sem querer, ao decidir responder um e-mail que já havia recebido em outras ocasiões. A mensagem, cujas imagens mostravam várias pessoas – mulheres – nas mais variadas fases de suas vidas, afirmava que temos uma amiga para cada ocasião: para viajar, chorar, ir ao cinema, comprar, rir... Concordo que não há uma pessoa igual à outra, e que pode haver, de fato, num determinado momento, uma identificação maior com uma amiga do que com outra, dependendo do contexto e da situação. Pois enquanto profissional da comunicação, muitas vezes tenho a necessidade de conversar com outras pessoas da mesma área, até mesmo para uma troca de experiência. Contudo, essa igualdade existente na humanidade explica a diversidade como resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de evolução. Assim é normal que em nossas relações sociais busquemos indivíduos que compartilhem das nossas afinidades. Isso para o ser humano é muito enriquecedor, pois permite o seu desenvolvimento social e intelectual.
No entanto, discordo completamente dessa ideia de que para cada momento na vida há um amigo oportuno. Isso é o mesmo que afiançar que a amizade pode ser fracionada. É como dizer que não se tem nunca alguém por inteiro.  Então quando eu estiver com problema profissional devo procurar uma amiga da mesma área, outra quando estiver desiludida da vida, outra para discutir sobre decoração, filhos, amores... A isso eu chamaria de conveniência e não de amizade. É óbvio que com cada pessoa com quem nos relacionamos os assuntos são diferentes, pois cada uma tem a sua própria história, cultura, conhecimento... Contudo, nós continuamos intrinsecamente sendo os mesmos. Com isso devo concluir que um amigo com quem converso sobre jardinagem não poderá dialogar sobre problemas existenciais? Talvez não, pois é provável que ele nem seja meu amigo, e sim um colega ou ainda um amigo eventual. Eis a questão: comumente amizades aleatórias são elevadas ao mesmo patamar de amizades construídas pelo tempo, fundamentadas sob  estruturas sólidas, alicerçadas na confiança e na transparência. A amizade não pode ser pontuada por conveniência e ainda menos por condicionamentos  culturais, por isso concordo com a frase “Os amigos têm tudo em comum, e a amizade é a igualdade”, Pitágoras.  Amigo, como diz o velho ditado, é “pau pra toda obra”, ele se dignifica a escutar sempre, e não somente o que e quando lhe convém. Ele deve respeitá-lo, amá-lo, também, na chatice e na doença, na alegria e na tristeza... Ele precisa, ainda, sempre que possível, estar presente e ser participativo. A amizade é igual a uma planta: necessita, pelos seus jardineiros, constantemente ser adubada, regada, caso contrário não há como mantê-la viva. Assim, para que não morra com o tempo “Não deixes crescer a erva no caminho da amizade.”, Platão.
E nesse dia 20 de julho, data comemorativa ao Dia do Amigo, o que mais se viu nos sites de relacionamentos foram frases prontas, homenagens... todas emitindo um eco estridente ao enaltecer a importância dos amigos, sejam eles reais, virtuais ou ornamentais. Com isso nada mais resta do que deduzir que a frase do marquês e escritor francês, Luc de Clapiers Vauvenargues “O ódio dos fracos não é tão perigoso como a sua amizade, faz todo o sentido, neste momento atual da humanidade. Porém, devido a nossa herança cultural fomos acostumados a reagir contra todos aqueles que fogem dos padrões aceitos pela maioria da comunidade, por isso experimentei a rejeição aos meus argumentos, quando senti a necessidade de responder ao tal e-mail, ainda que a pessoa que me enviou, esteja muito longe de merecer qualquer tipo crítica, o problema é que ao expor a minha opinião a ela, acabei enviando para os outros “amigos”, também, através de cópia oculta, o que acabou gerando um mal estar, pois a maioria entendeu que eu não os considerava amigos verdadeiros, fato que eu imaginava que muitos até soubessem, pois nada entre nós evidencia o referido sentimento. No entanto, isso não significa dizer que eu não gosto dessas pessoas, ao contrário, tenho por todas elas enorme consideração. E cada uma tem sua relevante participação na minha vida. Ainda assim só consigo chamar de amigo aquele com quem eu divido minhas preocupações, neuroses, loucuras, medos, decepções e obviamente minhas alegrias... E isso é fazer justiça a quem de forma efetiva está sempre ao meu lado, se dispondo a ouvir, a apoiar e, principalmente a manter a consolidação da relação.
Em suma, amigos verdadeiros são aqueles, como diria um velho amigo dos tempos da faculdade, que costumam usar o “capacho” colocados à entrada de nossas portas, de casa... “Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você”, Kim Hubbard, jornalista americano. Concordo, portanto, inteiramente com a frase de Aristóteles Ter muitos amigos é não ter nenhum.” Com isso encerro essa discussão, com o lindo título da música de Oswaldo Montenegro: A Lista.
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
 Sendo assim, FAÇA UMA LISTA!




sábado, 7 de julho de 2012

A magia que veio da fumaça

A
Cleópatra: ela sabia como seduzir
 história evidencia que a arte da perfumaria começou logo que o homem primitivo jogou ao fogo ervas aromáticas. Assim nasceu o perfume, cuja expressão deriva do latim “per fumum” ou “pro fumum”, que significa através da fumaça.  Desde então o homem, por vaidade e/ou superstição, fez uso dessa fragrância nos mais variados segmentos de sua história, seja na vida ou na morte. Já na tumba egípcia de Tutankhamon, arqueólogos descobriram resíduos de unguentos perfumados, usados há mais de três mil anos. Conta a lenda, ainda, que a rainha do Egito, Cleópatra, fervorosa usuária de perfume - cuja base era de óleos extraídos de flores -, teria se utilizado desse artifício para seduzir Marco Antônio e Júlio César. A verdade é que o olfato, esse importante sentido, tem o poder de nos transportar para um mundo de emoções associadas a memórias dos aromas. A antropologia diz que antigamente os odores eram percebidos e valorizados de maneira bem diferente do que atualmente, sendo que algumas escolas antigas de Arte estimulavam seus aprendizes a distinguir as doenças físicas das psicológicas, tão somente pelo odor que a pessoa exalava. Com o perdão do trocadilho, talvez venha daí a raiz da expressão “Não fede nem cheira”. Entretanto, nem tudo são flores na história do perfume, que já foi o grande responsável pela morte de milhares de animais, entre eles os veados almiscareiros, cujo número de mortes chegou a 50 mil, somente no ano de 1900, quando cerca de 1.400 kg do óleo foram coletados. Talvez dentro desse contexto de perversão e loucura para extrair o suprassumo do bálsamo o genial Patrick Süskind, escritor e jornalista alemão, tenha se inspirado para escrever o romance O Perfume - A História de um Assassino, que acabou ganhando, em 2006, as telas do cinema. 
       Entretanto, apesar dos apelos afrodisíacos que a maioria das fragrâncias traz em sua composição, há quem não se deixe “contagiar” pelo seu poder olfativo, preferindo assim o odor natural, o que, em tempos remotos, pôde ser comprovado através da famosa carta de Napoleão Bonaparte à sua amada Josefina, dois meses antes de retornar: “Pare de tomar banho! Estou voltando”. O que indica que ele gostava mesmo era de um mau cheiro. Inhaca! Há gosto pra tudo! Porém, bem mais limpinho parecia ser o profeta Maomé que teria dito: “Três coisas são importantes para mim na Terra: mulheres, perfumes e orações”. Já em outra ocasião teria declarado: “O perfume é o alimento que nutre meus pensamentos”.
       Mas o que revelar da personalidade de uma pessoa, somente pelo perfume que está usando, isso seria possível? Não creio que haja uma resposta definitiva para essa pergunta, porém acredito que a total falta de gosto pelos perfumes revele enfim algum traço típico no indivíduo. Embora seja fácil sabermos a classe social a que pertence uma pessoa “bem perfumada”, já que alguns perfumes atingem valores exorbitantes. De uma forma particular gosto de comparar as fragrâncias às músicas, onde as “notas” se mesclam, e através da percepção singular de cada ser em si é possível conhecer um pouco mais da sua essência, sem preconceito. A individualidade das fragrâncias tem a capacidade de nos remeter, assim como uma música, a lugares e momentos que marcaram nossas vidas, por trazer à memória essas ocasiões especiais e únicas.
Clive Christian’s Imperial Majesty
 R$365.500,00
      Assim leves ou encorpados, florais ou amadeirados, aldeídos ou sintéticos... os perfumes devem ser usados, segundo recomendação de quem entende do assunto, nos lugares onde existe maior circulação sanguínea e mais calor: atrás dos joelhos; entre o braço e antebraço; atrás das orelhas e no pescoço. No entanto, torna-se imperativo lembrar que mesmo que o seu perfume seja “top de linha” o menos é mais, assim evite os excessos, principalmente se for permanecer por muito tempo em lugares fechados, para evitar comentários desagradáveis. Marque sua presença sensitiva de forma sutil e harmoniosa. Assim jamais será esquecida. Agora torna-se fundamental a escolha de um bom perfume. Contudo, não adianta se guarnecer de perfumes caros quando a alma e o caráter estiverem bolorentos, pois, segundo alguns especialistas, as fragrâncias exalam um pouco da essência natural daqueles que fazem uso delas. Lembre-se ainda que sem banho d'água não há perfume que dê jeito, o "tiro" nesse caso pode sair pela culatra, e aí não tem fragrância que resolva.

      E como diria a cantora brasileira Elba Ramalho: Um banho de cheiro pra vocês que por aqui passaram...