sábado, 21 de julho de 2012

Amigos X Amigos


Ao
 longo do tempo fui aprendendo a valorizar somente as coisas “palpáveis” da vida, ou melhor, fui abandonando paulatinamente as demagogias. No entanto, até mesmo decisões como esta têm seu preço, pois ao deixarmos as hipocrisias de lado, passamos à condição de ranzinzas, e talvez esse seja o sinal mais evidente de que estamos envelhecendo ao passo que ficamos mais seletivos. “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados”, Confúcio.
Entretanto, esta semana me envolvi numa polêmica, sem querer, ao decidir responder um e-mail que já havia recebido em outras ocasiões. A mensagem, cujas imagens mostravam várias pessoas – mulheres – nas mais variadas fases de suas vidas, afirmava que temos uma amiga para cada ocasião: para viajar, chorar, ir ao cinema, comprar, rir... Concordo que não há uma pessoa igual à outra, e que pode haver, de fato, num determinado momento, uma identificação maior com uma amiga do que com outra, dependendo do contexto e da situação. Pois enquanto profissional da comunicação, muitas vezes tenho a necessidade de conversar com outras pessoas da mesma área, até mesmo para uma troca de experiência. Contudo, essa igualdade existente na humanidade explica a diversidade como resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de evolução. Assim é normal que em nossas relações sociais busquemos indivíduos que compartilhem das nossas afinidades. Isso para o ser humano é muito enriquecedor, pois permite o seu desenvolvimento social e intelectual.
No entanto, discordo completamente dessa ideia de que para cada momento na vida há um amigo oportuno. Isso é o mesmo que afiançar que a amizade pode ser fracionada. É como dizer que não se tem nunca alguém por inteiro.  Então quando eu estiver com problema profissional devo procurar uma amiga da mesma área, outra quando estiver desiludida da vida, outra para discutir sobre decoração, filhos, amores... A isso eu chamaria de conveniência e não de amizade. É óbvio que com cada pessoa com quem nos relacionamos os assuntos são diferentes, pois cada uma tem a sua própria história, cultura, conhecimento... Contudo, nós continuamos intrinsecamente sendo os mesmos. Com isso devo concluir que um amigo com quem converso sobre jardinagem não poderá dialogar sobre problemas existenciais? Talvez não, pois é provável que ele nem seja meu amigo, e sim um colega ou ainda um amigo eventual. Eis a questão: comumente amizades aleatórias são elevadas ao mesmo patamar de amizades construídas pelo tempo, fundamentadas sob  estruturas sólidas, alicerçadas na confiança e na transparência. A amizade não pode ser pontuada por conveniência e ainda menos por condicionamentos  culturais, por isso concordo com a frase “Os amigos têm tudo em comum, e a amizade é a igualdade”, Pitágoras.  Amigo, como diz o velho ditado, é “pau pra toda obra”, ele se dignifica a escutar sempre, e não somente o que e quando lhe convém. Ele deve respeitá-lo, amá-lo, também, na chatice e na doença, na alegria e na tristeza... Ele precisa, ainda, sempre que possível, estar presente e ser participativo. A amizade é igual a uma planta: necessita, pelos seus jardineiros, constantemente ser adubada, regada, caso contrário não há como mantê-la viva. Assim, para que não morra com o tempo “Não deixes crescer a erva no caminho da amizade.”, Platão.
E nesse dia 20 de julho, data comemorativa ao Dia do Amigo, o que mais se viu nos sites de relacionamentos foram frases prontas, homenagens... todas emitindo um eco estridente ao enaltecer a importância dos amigos, sejam eles reais, virtuais ou ornamentais. Com isso nada mais resta do que deduzir que a frase do marquês e escritor francês, Luc de Clapiers Vauvenargues “O ódio dos fracos não é tão perigoso como a sua amizade, faz todo o sentido, neste momento atual da humanidade. Porém, devido a nossa herança cultural fomos acostumados a reagir contra todos aqueles que fogem dos padrões aceitos pela maioria da comunidade, por isso experimentei a rejeição aos meus argumentos, quando senti a necessidade de responder ao tal e-mail, ainda que a pessoa que me enviou, esteja muito longe de merecer qualquer tipo crítica, o problema é que ao expor a minha opinião a ela, acabei enviando para os outros “amigos”, também, através de cópia oculta, o que acabou gerando um mal estar, pois a maioria entendeu que eu não os considerava amigos verdadeiros, fato que eu imaginava que muitos até soubessem, pois nada entre nós evidencia o referido sentimento. No entanto, isso não significa dizer que eu não gosto dessas pessoas, ao contrário, tenho por todas elas enorme consideração. E cada uma tem sua relevante participação na minha vida. Ainda assim só consigo chamar de amigo aquele com quem eu divido minhas preocupações, neuroses, loucuras, medos, decepções e obviamente minhas alegrias... E isso é fazer justiça a quem de forma efetiva está sempre ao meu lado, se dispondo a ouvir, a apoiar e, principalmente a manter a consolidação da relação.
Em suma, amigos verdadeiros são aqueles, como diria um velho amigo dos tempos da faculdade, que costumam usar o “capacho” colocados à entrada de nossas portas, de casa... “Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você”, Kim Hubbard, jornalista americano. Concordo, portanto, inteiramente com a frase de Aristóteles Ter muitos amigos é não ter nenhum.” Com isso encerro essa discussão, com o lindo título da música de Oswaldo Montenegro: A Lista.
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
 Sendo assim, FAÇA UMA LISTA!




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