longo do tempo fui aprendendo a valorizar
somente as coisas “palpáveis” da vida, ou melhor, fui abandonando paulatinamente
as demagogias. No entanto, até mesmo decisões como esta têm seu preço, pois ao
deixarmos as hipocrisias de lado, passamos à condição de ranzinzas, e talvez
esse seja o sinal mais evidente de que estamos envelhecendo ao passo que ficamos mais seletivos. “A
natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados”,
Confúcio.
Entretanto,
esta semana me envolvi numa polêmica, sem querer, ao decidir responder um
e-mail que já havia recebido em outras ocasiões. A mensagem, cujas imagens
mostravam várias pessoas – mulheres – nas mais variadas fases de suas vidas, afirmava
que temos uma amiga para cada ocasião: para viajar, chorar, ir ao cinema, comprar,
rir... Concordo que não há uma pessoa igual à outra, e que pode haver, de fato,
num determinado momento, uma identificação maior com uma amiga do que com outra,
dependendo do contexto e da situação. Pois enquanto profissional da
comunicação, muitas vezes tenho a necessidade de conversar com outras pessoas
da mesma área, até mesmo para uma troca de experiência. Contudo, essa igualdade
existente na humanidade explica a diversidade como resultado da desigualdade
de estágios existentes no processo de evolução. Assim é normal que em nossas
relações sociais busquemos indivíduos que compartilhem das nossas afinidades. Isso
para o ser humano é muito enriquecedor, pois permite o seu desenvolvimento social e
intelectual.
No
entanto, discordo completamente dessa ideia de que para cada momento na vida há
um amigo oportuno. Isso é o mesmo que afiançar que a amizade pode ser
fracionada. É como dizer que não se tem nunca alguém por inteiro. Então quando eu estiver com problema profissional devo procurar uma amiga da mesma área, outra quando estiver desiludida da vida,
outra para discutir sobre decoração, filhos, amores... A isso eu chamaria de conveniência e não de amizade. É óbvio que com cada
pessoa com quem nos relacionamos os assuntos são diferentes, pois cada uma tem
a sua própria história, cultura, conhecimento... Contudo, nós continuamos intrinsecamente
sendo os mesmos. Com isso devo concluir que um amigo com quem converso
sobre jardinagem não poderá dialogar sobre problemas existenciais? Talvez não,
pois é provável que ele nem seja meu amigo, e sim um colega ou ainda um amigo
eventual. Eis a questão: comumente amizades aleatórias são elevadas ao mesmo
patamar de amizades construídas pelo tempo, fundamentadas sob estruturas
sólidas, alicerçadas na confiança e na transparência. A amizade não pode ser
pontuada por conveniência e ainda menos por condicionamentos culturais, por isso concordo com a frase “Os amigos têm
tudo em comum, e a amizade é a igualdade”, Pitágoras. Amigo, como diz o velho ditado, é “pau pra
toda obra”, ele se dignifica a escutar sempre, e não somente o que e quando lhe
convém. Ele deve respeitá-lo, amá-lo, também, na chatice e na doença, na
alegria e na tristeza... Ele precisa, ainda, sempre que possível, estar
presente e ser participativo. A amizade é igual a uma planta: necessita, pelos seus
jardineiros, constantemente ser adubada, regada, caso contrário não há como
mantê-la viva. Assim, para que não morra com o tempo “Não deixes crescer a erva no
caminho da amizade.”, Platão.
E
nesse dia 20 de julho, data comemorativa ao Dia do Amigo, o que mais se viu nos
sites de relacionamentos foram frases prontas, homenagens... todas emitindo um
eco estridente ao enaltecer a importância dos amigos, sejam eles reais,
virtuais ou ornamentais. Com isso nada mais resta do que deduzir que a frase do
marquês e escritor francês, Luc de
Clapiers Vauvenargues “O ódio dos
fracos não é tão perigoso como a sua amizade”,
faz todo o sentido, neste momento atual da humanidade. Porém, devido a nossa
herança cultural fomos acostumados a reagir contra todos aqueles que fogem dos
padrões aceitos pela maioria da comunidade, por isso experimentei a rejeição aos
meus argumentos, quando senti a necessidade de responder ao tal e-mail, ainda
que a pessoa que me enviou, esteja muito longe de merecer qualquer tipo
crítica, o problema é que ao expor a minha opinião a ela, acabei enviando para
os outros “amigos”, também, através de cópia oculta, o que acabou gerando um
mal estar, pois a maioria entendeu que eu não os considerava amigos
verdadeiros, fato que eu imaginava que muitos até soubessem, pois nada entre nós evidencia o referido sentimento. No entanto, isso não
significa dizer que eu não gosto dessas pessoas, ao contrário, tenho por todas
elas enorme consideração. E cada uma tem sua relevante participação na
minha vida. Ainda assim só consigo chamar de amigo aquele com quem eu divido
minhas preocupações, neuroses, loucuras, medos, decepções e
obviamente minhas alegrias... E isso é fazer justiça a quem de forma efetiva está sempre ao meu lado, se dispondo a ouvir, a apoiar e, principalmente a manter a consolidação da relação.
Em
suma, amigos verdadeiros são aqueles, como diria um velho amigo dos tempos da
faculdade, que costumam usar o “capacho” colocados à entrada de nossas
portas, de casa... “Amigo é aquele
que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você”, Kim Hubbard, jornalista americano. Concordo,
portanto, inteiramente com a frase de Aristóteles
“Ter muitos amigos é não ter nenhum.” Com
isso encerro essa discussão, com o lindo título da música de Oswaldo Montenegro: A Lista.
♪Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Sendo assim, FAÇA UMA LISTA!
Nenhum comentário:
Postar um comentário