quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

DEUS... ÁRVORE DA VIDA

*A fé não cresce na casa da certeza...  



Nesse feriadão de carnaval aproveitei para colocar a leitura em dia, havia algum tempo que eu desejava ler tranquilamente, sem ser interrompida pelos compromissos. E assim, consegui ler dois livros, um deles, por recomendação de um amigo, é o famoso best-seller A Cabana, do escritor canadense William P. Young. No início não sabia bem o que esperar da narrativa de Young, temi que fosse mais um besteirol apelativo. Mas logo, como há muito tempo não acontecia peguei-me “devorando” páginas e páginas da distinta obra, dessa forma, em pouco menos de oito horas, terminei a leitura. Vou tentar aqui não estragar a expectativa de quem tiver a intenção de ler esse famoso best-seller.
A verdade é que depois que finalizei a leitura não consegui esquecer sua narrativa, nem tão pouco as diversas passagens onde o protagonista - um pai atormentado pelo assassinato de sua filha caçula - encontra-se com a “Trindade”, na mesma cabana onde sua filha fora morta, por um serial killer, alguns anos antes.
Numa positiva tentativa de desfazer essa imagem “comum” que temos do Pai zangado e impiedoso e do seu Filho, um Homem bonzinho e obediente, o escritor nos leva a um universo possível e perfeito, onde o amor harmonioso e respeitoso se sobrepõe a tudo. 
Os diálogos me surpreenderam muito, pelo simples motivo de que naquele lugar – a cabana - havia um Deus muito parecido com o meu, isto é, Àquele a quem diariamente dedico minhas orações, um Ser benevolente, amigo e, principalmente, “transcendental”, capaz de amar ilimitadamente sem preconceitos ou pré-julgamentos. No entanto, foi difícil conter as lágrimas, nos diversos trechos onde o personagem central luta contras os seus paradigmas numa batalha espiritual com “Papai”. Confesso que por diversas vezes me emocionei, e como mãe não foi difícil me colocar no lugar daquele ser humano, cuja dor no peito lhe dilacerava a alma, deixando um vazio e “A Grande Tristeza” pela partida precoce de sua filhinha de seis anos de idade.

 Entre as várias questões impactantes, o personagem central do livro, em dado momento, é levado, através de um diálogo entre ele e Sophia, a personificação da sabedoria de Deus, a refletir sobre a natureza humana e a essência do perdão, quando pergunta a ela “Se Deus nos ama e cuida de nós, então, por que Ele permite que tragédias tão horríveis aconteçam na vida de gente do bem?”
A partir de então passei a me perguntar como seria a minha reação diante dEle, quais seriam as perguntas que eu lhe faria. Algumas delas o autor, através do Mackenzie, perguntou por mim. Porém, nem todas as respostas me satisfizeram, plenamente, mas se aproximaram muito da resposta que eu imagino que Deus daria. Outras perguntas estão gritando na alma, assim fico aguardando a minha hora de ter uma audiência particular com Ele, para poder Lhe perguntar por que a minha irmãzinha partiu tão cedo, de forma tão abrupta, com quatro anos de idade, quando eu, então, na época, contava com os meus oito anos e, além da minha própria dor infantil, precisei testemunhar e compartilhar da consternação dos meus pais. Por que ela e não eu? Para quem fica permanece o benefício da culpa.
Voltando ao livro, apesar da excelente leitura, algumas coisas, o que já era de se esperar, já que essa é uma obra de “ficção”, ficaram vagas, como na parte que é dito que “As responsabilidades e as expectativas são a base para a culpa, a vergonha e o julgamento. Eles fornecem a estrutura que faz do comportamento a base para a identidade de alguém e o valor de alguém”. Aqui, eu sou obrigada a discordar com a primeira intenção, já que acredito que devemos, sim, assumir perante qualquer relacionamento nossa responsabilidade, no entanto, concordo que gerar expectativas só serve para facilitar uma futura e óbvia decepção, já que é muito difícil atender as expectativas de alguém ou fazer com que as nossas próprias sejam acolhidas. Entretanto outros trechos como: “Jamais desconsidere a maravilha de suas lágrimas. Elas podem ser águas curativas e uma fonte de alegria. Algumas vezes são melhores palavras que o coração pode falar” e “As mentiras são um dos lugares mais fáceis para onde os sobreviventes correm”, me impactaram bastante.
O grande desafio do escritor foi a condução hábil do personagem principal até o ponto de fazê-lo perdoar aquele que produzira tamanha chaga em seu coração, fazendo-o entender no decorrer da narrativa que "O perdão existe em primeiro lugar para aquele que perdoa, para libertá-lo de algo que vai destruí-lo, que vai acabar com sua alegria e capacidade de amar integral e abertamente..." e que Só porque você acredita firmemente numa coisa não significa que ela seja verdadeira”.
Contudo, você deve lembrar que no início desse texto eu afirmei que havia lido dois livros, este segundo intitula-se de O Quarto Reino, escrito pelo escritor espanhol, Francesc Miralles, cuja história leva uma possível busca ao Graal, assim como outro que eu comecei a ler no ano passado – sem ter concluído ainda - sob o título de O Graal da Serpente, dos escritores Philip Gardiner e Gary Osborn, ambos “americanos”.
Portanto, ao fazer uma “conexão livre” entre os três livros, cheguei à conclusão de que o Homem, à medida que perde os seus valores e a sua fé, está cada vez mais à procura de Deus, mesmo que faça isso inconscientemente. Mas onde afinal de contas Ele está? Tenho pensado muito nesse assunto, ultimamente. Assim encontrei o paradeiro do “meu” Graal, particular, que para mim significa a Árvore da Vida. E nela Deus reside. Não numa árvore específica, mas dentro de todas elas. Já que Ele está em todo lugar, nada mais normal que Ele seja o elemento fundamental à vida: a Árvore. Ela serve de abrigo, fornece sombra, remédios, pode matar a fome dos mais variados animais, aquece, segura a terra, fornece a chuva... são tantas as suas aplicações e benesses que fica difícil exemplificar a todas, e através de sua madeira, está em todos os lugares, assim como Deus, que tem como filho preferido o nosso irmão carpinteiro, cujo ofício era trabalhar a madeira, ou trabalhar com “Papai”. Coincidência?
 Em resumo, dentro desse contexto, intrinsecamente creio que a natureza é o Graal tão cobiçado. Essa mesma que nós, seus filhos, de forma relapsa e abusiva estamos destruindo, sem saber que com isso estamos liquidando as gerações futuras, as dos nossos filhos. 
Eis o meu Deus, presente em cada árvore da vida. Talvez por isso, ainda quando criança, eu adorava regar as plantas do nosso jardim e quintal, enquanto conversava com elas mentalmente, imaginando que elas me agradeciam pela gentileza.
 Criança é sábia por natureza.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O gato, o garoto e a vizinha


Este bem que poderia ser o título de algum livro, porém está é uma história verídica, ocorrida hoje, ao meio dia, no bairro onde moro, sob um sol escaldante, onde a temperatura registrava aproximadamente 40°C à sombra. 
Tudo começou quando alguns vizinhos perceberam em cima de um chalé, cujos donos estavam ausentes, a presença de um lindo gato amarelo, cujo miado evidenciava o desespero do bichano que conseguira subir a uns 20 metros de altura, porém não conseguiu descer devido a presença, no pátio da residência, de alguns cachorros, um deles da raça rottweiler. No pescoço o belo felino trazia uma coleira com alguns sininhos pendurados - se a intenção de quem colocara aquele adorno era encontrá-lo facilmente, o intento deve ser repensado.

Aqui começa essa história... O primeiro passo dos moradores, comovidos com a precária situação do animal, foi acionar os bombeiros que afirmaram que nada poderiam fazer naquele momento, alegando que estavam sem os equipamentos apropriados para efetuar o resgate. O principal jornal da cidade também foi avisado, porém a pessoa que atendeu a ligação afirmou que passaria o caso ao chefe de reportagem... (?) Acreditava-se que, com a presença da imprensa no local, aumentariam as chances de os órgãos competentes - bombeiros, secretaria do meio ambiente, guarda civil... – se interessarem pelo fato e assim consequentemente tomarem alguma providência, no sentido de libertar o pobre bicho daquela situação agonizante, afinal de contas ele havia passado a noite anterior “miando por socorro”. Mas diante do descaso generalizado, já que um gato sofrendo em cima de um telhado abrasador, sob o escaldante sol de verão, parece não ter nenhuma relevância àqueles que deveriam garantir um mínimo de dignidade e solidariedade ao animal, a mobilização – "operação salva gato" - precisou partir dos próprios moradores das redondezas. Pessoas valorosas dignas de receberem todas as honrarias, cujo merecimento está justamente em atitudes altruístas em prol da vida, seja ela humana ou não, já que todos somos filhos dessa Terra e criaturas de Deus.
Entretanto, para quem assistia aquela lamentável cena, sem nada, efetivamente, poder fazer, restava a angústia e a sensação de impotência, além da certeza de que muita gente não sabe amar ou ignora o real significado que tem essa palavra, pois quem não consegue se comover com tal situação certamente não têm bons sentimentos. Enquanto isso o pobre felino se lambia compulsivamente, tentando com sua saliva fazer um isolamento térmico, mantendo assim o corpo e a pele resfriados, com o intuito de impedir o aumento da temperatura corpórea e evitar queimaduras, conforme explicou, mais tarde, a médica veterinária Carine Rosa Silva, da Colônia Animal.
No entanto, foi a atitude desesperada e corajosa e a indignação verdadeira de duas mulheres, Vanessa dos Santos Fagundes, e da mãe dela, conhecida pelo codinome de Maninha - ambas minhas vizinhas -, aliada a bravura de um garoto de 18 anos, Douglas Silva da Silva, a quem Vanessa pediu socorro, que mudaram o desfecho trágico dessa história, já que o pobre bichano começava a dar sinais de esgotamento físico.
Persuadido a colaborar com aquela nobre causa, o valente rapaz, mesmo ciente do perigo a que se submeteria, arriscou-se a subir no inclinado telhado quente, coberto por telhas esmaltadas, onde qualquer deslize o levaria ao chão, com cachorros enfurecidos a espera tanto dele quanto do já combalido gato. A quem assistia a cena só restava rezar, pedindo a Deus que protegesse ambos, o rapaz e o gato. Todo cuidado naquele momento era pouco, uma pisada em falso e o desfecho poderia ser fatal. O gato, ao perceber a presença do aguerrido jovem, espantosamente, se deixou capturar, facilitando dessa forma o seu resgate. Não me lembro de uma ocasião onde a culpa e o medo, pelo jovem, estivessem tão presentes, já que havia a possibilidade de tudo dar errado. Aquela atitude insensata, simplesmente seguida pelo coração, era totalmente irracional, mas quem consegue seguir a razão quando a alma está tão aflita, e observar o pobre bicho cair de cansaço na boca daquelas “feras” estava dilacerando o nosso peito, além de estar fora de questão. Lutar pela vida dele era consenso entre aqueles que a tudo assistiam, para falar a verdade pouquíssimas pessoas, talvez cinco, já que pelo horário muitos estavam em suas casas, almoçando. O que não justifica a falta de empenho de outros. Mas cada um com a sua consciência.

Douglas Silva da Silva: jovem herói
No final tudo deu certo, ou quase, até aparecer a dona do bichano se eximindo de qualquer responsabilidade sobre o incidente. A ela restou a alegria de sair com o bicho no colo, depois que nos mobilizamos para salvá-lo. E agora o caro leitor irá se perguntar, mas por que eu estou relatando esse fato? Eu explico, a minha intenção aqui é homenagear essas pessoas que de fato se uniram com o objetivo de fazer o bem, sem com isso esperar nada em troca. Pessoas que a meu ver são verdadeiras heroínas, diferentemente daquelas que são elevadas a mesma condição sem que jamais tenham feito por merecer tal crédito: só porque fizeram um gol, participaram de algum reality show idiota, ou qualquer outra coisa equivalente e inútil . Contudo, é provável que para a maioria dos seres humanos o salvamento de um gato não signifique absolutamente nada, no entanto “Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade,”  Leonardo da Vinci.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Traição e vingança






S
empre polêmicos e atuais estes dois assuntos, traição e vingança,  trazem à tona uma condição enigmática e complexa do caráter humano, cuja característica é sempre ambígua. Recentemente numa reunião entre amigas, para comemorar o novo “lar doce lar” de uma delas, formou-se um debate espontâneo e genérico sobre esse tema. A discussão abriu portas à probabilidade de algumas de nós sofrermos, em determinado momento da vida, uma grande decepção. Contudo, aqui neste espaço, vou me ater neste primeiro momento, somente a decepção amorosa, mais especificamente a traição, apontada como uma das maiores causas de separação entre os casais. E, segundo definição do jornalista egípcio Leon Eliachar, “O adultério é o que liga três pessoas, sem que uma delas saiba”. E quem já foi enganado sabe que a infidelidade deixa sequelas que se perpetuarão na alma, cujo desencanto pode levar a pessoa traída ao abandono de si mesma e a falta de fé na humanidade, afinal de contas é extremamente doloroso descobrir que sua confiança foi depositada na pessoa errada, ou ainda pior, naquela que você julgava ser a melhor do mundo, e que juntos vocês compartilhavam de recíproca cumplicidade. Então diante dos “novos” e tristes fatos, a desconfiança, a partir daí, passa a ser generalizada, e muitas vezes permeará a vida de quem sofreu tal desilusão. E, aqui começa a controvérsia: dar o troco ou sofrer a decepção da infidelidade em silêncio? A razão diz uma coisa, a mágoa grita outra. E nesse impasse as opiniões alheias geralmente ajudam a decidir a disputa. Se a opção escolhida for a represália, o  traidor sofrerá as consequências da sua falta de caráter, mas essa nem sempre é a escolha acertada, já que costuma trazer mais sofrimento que alento.

  No entanto é preciso entender o motivo que leva o ser humano, em pleno século XXI, a mentir sobre sua vida amorosa. Na realidade ninguém é de ninguém e a velha máxima de que seja eterno enquanto dure é a mais pura verdade. Ainda mais nos tempos da pílula azul, onde o homem “garante um comparecimento seguro” fora de casa, ainda que sob o efeito do milagroso remedinho. Mas não sejamos machistas, numa época em que as mulheres conseguem concluir o ensino superior e se especializam cada vez mais para galgar melhores posições dentro do mercado de trabalho, aumentam as chances de elas também encontrarem alguém interessante, ainda mais quando, dentro de casa, o relacionamento afetivo já não oferece a mesma empolgação (tesão). E, na verdade, o casamento muitas vezes só se sustenta pelos filhos -  o suporte para que ele não desande de vez. E isso ocorre independentemente do modelo social ou econômico, entretanto, no segundo caso quando os problemas financeiros são habituais a relação se desgasta mais rapidamente.
O tocante desse tema está justamente na imagem fantasiosa que temos da pessoa traída, sempre ingênua e frágil – uma palerma, que não foi capaz de ver o que todos ao seu redor já tinham percebido. Aí é que está o cerne da questão: por que os sinais não são detectados? Será que há conveniência nesse padrão comportamental de sujeito enganado? Eu arriscaria dizer que sim. É muito difícil, principalmente para a mulher, sempre tão cheia de “sonhos e castelos encantados” admitir que o príncipe escolhido era somente um sapo, e mesmo que ela tenha percebido o seu coaxar, relutará durante algum tempo contra as evidências. Mas quando ocorre o contrário, quando a mulher se identifica amorosamente com outra pessoa, antes de consumar a traição sexual, ocorre a fuga no plano emocional, isto é, a traição máxima passa a ser o desânimo de estar com alguém a quem ela não mais deseja – diferentemente do seu novo amor. E aqui sucede algo curioso na traição feminina, mesmo que seja baseada em fantasias, a meu ver tem uma sutil intenção de por fim ao relacionamento falido. E, dentro desse contexto, essa talvez seja uma forma velada de as mulheres se vingarem dos seus companheiros relapsos perante a relação conjugal, já que o conceito de traição, nesse caso, é muito subjetivo e particular. A mulher, mesmo ferida, ainda tenta entender o que acarretou tão trágico fim; já o homem interpreta a traição feminina de forma machista, atribuindo a ela um desvio de caráter, se eximindo de qualquer responsabilidade pessoal.
Contudo, vale lembrar que a traição seja masculina ou feminina dilacera a alma e a joga na lama – observem a facilidade em transformar a palavra alma em lama. E é isso o que se faz com os sentimentos daquele que deveria ser respeitado, que ferido e enlodado torna-se irracional. Motivo este que faz eclodir nele um forte desejo de vingança , cuja intenção é o de provocar no outro a mesma dor, ainda que isso venha a expor a ferida não cicatrizada. Entretanto, não se pode esquecer da citação do escritor russo Vassili Vassilievitch Rozanov: “Das grandes traições iniciam-se as grandes renovações”. Portanto não gaste suas energias com quem não foi digno do seu amor ou mesmo da sua piedade, pense que certos acontecimentos, mesmo as decepções afetivas, podem impulsioná-lo a uma nova jornada. E, a princípio, a luz de um recomeço pode até ofuscar sua visão, mas com o passar do tempo a escuridão do passado já não fará o menor sentido.  ASSIM SENDO SEJA FELIZ!