sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Família

D
Sem a família o homem não teria alcançado relevante evolução
esde os primórdios da humanidade, quando ainda nas cavernas, que o homem obtém sua formação dentro da família, é provável que isso tenha ocorrido pela fragilidade de sua natureza humana, já que, sozinho, não conseguiria sobreviver sem a união de forças dos pais e parentes, cujo propósito era garantir à criança pleno desenvolvimento físico e intelectual, transformando-a assim em um ser sociável e preparado para enfrentar as agruras da vida. Dessa forma a família passou a ser a base fundamental que dá sustentação à formação do indivíduo. E aqui a maioria concorda que sem esse suporte tudo se tornaria muito mais difícil. No livro “Casa não é lar”, Ramón Llongueras Arola diz que “a família é o primeiro e principal contexto de socialização dos seres humanos”. Para o antropólogo, professor e filósofo francês, Claude Lévi Strauss a família é um grupo social que tem origem no casamento, é uma união legal com direitos e obrigações econômicas, religiosas, sexuais e de outro tipo. Porém, também está associada a sentimentos como o amor, o afeto, o respeito e/ou o temor. Embora, em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de conservação e reprodução da espécie, atualmente ela passa por um processo de isolamento nuclear, onde se acentua o papel da mãe, na medida em que ela já não conta mais com os parentes para ajudar e, comumente, nem mesmo com o apoio do pai dos seus filhos. No entanto, não quero, aqui nesse espaço, me ater ao papel independente dos pais.
Contudo, há uma classificação bem interessante que indica, de maneira particular, as características existentes dentro desse conceito de família, sendo elas: elementar, extensa, composta, conjugada fraterna e a fantasma, sendo que esta última consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou mãe, e o chamado fantasma, além dos filhos.
Toda família tem suas esquisitices
     Na verdade minha abordagem é muito mais reflexiva, no momento em que procuro entender qual o conceito real de família quando nos referimos à família extensa: pais, avós, filhos, tios, sobrinhos, primos, noras, genros... De forma singela, desde muito cedo, compreendi que os filhos ao saírem da casa dos pais, com o objetivo de unirem-se a alguém, formam sua própria família, deixando para trás sua referência familiar: pais, irmãos... E aqui tudo fica muito subjetivo. Dou relevância a este assunto por entender que as relações de parentesco dentro da propagada base familiar se dá muito mais pela afinidade - conjugada fraterna - do que pelo vínculo consanguíneo – quando descendem do mesmo tronco ancestral. No entanto, sempre observei dentro das famílias elementares e extensas a existência, ainda que velada, de uma rivalidade e até mesmo uma animosidade em relação aos novos agregados – sogros, noras, genros, cunhados, madrastas e padrastos. Pessoas que repentinamente são inseridas no núcleo familiar, e que por isso mesmo passam à condição de parentes da noite para o dia. Essa atitude generalizada tem provocado, ao longo dos séculos, em toda a sociedade muita controvérsia e hostilidade. A literatura está repleta de exemplos “malditos”, onde a hipocrisia da família teve uma atuação tão nefasta que o melhor seria não tê-la, como no caso da trágica história de William Shakespeare, Romeu e Julieta, cuja guerra travada entre duas famílias levou o casal apaixonado à morte. E quem não se lembra dos clássicos contos infantis que evidencia o sofrimento de jovens como a Branca de Neve e da Bela Adormecida, causados por suas odiosas madrastas, que impuseram às pobres moças múltiplos infortúnios, sendo que a última ainda padeceu com a inveja das próprias irmãs. Histórias que revelam que a dor, quando causada por parentes, é muito mais difícil de ser assimilada, já que o normal é que a família proteja e jamais provoque consternação.
A família como instituição desagregadora
     Porém, é bom lembrar que a responsabilidade pelas discórdias nem sempre é da família, muitos agregados, oriundos de outros núcleos familiares, também costumam causar tristezas e decepções, já que à primeira vista a verdadeira face fica oculta, é mais tarde que a máscara costuma cair. Infelizmente esse é um aspecto essencialmente humano. E se alguém ao ler este texto pensou que a minha inspiração veio da Carminha, personagem da novela das nove, que deveria se chamar “Avenida dos Cornos”, se enganou redondamente, ainda que haja certa coincidência, já que a personagem sempre escondeu da família e do próprio marido seu verdadeiro caráter – embora eu não tenha por hábito assistir novelas, conheço o enredo central, por isso logo me lembrei do acaso da história.
Sagrada Família
     Mas o caro leitor deve estar se perguntando aonde eu quero chegar com esse texto. É simples, estou tentando, há muito tempo, entender essa relação intrincada e complexa que leva muita gente a desistir do convívio familiar, isto é, pessoas que se afastam dos parentes, deixando para trás o caos social provocado pelo conflituoso relacionamento, muitas vezes entre seus pares e seus familiares. Assim irmãos, pais, filhos, tios, avós... perdem o contato mútuo por muito tempo, quiçá para sempre, em decorrência  de atitudes questionáveis por ambas as partes. Isso ocorre geralmente pelo excesso de intimidade entre os membros da família, cujos comportamentos conflituosos e contraditórios, além de provocar fofocas, já serviram de inspiração nos anos 90, para o filme do diretor Mario Monicelli “Parente é Serpente”. É óbvio que a intriga é tão antiga quanto o homem. Na História da Roma Antiga, Julio César costumava lançar mão desse artifício pagando pessoas a peso de ouro para espalhar boatos contra seus adversários políticos. Contudo, voltando ao tema proposto, penso que tanto os novos agregados quanto a própria família, ambos, brindes que vêm sem etiqueta de troca, precisam estabelecer limites para que a conexão entre todos pertencentes ao mesmo “clã” fortaleça a convivência familiar. E, para que isso aconteça de fato, o mais importante é que se instituam determinadas regras: como diria uma amiga “cada um no seu quadrado”, já que é inegável que, apesar dos pontuados desentendimentos, a família contribui para a formação social do indivíduo. Entretanto, para que haja uma relação saudável entre todos os parentes, é necessária a adoção de certas medidas: diálogo, respeito, limites e principalmente compreensão. É óbvio que não existe família perfeita, mas quando todos os membros reconhecem a importância de pertencer ao núcleo familiar, desenvolvendo sua responsabilidade em prol de um convívio salutar, todos saem ganhando, principalmente as crianças que, ainda hoje, carecem do afeto dos avós, dos tios, dos primos, dos padrinhos e dos amigos, que passam a compor a grande família.  
    
        

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