essa
semana uma frase chamou a minha atenção, aquelas escritas nos para-choques dos caminhões,
“O homem procura pela verdade, mas quando
a encontra é incapaz de suportá-la”. Receio que essa locução seja, na
maioria das vezes, uma realidade. Quantas vezes nos deparamos com situações onde
a verdade precisou ser suprimida. Muitas vezes besteiras. Mas o suficientemente
grandes para salvar relacionamentos amorosos e amizades. E quem por motivos
profissionais já não foi obrigado a mentir? E aquela famosa dor de cabeça que
apareceu na hora “H”? Ou então aquela reunião de trabalho que precisou se
estender noite adentro? Desculpas “esfarrapadas” que quando “empilhadas” já não
são capazes de conter o desmoronamento inevitável dos vínculos afetivos, cuja
base precisa estar alicerçada sobre estruturas sólidas, sem a corrosão das
mentiras.
Entretanto,
é fato científico que engodos e mentiras são nossos companheiros constantes,
assim como no princípio, agora e, talvez, para sempre. E nem mesmo os nossos “primos”
os chimpanzés, que vivem em bando, escapam do artifício da dissimulação, quando
usam de truques, tapeações e fingimentos para conseguir posição hierárquica, comida
e parceiros sexuais. Mas também eles correm riscos ao tentar ludibriar o grupo,
garantem os biólogos da evolução. Uma vez descobertas suas trapaças, o preço a
pagar é a degradação social, exatamente igual ao que ocorre aos seres humanos.
Será que Adão e Eva não passaram muito tempo observando seus parentes – os macacos
– e com eles aprenderem o ofício da enganação? Ou será que eles também fazem
parte de uma grande mentira, já que não suportaríamos a verdade suprema sobre a
nossa origem? Parafraseando o filósofo francês, René Descartes, “Penso, logo
existo”.
Contudo, contrariando a lógica, a mentira parece ter mais adeptos do que a soberana verdade, já que ganhou até uma
data específica em sua homenagem, o dia 1º de abril. Agora pense se fosse sua
rival a receber o merecido tributo, quem se arriscaria a sair de casa, sabendo
que poderia ouvir e/ou dizer inconveniências. Certamente, nesse único dia, se
conseguiria mais inimigos do que todos os outros dias do ano, já que certas
verdades devem ser suprimidas, até mesmo por uma questão de educação e respeito,
ou ainda porque algumas verdades, de forma velada, podem fazer
sofrer, através das “boas intenções”. Segundo Samuel Langhorne Clemens, escritor e humorista conhecido pelo
pseudônimo de Mark Twain “Algumas pessoas nunca dizem uma mentira - se
souberem que a verdade pode magoar mais.” E isso faz lembrar o dito popular
que diz que de boas intenções o inferno está cheio.
Não
estou aqui tentando difundir a mentira como uma filosofia de vida. Mas o fato
real é que ninguém é totalmente sincero, há sempre, ainda que de uma maneira
sutil, uma situação que nos obriga a faltar com a verdade, mesmo que seja pela
omissão, o que eu acredito que seja a forma mais branda de a humanidade
conseguir conviver em sociedade. Um exemplo disso é quando você descobre que o
seu chefe ou cliente é um perfeito idiota, quando revela seu lado
preconceituoso, autoritário e ignorante. Você, ali diante daquele boçal, cheio
de vontade de dizer-lhe umas verdades, mas pensando no quanto está difícil
pagar suas contas, simplesmente se obriga, quase consentindo com aquele
disparate, a se calar. É a lei da sobrevivência humana. E quem não deseja ser
constantemente enganado, precisa ter a capacidade de descobrir artifícios e enganações
alheias. Ainda que a maioria prefira
aceitar as mentiras que as envaidecem, às verdades que as desagradam, preceitos
que crescem à medida que nos tornamos civilizados. E conforme o crítico social
e jornalista, norte americano, Henry
Mencken “É difícil acreditar que um homem está a
dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele”.
Mas quanto à questão de mentir, temos
ou não esse direito? Acaso não teríamos nós o direito total de liberdade de
ação, isto é, não deveria haver uma “Lei” que nos protegesse pela forma como repudiamos
e negamos a mentira? Certamente as pessoas entrariam em conflitos diários. O
colapso seria atribuído as nossas diferenças individuais, culturais, sociais...
E é por isso que os nossos pensamentos são
apreciados somente pela nossa consciência particular. Já imaginou se pudessem ser lidos! Você
decide sair com aquela sua roupa predileta e todos – em pensamentos -
ridicularizando sua escolha. Ou mesmo aquele momento “mau hálito” e você “ouvindo”
os pensamentos de repulsão à sua respiração e fala. Seria muito constrangedor. Ainda
bem que a natureza é sábia, deu aos homens apenas o dom da fala e não de
invasão de privacidade, se ele assim o faz é por escolha própria. Talvez seja
por isso que mentira e verdade estejam “irmanadas” como duas faces opostas de
uma mesma moeda, para que dessa forma possamos escolher o momento para fazer
bom uso de uma ou de outra, mas sempre tem uma terceira opção: o silêncio.
Embora
a máxima de que uma vida não possa ser baseada sob a égide da mentira, que não
costuma se sustentar por muito tempo, a verdade é a única que, dentro da ética
e do conhecimento, pode conduzir à evolução humana.
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