domingo, 25 de janeiro de 2015

Ser ou não ser Charlie Hebdo

Eles não reconhecem o poder da argumentação
        Eis aqui uma questão que parece, hoje, estar dividindo o mundo. Ou você está a favor ou contra Charlie Hebdo. Fato que se deve a esse acontecimento absurdo ocorrido na França, onde 12 pessoas morreram devido a represália feita por extremistas a publicação de um cartoon, com a imagem de Maomé, num periódico daquele país. A intenção aqui não é questionar sobre a legitimidade dada à liberdade de expressão, mas tentar entender porque algumas linhas mal traçadas publicadas num jornal, que servirá certamente de embrulho, no dia seguinte, após a sua publicação, pode servir de motivo para que atos bárbaros e insanos fossem cometidos. 
    Ao observarmos acontecimentos tão bizarros, podemos concluir que esses terroristas são simples adoradores de ancestrais. Ou seja, desconhecem qualquer traço de civilidade. Falar em democracia, direitos iguais...  significa o mesmo que atirar pérolas aos porcos, eles simplesmente vivem sob total alienação. Suas atitudes evidenciam o machismo, sexismo, misoginia, racismo, enfim todo tipo de intolerância. Esse é o futuro que queremos? 
            Este refluxo traz à tona, mesmo em dias ditos modernos, o que o homem tem de pior: a ignorância, essa famigerada mãe da intolerância, que leva estes mesmos idiotas a reagirem de forma absolutamente desproporcional - como foi o caso do atentado ocorrido em Paris -, diante de uma sátira, delineada por um simples lápis. 
            Portanto, diante das evidências podemos supor que grupos isolados, com esse grau de atraso moral e social, miram nos países livres para expurgar seus próprios fracassos. Eles não reconhecem o raciocínio legítimo, o dom da palavra, muito menos o poder da argumentação. Assim eram os trogloditas: homens primitivos, grosseiros, sem nenhuma civilidade..., por isso desapareceram, porque o mundo precisa de gente que saiba amar, respeitar, dialogar...
Onde está a fé nesse ato covarde e insano?
Contudo, entendo que o atentado terrorista ocorrido na França possa ser um prenúncio de algo ainda muito maior e mais aterrorizante. Trogloditas escondidos atrás de capuzes pretos, pregando contra, mulheres, judeus, gays... e a própria liberdade. E se medidas eficazes não forem tomadas, em breve, todas as nações democráticas estarão sob a mesma ameaça. Atraso e ódio são o que esses grupos de extremistas desejam disseminar, mas o alvo principal a ser atingido é a própria democracia, e todo o conceito que vem junto com ela.
Portanto, podemos supor que se valendo de um arremedo ideológico e escuso embasamento religioso, esses extremistas usam como pretexto traços feitos a lápis, para cometerem o maior dos pecados: matar. Onde está a fé nisso? Desde quando uma religião prega o ódio e a intolerância, dessa maneira? A quem eles servem, efetivamente, senão aos seus próprios interesses?  Quem tem permissão para matar em nome de Deus? 
O que esses abomináveis homens das cavernas precisam entender é que não é fazendo desse planeta um inferno para os seus semelhantes, que encontrarão o paraíso celeste. Isso não faz sentido! Entretanto, na contramão desses atos, em nome do islamismo, a maioria dos líderes muçulmanos, afirma que o Islã prega  uma doutrina de fé onde o princípio a ser adotado deve ser o amor, a paz e a compreensão. Então cabe a pergunta: a quem esses radicais assassinos seguem? Aos seus ancestrais trogloditas cruéis e hipócritas.
Diante dos fatos não há como negar que esses marginais disfarçados de devotos de Maomé, não creem em nada, não seguem religião alguma. Somente se infiltram, como células cancerosas num organismo, a fim de destruir tudo, ainda que com isso saibam que no final não restará nada. Pois com a morte, até mesmo elas morrem. E aqui me ocorre o mais medonho dos círculos de Dante Alighieri, que é onde espero que esses extremistas sejam enviados.
 O que esses adoradores de ancestrais deveriam conhecer é a sábia frase do filósofo Francis Bacon, “O fanático não quer, o idiota não pode, e o covarde não ousa pensar.”
Enquanto isso a humanidade segue sua trajetória em busca de uma acentuada evolução, e não deve permitir que extremistas possa cercear o seu essencial desenvolvimento. E eu arriscaria acrescentar que esse é o maior perigo de fato para a humanidade, já que “O fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos.” Friedrich Nietzsche.
E, em nome daqueles que, no passado, contra tudo e todos, ousaram afirmar que a Terra é redonda e que gira em torno do sol, assim como tantos outros que se arriscaram com intuito de só dizer a verdade -, mesmo correndo o risco de ser executados, nós devemos defender o direito à liberdade de expressão. Obviamente se houver excessos que os tribunais sejam devidamente utilizados para julgar os abusos. Isso é democracia, civilidade, o mais é só retrocesso.   Diante desse contexto podemos afirmar que a palavra é o único fio condutor que pode instigar um indivíduo ao combate no campo da argumentação.  “O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros.” Porém, “Tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira!" Santo Agostinho.
      Adverso a essa premissa é a certeza do predomínio da estupidez e do anacronismo.  “Ignorar a própria ignorância é a doença do ignorante.” Filósofo e professor estadunidense, Amos Bronson Alcot. Portanto é preciso, sim, hastear uma bandeira contra o fundamentalismo religioso, que de forma hipócrita tenta impor uma estagnação mental, o que pode ser desastroso para o futuro da humanidade.
Portanto fica determinado que a existência de Deus nessa trama misteriosa do mundo só faz sentido se for para disseminar uma evolução intelectual e espiritual, de forma justa e igualitária. Pois ninguém está acima do bem e do mal, e homens e animais tem o mesmo direito a essa Terra. Je suis Charlie Hebdo, porque eu pretendo continuar sendo livre...