terça-feira, 24 de julho de 2012

O cordão dos puxa-sacos promove atraso social


A
o que tudo indica, a expressão “puxa-saco” teria se originado a partir de gíria militar, já que os oficiais não colocavam suas roupas em malas, mas em sacos durante as viagens. Contudo, quem carregava, obedientemente, a bagagem para cima e para baixo eram os soldados. Dessa forma, puxar esses sacos virou sinônimo de subserviência, com isso a função passou a definir todos que bajulavam superiores ou qualquer outra pessoa. Desde então eles podem ser encontrados em todos os lugares: nas repartições públicas, no mundo corporativo, nas escolas e até mesmo inserido no próprio ambiente familiar.
  Quase sempre despiciendo, o bajulador precisa “masturbar” o ego alheio, principalmente se a pessoa, em questão, estiver hierarquicamente numa esfera social acima dele. Decorre daí sua fraqueza e uma dedicação exagerada, praticamente pornográfica, em relação ao outro, já que o referido homo sapiens comumente costuma se regozijar com as migalhas que recebe por sua atuação vulgarmente amadora e teatral, onde a verdadeira intenção é esconder sua falta de talento e competência, ainda que estes não sejam uma regra, pois sempre há exceções. Sendo assim o adulador costuma se adaptar ao meio, melhor do que os demais, por isso qualquer tentativa de exterminá-lo torna-se pura perda de tempo. Talvez por esse motivo o malandro tenha ganhado até um dia especial, 20 de dezembro, data limite para o pagamento da segunda parcela do 13º salário. Época, então, propícia para sair à procura do presente de Natal do respectivo chefe, o importante é garantir a tão sonhada  posição de subserviente. Mas é bom lembrar que “Entregar-se às pérfidas insinuações de um adulador, equivale a beber veneno numa taça de ouro”, Demófilo, arcebispo de Constantinopla no período de 370/380 d.C.
   Apesar de não conseguir emitir luz própria, o sujeito parco de talento e qualidades morais faz sua órbita de forma apagada em torno daqueles que irradiam força e determinação. Infelizmente com isso, não raras vezes, o puxa-saco consegue desviar uma trajetória de sucesso, pelo simples fato de ele, temeroso, sentir-se ofuscado pelo brilho de alguém que ele imagina que possa ocupar o seu lugar. E quem já não se sentiu prejudicado por essa criatura que, aproveita-se da escuridão, assim como um vampiro, para sugar a energia vital daqueles que estão à sua volta, não se expondo jamais à luz da verdade? Entretanto, é preciso fazer justiça ao puxa-saco, que só existe porque encontra quem o alimente, nesse caso o adulado, que precisa demasiadamente ter o seu ego massageado com frequência, porque é tão inseguro e arrogante quanto o próprio despiciendo, já que não consegue lidar com a possibilidade de fracasso ou rejeição às suas ideias, situação que denota em ambos, bajulador e bajulado, as mesmas características: fraqueza, oportunismo, baixa autoestima, insegurança e ignorância. No entanto, Marques Rebelo, jornalista brasileiro, dizia que “Adular não é meio de vida, mas ajuda a viver”. 
    Contudo, estudos indicam que é na crise que o vírus do “puxa-saquismo” se reproduz. Assim, com um ambiente propício, onde os ânimos se acirram e a competitividade exagerada cresce de forma desordenada, mesmo aqueles que pareciam imunes a tal comportamento, passam a desenvolver aspectos semelhantes. É provável que o filósofo grego, Epicteto, tenha percebido o quanto é tênue a linha que separa a vida profissional da vida pessoal, por isso fez o alerta de que Um adulador parece-se com um amigo, como um lobo se parece com um cão. Cuida, pois, em não admitir inadvertidamente, na tua casa, lobos famintos em vez de cães de guarda.” 
   Em suma, o puxa-saco é, de maneira singular ou pluralista, tão nefasto para o ambiente social e econômico, quanto a própria corrupção, porque contribui de forma particular para que não haja vitória dos justos. Ele só tem um objetivo: cuidar do próprio umbigo. Por isso Cada frase do adulador é composta de um sujeito, um predicado e um cumprimento.”, Georges Clemenceau, jornalista, médico e estadista francês. Assim sendo, o adulador passa a vida nas sombras sorvendo o “sangue bom” dos competentes, enquanto onaniza o ego dos seus superiores, que personificam e incentivam para o aumento substancial do cordão dos puxa-sacos, cujo comportamento repulsivo acaba contaminando o caráter dos fracos e desmotivando os demais: profissionais talentosos, de fato, que não precisam se valer desses estratagemas para alçarem sucesso, quando não são descobertos e ceifados pelo pérfido bajulador, que com isso costuma tornar a vida no habitat natural de trabalho um verdadeiro inferno, quando alardeia boatos, se apodera de ideias e projetos que não são seus, faz intrigas com o intuito de semear a discórdia, desestabilizando o ambiente. O problema é que não existe, em toda a medicina, um antídoto para combater esse mal, que apesar de, em certos casos, a gravidade da situação ser quase "patológica". Enquanto isso o vírus, que há tanto tempo contaminou o ser humano, continua a fazer vítimas em todos os cantos do planeta, principalmente nos lugares onde a educação e a cidadania são relegadas à posição de inferioridade nas esferas do desenvolvimento social. Diante disso, como diria a Rainha de Copas, assim que for detectado o pusilâmine sujeito, metaforicamente, "Cortam-lhe a cabeça!"
                                                                                                               

sábado, 21 de julho de 2012

Amigos X Amigos


Ao
 longo do tempo fui aprendendo a valorizar somente as coisas “palpáveis” da vida, ou melhor, fui abandonando paulatinamente as demagogias. No entanto, até mesmo decisões como esta têm seu preço, pois ao deixarmos as hipocrisias de lado, passamos à condição de ranzinzas, e talvez esse seja o sinal mais evidente de que estamos envelhecendo ao passo que ficamos mais seletivos. “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados”, Confúcio.
Entretanto, esta semana me envolvi numa polêmica, sem querer, ao decidir responder um e-mail que já havia recebido em outras ocasiões. A mensagem, cujas imagens mostravam várias pessoas – mulheres – nas mais variadas fases de suas vidas, afirmava que temos uma amiga para cada ocasião: para viajar, chorar, ir ao cinema, comprar, rir... Concordo que não há uma pessoa igual à outra, e que pode haver, de fato, num determinado momento, uma identificação maior com uma amiga do que com outra, dependendo do contexto e da situação. Pois enquanto profissional da comunicação, muitas vezes tenho a necessidade de conversar com outras pessoas da mesma área, até mesmo para uma troca de experiência. Contudo, essa igualdade existente na humanidade explica a diversidade como resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de evolução. Assim é normal que em nossas relações sociais busquemos indivíduos que compartilhem das nossas afinidades. Isso para o ser humano é muito enriquecedor, pois permite o seu desenvolvimento social e intelectual.
No entanto, discordo completamente dessa ideia de que para cada momento na vida há um amigo oportuno. Isso é o mesmo que afiançar que a amizade pode ser fracionada. É como dizer que não se tem nunca alguém por inteiro.  Então quando eu estiver com problema profissional devo procurar uma amiga da mesma área, outra quando estiver desiludida da vida, outra para discutir sobre decoração, filhos, amores... A isso eu chamaria de conveniência e não de amizade. É óbvio que com cada pessoa com quem nos relacionamos os assuntos são diferentes, pois cada uma tem a sua própria história, cultura, conhecimento... Contudo, nós continuamos intrinsecamente sendo os mesmos. Com isso devo concluir que um amigo com quem converso sobre jardinagem não poderá dialogar sobre problemas existenciais? Talvez não, pois é provável que ele nem seja meu amigo, e sim um colega ou ainda um amigo eventual. Eis a questão: comumente amizades aleatórias são elevadas ao mesmo patamar de amizades construídas pelo tempo, fundamentadas sob  estruturas sólidas, alicerçadas na confiança e na transparência. A amizade não pode ser pontuada por conveniência e ainda menos por condicionamentos  culturais, por isso concordo com a frase “Os amigos têm tudo em comum, e a amizade é a igualdade”, Pitágoras.  Amigo, como diz o velho ditado, é “pau pra toda obra”, ele se dignifica a escutar sempre, e não somente o que e quando lhe convém. Ele deve respeitá-lo, amá-lo, também, na chatice e na doença, na alegria e na tristeza... Ele precisa, ainda, sempre que possível, estar presente e ser participativo. A amizade é igual a uma planta: necessita, pelos seus jardineiros, constantemente ser adubada, regada, caso contrário não há como mantê-la viva. Assim, para que não morra com o tempo “Não deixes crescer a erva no caminho da amizade.”, Platão.
E nesse dia 20 de julho, data comemorativa ao Dia do Amigo, o que mais se viu nos sites de relacionamentos foram frases prontas, homenagens... todas emitindo um eco estridente ao enaltecer a importância dos amigos, sejam eles reais, virtuais ou ornamentais. Com isso nada mais resta do que deduzir que a frase do marquês e escritor francês, Luc de Clapiers Vauvenargues “O ódio dos fracos não é tão perigoso como a sua amizade, faz todo o sentido, neste momento atual da humanidade. Porém, devido a nossa herança cultural fomos acostumados a reagir contra todos aqueles que fogem dos padrões aceitos pela maioria da comunidade, por isso experimentei a rejeição aos meus argumentos, quando senti a necessidade de responder ao tal e-mail, ainda que a pessoa que me enviou, esteja muito longe de merecer qualquer tipo crítica, o problema é que ao expor a minha opinião a ela, acabei enviando para os outros “amigos”, também, através de cópia oculta, o que acabou gerando um mal estar, pois a maioria entendeu que eu não os considerava amigos verdadeiros, fato que eu imaginava que muitos até soubessem, pois nada entre nós evidencia o referido sentimento. No entanto, isso não significa dizer que eu não gosto dessas pessoas, ao contrário, tenho por todas elas enorme consideração. E cada uma tem sua relevante participação na minha vida. Ainda assim só consigo chamar de amigo aquele com quem eu divido minhas preocupações, neuroses, loucuras, medos, decepções e obviamente minhas alegrias... E isso é fazer justiça a quem de forma efetiva está sempre ao meu lado, se dispondo a ouvir, a apoiar e, principalmente a manter a consolidação da relação.
Em suma, amigos verdadeiros são aqueles, como diria um velho amigo dos tempos da faculdade, que costumam usar o “capacho” colocados à entrada de nossas portas, de casa... “Amigo é aquele que sabe tudo a seu respeito e, mesmo assim, ainda gosta de você”, Kim Hubbard, jornalista americano. Concordo, portanto, inteiramente com a frase de Aristóteles Ter muitos amigos é não ter nenhum.” Com isso encerro essa discussão, com o lindo título da música de Oswaldo Montenegro: A Lista.
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
 Sendo assim, FAÇA UMA LISTA!




sábado, 7 de julho de 2012

A magia que veio da fumaça

A
Cleópatra: ela sabia como seduzir
 história evidencia que a arte da perfumaria começou logo que o homem primitivo jogou ao fogo ervas aromáticas. Assim nasceu o perfume, cuja expressão deriva do latim “per fumum” ou “pro fumum”, que significa através da fumaça.  Desde então o homem, por vaidade e/ou superstição, fez uso dessa fragrância nos mais variados segmentos de sua história, seja na vida ou na morte. Já na tumba egípcia de Tutankhamon, arqueólogos descobriram resíduos de unguentos perfumados, usados há mais de três mil anos. Conta a lenda, ainda, que a rainha do Egito, Cleópatra, fervorosa usuária de perfume - cuja base era de óleos extraídos de flores -, teria se utilizado desse artifício para seduzir Marco Antônio e Júlio César. A verdade é que o olfato, esse importante sentido, tem o poder de nos transportar para um mundo de emoções associadas a memórias dos aromas. A antropologia diz que antigamente os odores eram percebidos e valorizados de maneira bem diferente do que atualmente, sendo que algumas escolas antigas de Arte estimulavam seus aprendizes a distinguir as doenças físicas das psicológicas, tão somente pelo odor que a pessoa exalava. Com o perdão do trocadilho, talvez venha daí a raiz da expressão “Não fede nem cheira”. Entretanto, nem tudo são flores na história do perfume, que já foi o grande responsável pela morte de milhares de animais, entre eles os veados almiscareiros, cujo número de mortes chegou a 50 mil, somente no ano de 1900, quando cerca de 1.400 kg do óleo foram coletados. Talvez dentro desse contexto de perversão e loucura para extrair o suprassumo do bálsamo o genial Patrick Süskind, escritor e jornalista alemão, tenha se inspirado para escrever o romance O Perfume - A História de um Assassino, que acabou ganhando, em 2006, as telas do cinema. 
       Entretanto, apesar dos apelos afrodisíacos que a maioria das fragrâncias traz em sua composição, há quem não se deixe “contagiar” pelo seu poder olfativo, preferindo assim o odor natural, o que, em tempos remotos, pôde ser comprovado através da famosa carta de Napoleão Bonaparte à sua amada Josefina, dois meses antes de retornar: “Pare de tomar banho! Estou voltando”. O que indica que ele gostava mesmo era de um mau cheiro. Inhaca! Há gosto pra tudo! Porém, bem mais limpinho parecia ser o profeta Maomé que teria dito: “Três coisas são importantes para mim na Terra: mulheres, perfumes e orações”. Já em outra ocasião teria declarado: “O perfume é o alimento que nutre meus pensamentos”.
       Mas o que revelar da personalidade de uma pessoa, somente pelo perfume que está usando, isso seria possível? Não creio que haja uma resposta definitiva para essa pergunta, porém acredito que a total falta de gosto pelos perfumes revele enfim algum traço típico no indivíduo. Embora seja fácil sabermos a classe social a que pertence uma pessoa “bem perfumada”, já que alguns perfumes atingem valores exorbitantes. De uma forma particular gosto de comparar as fragrâncias às músicas, onde as “notas” se mesclam, e através da percepção singular de cada ser em si é possível conhecer um pouco mais da sua essência, sem preconceito. A individualidade das fragrâncias tem a capacidade de nos remeter, assim como uma música, a lugares e momentos que marcaram nossas vidas, por trazer à memória essas ocasiões especiais e únicas.
Clive Christian’s Imperial Majesty
 R$365.500,00
      Assim leves ou encorpados, florais ou amadeirados, aldeídos ou sintéticos... os perfumes devem ser usados, segundo recomendação de quem entende do assunto, nos lugares onde existe maior circulação sanguínea e mais calor: atrás dos joelhos; entre o braço e antebraço; atrás das orelhas e no pescoço. No entanto, torna-se imperativo lembrar que mesmo que o seu perfume seja “top de linha” o menos é mais, assim evite os excessos, principalmente se for permanecer por muito tempo em lugares fechados, para evitar comentários desagradáveis. Marque sua presença sensitiva de forma sutil e harmoniosa. Assim jamais será esquecida. Agora torna-se fundamental a escolha de um bom perfume. Contudo, não adianta se guarnecer de perfumes caros quando a alma e o caráter estiverem bolorentos, pois, segundo alguns especialistas, as fragrâncias exalam um pouco da essência natural daqueles que fazem uso delas. Lembre-se ainda que sem banho d'água não há perfume que dê jeito, o "tiro" nesse caso pode sair pela culatra, e aí não tem fragrância que resolva.

      E como diria a cantora brasileira Elba Ramalho: Um banho de cheiro pra vocês que por aqui passaram...