sábado, 30 de julho de 2011

O silêncio dos inocentes



A
(Mais difícil que ensinar uma criança a ter princípios,
é ensiná-la a defender-se de quem não os têm)


 questão da vulnerabilidade social em que vivem muitas crianças, sempre atiçou a minha indignação, e cansada de saber que nada, efetivamente, tem sido feito de maneira eficaz para combater a pedofilia, decidi, então, trazer para este espaço a discussão sobre este tema que, embora seja ignóbil e inaceitável, precisa ser amplamente altercado por toda a sociedade. Apesar de ser recorrente nos meios de comunicação, o assunto é bastante relevante, ao expor, sob a lupa da verdade, as reais condições, nas quais muitas crianças estão vivendo, ou melhor, sofrendo, devido ao abandono, a ignorância e a conivência passiva da sociedade, que não tem tomado eficientes providências, no sentido de punir de forma veemente, ampla e incondicional, todos aqueles que, sem nenhum senso de moralidade, amor ou compaixão, submetem esses anjos às suas vontades sádicas e doentias. Criaturas perversas, conhecidas pela alcunha de pedófilos, que usam dos mais variados artifícios para abusar sexualmente de crianças e pré-púberes, já que se sentem "atraídas" por elas.  Embora a história mostre que esses sujeitos sempre existiram, foi com o advento da internet que eles se “proliferaram” feito ratos de esgoto - não sei se esses pobres bichos (os ratos) merecem tal comparação. Assim, a rede mundial tem sido um ambiente extremamente favorável à disseminação dessa prática abjeta, que leva os pedófilos a extravasarem suas “doentias” fantasias sexuais, e até mesmo que venham a difundir uma espécie de “filosofia de vida”, no momento em que apresentam, vendem, fornecem, divulgam e produzem fotografias e imagens pornográficas envolvendo menores de idade. Além disso, também, existe um movimento arbitrário e assustador, promovido por associações ativistas, pró-pedófilos, que defendem com artimanhas a pedofilia como sendo uma orientação sexual, e que ainda desejam que a sociedade reconheça e legitime essa prática vergonhosa à própria essência humana. Entretanto, aqui fica uma inquietante pergunta, quem serão suas “cobaias”?
Sem amparo e amor
elas não terão futuro
Algumas pessoas atribuem à culpa da propagação da pedofilia à exacerbação do sexo patrocinado pelos meios de comunicação, já os estudiosos dizem que se trata de um distúrbio mental ou da personalidade. Enquanto leigos e estudiosos discutem sobre o que menos interessa, as crianças continuam sofrendo geralmente caladas. Mas, afinal, quem são esses sujeitos pusilânimes? Dizem os especialistas que eles estão inseridos num grupo onde fazem parte o exibicionismo, o fetichismo, a frottage, o masoquismo sexual, o sadismo sexual e o voyeurismo. Como fazer para identificá-los? Eis o problema..., eles são lobos em pele de cordeiros, por isso nós dificilmente os identificamos, de imediato. Mas, então, como reconhecer um pedófilo? Infelizmente os sinais, são quase imperceptíveis, por isso há tanta história de abuso, também, dentro das próprias famílias, muitas consideradas “tradicionais” e insuspeitas. O problema está justamente aí! Para evitar que a verdade venha à tona, muitos cúmplices – geralmente parentes – não desejam a abordagem deste assunto, pois temem que a sujeira jogada, indevidamente, para baixo do tapete, possa ser revelada sob a lupa do esclarecimento e das responsabilidades. Portanto, para esses indivíduos é melhor deixar tudo como está, isto é, no seu devido e “lamacento” lugar. Enquanto isso o pedófilo continua agindo impunemente, afinal de contas ele conta com o respaldo velado, daqueles que preferem ignorar seus atos hediondos a ter que enfrentar a verdade, o sofrimento e o constrangimento, pelo julgamento social, moral e familiar, que inevitavelmente irão passar. Esta atitude covarde só faz a transgressão aumentar, contribuindo de forma contumaz à angústia e ao desespero das crianças que, assim sendo, não tem a quem recorrer. Com isso, seus “gritos silenciosos” suplicando por ajuda, caem no abismo da apatia social, quiçá doméstica – enquanto uns fingem que nada fazem, outros fingem que nada enxergam.  Esta falta de acolhida social à criança foi o que me levou, de fato, a escrever uma história infantil, abordando este tema, embora, por ora, minhas “anotações” estejam engavetadas.


 Monstros existem,
 e estão à espreita
PREVENÇÃO À PEDOFILIA - Embora não se tenha uma ferramenta eficaz que possibilite, de imediato, descobrir um pedófilo, aos pais cabe, então, um cuidado maior com os seus filhos, ensinando a eles, desde cedo, atitudes preventivas, com o intuito de evitar que essas pessoas, mal intencionadas e perversas, possam se aproximar. Dessa maneira os pais proporcionam às crianças o “conhecimento” e a esperteza necessários para que jamais se coloquem em situação de risco. É preciso, todavia, lembrar que o perigo nem sempre está tão longe quanto parece, às vezes, subestima-se a intenção daqueles que fazem parte do convívio “domiciliar”, por isso toda cautela é pouca. Pela própria natureza infantil, a criança é um ser totalmente indefeso, esta característica confere a ela uma situação singular de vulnerabilidade, já que é essa inocência e fragilidade que a faz carente de amparo e amor. Portanto, para que cresçam permeadas pelos valores sublimes da dignidade e da justiça, elas precisam de proteção, para que assim  possam trilhar, enquanto se desenvolvem intelectual e moralmente, o caminho das pessoas harmoniosas e equilibradas.

DEIXEMOS ÀS CRIANÇAS, UM MUNDO MAIS JUSTO E DECENTE!



terça-feira, 26 de julho de 2011

Primitiva inveja

 Arruda, para espantar a inveja...
e não deixar que este texto "desande"
 A Preguiça se esparrama,
 O Ódio baba,
 A Gula exagera,
Avareza amontoa,
A Luxúria se esbalda
  A Vaidade ostenta.
 Só a Inveja se esconde

O
 ser humano habita este planeta, segundo a maioria dos antropólogos, há milhares de anos. No princípio o homem e a mulher dividiam as mesmas responsabilidades e tarefas, e juntos viviam em harmonia, até que se iniciou a caça aos grandes animais, onde a força física se tornou essencial, elevando a supremacia masculina. No entanto, já havia, naquela época, dentro dessas primitivas culturas, um sentimento enrustido: a “inveja do útero”, sentida pelos homens, uma antepassada da moderna “inveja do pênis” que sentem as mulheres nas culturas patriarcais mais recentes. Logo observamos, percorrendo os campos da história, da filosofia, sociologia e antropologia, através dos tempos, que os mecanismos fisiológicos e comportamentais, manifestam-se de forma indireta, independente da cultura, classe social, idade e sexo.  Portanto, não há uma divisão entre o primitivo e o civilizado, pois o homem é mais singular do que julga ser, já que nem mesmo os milênios foram suficientemente capazes de suprimir este sentimento tão nefasto quanto primário, cujo parentesco com o orgulho não pode ser ignorado. 
               Então, a partir daqui, tentarei, modestamente, fazer uma “dissecação” dessa conturbada emoção, de forma a compreender o que leva algumas pessoas a cultivá-la, de maneira contumaz e destrutiva. Por ser um assunto multifacetado, pela pluralidade dos aspectos que abrange, a inveja acaba tornando-se um tema intrigante, já que envolve questões muito complexas, ligadas ao comportamento humano. O Gênesis refere-se a ela como sendo um dos primeiros pecados da humanidade. E quem não se lembra da triste história fratricida de Caim, este arquétipo da inveja, que amava a Deus, que preferiu a seu irmão Abel, fazendo com que Caim se enfurecesse e, cego de inveja, matasse seu irmão. Também, na mitologia grega, há uma representação perfeita daquilo que chamamos de inveja: a terrível Medusa, que, segundo conta a lenda, teria sido transformada pelo próprio pai em uma bela mulher em troca de sua imortalidade. Porém, a deusa Atena invejou tanto sua beleza que a transformou em górgona, condenando a todos que a olhassem em estátuas de pedra. “Não há delito maior que a audácia de se destacar”, descreveu Winston Churchill. Concorda, com essa premissa, além de Descartes, a maioria dos outros filósofos, que condenam veementemente essa invídia, cuja tradição cristã classificou como sendo um dos pecados capitais, que embora seja o mais praticado é também, proporcionalmente, o mais negado. Assim dizia Nelson Rodrigues, "O sujeito não confessa ter inveja nem ao padre, nem ao psicanalista, nem ao médium e nem depois de morto". O invejoso se entristece pelo bem alheio, isto é, ele não consegue tolerar o sucesso do seu semelhante, ao contrário, sua desgraça o satisfaz. Como diz a célebre frase do Marquês de Maricá, “A inveja e ciúme do mérito alheio acusa e revela a mediocridade do próprio”. Na obra do historiador e filósofo francês, René Girard, A violência e o sagrado”, o autor apresenta a tese de que o ser humano é marcado essencialmente por um anseio mimético, ou seja, o desejo de ter o bem do outro ou ainda ser o outro. Dentro deste conceito a magnífica metáfora da lenda da cobra e do vaga-lume, evidencia o caráter maldoso e incontrolável do invejoso, que age muito mais induzido pela própria aflição do que pela razão. Entretanto, aqui, é preciso fazer uma ressalva, há momentos em que invejosos e invejados, intrinsecamente,  passam, de forma recíproca, a sentir inveja um do outro. Nada que possa surpreender, já que os seres humanos integram, com maestria, "a divina comédia" - uma alusão ao livro do Dante Alighieri.
             Contudo, inserida, sutilmente, nos meandros de uma sociedade pós-moderna, a inveja, ainda hoje, assume inusitadas aparências, seja no campo profissional, familiar, pessoal... Onde, não raras vezes, a competição passa a “disfarçar” a verdadeira intenção do sujeito, isto é, este concorrente esconde um séquito de antigas frustrações e fracassos não resolvidos e interiorizados. Por isso é comum algumas pessoas confundirem a admiração com a inveja, já que ambas costumam “aliciar” seguidores. Embora a segunda opção, a invídia, se manifeste de maneira a transformar certas atitudes em atos simulados de menosprezo ou de indiferença, o que consequentemente tem como intenção gerar no outro uma situação contundente de humilhação.  Numa comparação metafórica, esta necessidade atua na alma do invejoso, tal qual a ferrugem no metal, de modo a corroer paulatinamente sua essência, deixando marcas geralmente invisíveis e irrecuperáveis. A inveja é tristeza que se torna ódio, "e o ódio nunca pode ser bom", diz, por sua vez, o filósofo Baruch Spinoza.
Em suma, as pessoas invejosas sentem-se menosprezadas pelas outras nos aspectos profissionais, pessoais, pelos bens materiais, morais, status, atributos físicos, notoriedade e poder, e sem conseguir lidar com o próprio fracasso elas transferem e/ou atribuem as outras a culpa por suas frustrações. E por estar alastrada em toda a sociedade, seja no ambiente familiar, corporativo e social, esta emoção potencializa-se à medida que camufla sua verdadeira intenção. Eis a questão... Quantas pessoas não planejam, premeditadamente, eventos sociais como jogos e festas com a nítida intenção de “barrar” aquelas que lhe fazem sombra, evidenciando um sentimento de onipotência, na tentativa de contrabalançar emocionalmente o seu complexo de inferioridade. Quem nunca ouviu a expressão ele é o “dono do campinho”, portanto, só poderá jogar quem ele permitir; ou ainda, ela é a “dona da festa”, só poderá entrar quem não ofuscar o seu apagado brilho. Sim, porque esses indivíduos não se “garantem” diante da presença dos invejados. São Paulo a eles certamente diria “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” . Portanto, finalizo este texto com o seguinte recado: os amigos nem sempre são os que se compadecem ou se solidarizam com a sua desgraça, mas aqueles que, efetivamente, se alegram com o seu sucesso.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ensaio aos amigos


N
Amizade à prova d'água
esta semana comemora-se o Dia do Amigo. Por isso mesmo decidi render a ele uma “singela” homenagem. Partindo do pressuposto de que viver sem esse indivíduo seria praticamente impossível, já que vem dele, geralmente, a força da qual precisamos para vencermos as difíceis e múltiplas etapas impostas pela vida.  Espero que, através desta leitura, você identifique seus verdadeiros amigos e com isso aprenda a valorizá-los ainda mais, mantendo-se conectado a eles de forma absoluta. Nossa moderna compreensão da amizade foi formada por um tardio reconhecimento de que precisamos, muito mais do que gostaríamos de admitir, de um amigo, cujas características primordiais, quanto à identidade de ideias, pensamentos e ações, se assemelhem tanto quanto as nossas... Essa pessoa, tão especial e singular, possui uma representação significativa à maioria dos seres humanos,  dando-lhes sentido à sua essência e existência.
A verdadeira amizade
tem o poder da magia
Na verdade, no decorrer do tempo, conhecemos muita gente - seja na escola, no trabalho, na faculdade, nas viagens, no bairro, na internet e até mesmo entre os familiares -, que por determinado tempo, mesmo que aos “tropeços”, nos abastecem de suas amizades, ainda que muitas vezes efêmeras. Contudo, é preciso frisar que, de alguma forma, todas as relações interpessoais sempre nos ensinam algumas lições: negativas ou positivas; ninguém passa por nossas vidas sem deixar marcas incólumes, ainda que em níveis diferentes. Porém, são poucos os que compartilham conosco da mesma afinidade, nos proporcionando uma evolução efetiva tanto no campo emocional quanto no espiritual.
No entanto, precisamos lembrar que para uma relação evoluir à amizade verdadeira, a adoção de algumas regras, mesmo sendo implícitas, faz-se necessário, tornando altamente relevante à convivência entre amigos. Vamos aqui chamá-las, então, de códigos de relações interpessoais de amor. A existência desse indicador é o que leva ou não à continuidade desses relacionamentos afetivos, seja na sua forma de conduta, de afeto e de comportamento. Sem esses preceitos essa afeição não se sustenta por muito tempo. Outro fator relevante à “sublimação” da amizade é a necessária existência de certa “química” entre os amigos, isto é, precisa-se ter com o outro um relacionamento equilibrado entre as pontuais diferenças e semelhanças, para que não haja uma tentativa mútua de quebra de identidade. A partir desta premissa podemos afirmar que o cultivo de uma amizade é algo muito complexo, pois há uma linha tênue que separa um ato simples e contundente de apoio a uma invasão de “privacidade”, e nesse momento entender e dar espaço ao outro sem abandoná-lo exige perspicácia e humildade. E, nesse ínterim, talvez, este seja o real motivo de muitas amizades “desandarem”, já que a "fogueira" da arrogância costuma transformar bons amigos em “donos" supremos da verdade. Entretanto, é importante salientar que somente o tempo, fará ou não a consolidação de uma grande amizade, pois como em todo relacionamento, quando legítimo, há sempre alguma “desordem” natural, por esse motivo a superação das mágoas e divergências também são características dos relacionamentos duradouros, que têm a função específica de nos mostrar se apesar dos confrontos e dos conflitos, essa afeição sofrera alguma ruptura relevante. Mas, se depois de uma constatação positiva de que mesmo diante das diversidades e adversidades, a amizade permaneceu sólida, podemos concluir que o tempo, nesse caso, foi tão somente um contingente.
Contudo, para não sofrermos com esses eventuais “abalos sísmicos”, a amizade precisa estar bem solidificada e construída sobre alicerces baseados no respeito recíproco e no companheirismo, não deixando brechas para que essa “edificação” desabe ao primeiro sinal de tempestade. Logo, se conclui que essa condição à amizade não está sujeita a fatores culturais, financeiros ou sociais. Nesse caso, há um repertório muito mais importante a ser considerado; são fatores preponderantes como: a vivência, a cumplicidade, o respeito, a confiança, o amor e a lealdade, tornando, ainda, imprescindível ao cultivo dessa afeição a disponibilização de tempo e uma troca expressiva de parceria. Como dizia Aristóteles, “Amigos verdadeiros precisam ter comido sal juntos”... Isto é, na vida, nem sempre é possível apenas dividirmos com eles a doçura do néctar, muitas vezes a eles cabe também a difícil tarefa de “sorver” o  fel amargo. De acordo com essa premissa permito-me afirmar que esse nobre sentimento, chamado de amizade, precisa encontrar entre os seus “protagonistas” virtudes como o desprendimento e o comprometimento, essenciais para o seu fortalecimento. E como disse o grande escritor libanês Gibran Kahlil Gibran, na sua obra: O Profeta: “Pois o que seria vosso amigo se apenas o procurásseis para matar o tempo? Procura-o sempre com horas para viver. Pois ele é para preencher vossa necessidade, não vosso vazio”.





domingo, 10 de julho de 2011

Ainda... Tem rede no mar

É
Sorriso de menino 
 com indignação, tristeza e pesar que escrevo esse texto, não somente por que Thiago Rufatto, 18 anos, elevou, no dia 1º de novembro, para 49 o número de surfistas mortos por redes de pesca no RS, mas também pelo fato de o jovem alegre, comunicativo e carismático ter deixado uma tertúlia de amigos. Tenho me colocado no lugar das mães desses surfistas mortos por redes de pesca, no RS, o que para mim caracteriza-se como crime -, e imagino, como mãe, a dor e o sofrimento delas... Arrepio-me só de pensar que poderia ser um filho meu. Como não é, talvez muita gente não entenda o motivo da minha mobilização em torno desse assunto, já que eu pouco sabia sobre esse esporte: o surfe, até poucos dias atrás, mas, depois de conhecer esse jovem, através dos relatos da minha filha, que era sua amiga, e perceber o quanto ele era querido por todos que o rodeavam, fui tocada pelo seu sorriso encantador e o seu jeito de menino, evidenciado nas fotos, que seus amigos colocaram na internet, no seguinte endereço:

Fiquei comovida e, ao mesmo tempo, revoltada, ainda mais ao ver a dor que a sua falta está causando àquela a quem eu tanto amo. Por isso mesmo, comecei a pesquisar sobre o assunto: “redes de pesca e surfistas”. E, acreditem, é impressionante a falta de responsabilidade “social” e o descaso das autoridades públicas em tratar desse tema. E, também, foi através dessa busca por informações que percebi que muitas pessoas, nas entrelinhas, ou em conversas “veladas”, consideram o fato “isolado” e lamentável, porém aceitável, já que atribuem a culpa aos jovens, a quem consideram ser “filhinhos de papai”, desocupados, play boys, quando não atribuem a eles coisas piores. Meu Deus! Até quando vamos ficar indiferentes a isso? Um jovem que tinha um futuro promissor pela frente, era estudante do 3º semestre de administração de empresas, da PUC de Porto Alegre. Sua família e os seus amigos o amavam. Ele, no auge dos seus 18 anos, gostava de festas, viagens, futebol – era torcedor do Sport Club Internacional de Porto Alegre - de estar com os amigos, e tudo mais que um jovem saudável, da sua idade, gosta de fazer, inclusive surfar. Façamos, então, uma analogia: o surfista não seria também um pescador, só que de ondas? Há coisa mais ecológica que isso? Não mata, não depreda, não causa nenhum impacto ambiental... Então eu pergunto: Que mal há nisso? Por acaso é delinquente quem entra no mar para pegar onda, cuja prática é considerada esportiva? Esporte não é sinônimo de saúde? O que há de arte neste tipo de pesca, onde redes fabricadas com fios de nylon, entrelaçadas em forma de retângulos, que colocadas à linha da costa, têm como objetivo encurralar os cardumes de peixes, até capturá-los sem critério algum de seleção? Dessa forma os praticantes de esportes náuticos, os surfistas, especialmente, quando à deriva no mar, por não avistarem os materiais de pesca, no oceano, enrolam-se nas redes e se afogam.

A falta de legislação federal incidente sobre o tema tem sido o grande problema, além da falta de sinalização. A orla marítima é de competência da União, cabendo a ela o ordenamento, gestão e fiscalização da orla e terrenos acrescidos. Mas, não por isso, os municípios não possam fazer a sua parte, colocando placas de sinalização e exercendo seu poder de fiscalização, para que assim, tanto turistas quanto surfistas, tenham direitos sobre a praia tanto quanto os pescadores. Ou será que a prática do surfe deve ser proibida no RS, como sugeriram alguns que já se esqueceram que os surfistas chegam como turistas ou com eles, e também contribuem para a geração de renda no litoral, pois acabam por consumir os produtos comercializados naquela localidade. A sociedade espera por uma satisfação, assim como os pais e os amigos do jovem surfista morto.

Meu carinho e respeito a todas as mães que perderam seus filhos nas redes de pescas, colocadas de forma criminosa no litoral gaúcho, especialmente a dona Neuza Rufatto, a quem eu, particularmente, tenho uma imensa admiração, pela sua demonstração de coragem e perseverança.
  • Com o objetivo de buscar melhoras e soluções definitivas para esses problemas e evitar que mais famílias sofram a dor das perdas foi fundado, em dezembro do ano passado, o Instituto Thiago Rufatto - Ong maRSeguro
Para maiores informações, por favor, acesse: 
http://ong-marseguro.blogspot.com/

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Inverno sem igualdade social não tem glamour


E
sse texto provavelmente encontrará muita resistência, nessa parte do hemisfério sul, entre os adeptos dos dias e noites gelados. No entanto, é bom lembrar que, pelo mundo, tradicionalmente, as festividades relacionadas ao solstício de verão sempre tiveram maior importância do que suas congêneres associadas ao solstício de inverno, o que é facilmente compreensível se levarmos em conta o fato de que as primeiras são celebrações associadas ao sol, isto é, à luz e aos dias quentes, sempre mais apreciados do que as longas noites de inverno. Isso acontece porque o clima tem a capacidade de influenciar o estado de espírito das pessoas, cujo bom humor fica mais “aflorado” no verão, visto que no inverno há um recolhimento natural do ser humano, deixando-o mais introspectivo e propenso à leitura e à busca do autoconhecimento. Há, ainda, quem veja nesse “cenário” gelado e supostamente “europeu”, outras motivações, como a possibilidade de tirar do armário os agasalhos pesados, quentes e sofisticados, fazendo com que se sintam glamourosos. Contudo, no meu caso, a única vontade que tenho é de comer e dormir o dia inteiro, pois o simples ato de levantar de manhã, tomar banho, trabalhar, e até mesmo conversar é algo que, com o frio rigoroso, me dá um imenso desejo de suprimir. Melhor mesmo se eu pudesse hibernar durante todo o inverno, igual aos ursos, ou ainda se pudesse ser como os patos que, nessa época, migram para o norte. Embora eu tenha uma leve impressão que “pato” me soa mais familiar, já que ursos não existem por aqui.
Convenhamos, então, quem consegue  ver glamour à moda cebola, sendo a primeira camada de roupa composta por básicas, pijamas, blusas, blusas, blusas... até chegar à vestimenta principal. Ah, como não lembrar que por baixo de toda essa suposta elegância, pode haver eventuais banhos “enforcados”. Portanto, o prazer, talvez, esteja na alimentação calórica composta por pães, leites, cafés, chás, chocolates quentes, vinhos, fondues, etc. Essa teoria me leva a pensar que a gastronomia seja o real motivo para que muitos apreciem essa época do ano, pois até os meus dedos, tanto os dos pés – mesmo usando quatro meias – quanto os das mãos, estão gelados. Fato esse que me faz crer que gostar do inverno não é racional, já que o frio não é democrático e quem mais sofre o seu efeito são os pobres que, na sua grande maioria, moram em casas sem nenhum aquecimento. Essas pessoas, além de padecerem com as baixas temperaturas, ainda, muitas vezes, se alimentam mal, dormem mal, se vestem mal e, consequentemente, adoecem mais, lotando ainda mais os hospitais e os postos de saúde.
Dentro desse contexto, essa estação me parece propícia somente aos “felizardos endinheirados” e aos turistas que podem, a fim de descansar e gastar, aproveitar todas as comodidades que as suas casas, os hotéis e as pousadas têm a oferecer: comida farta, quartos aconchegantes com lareiras, ar condicionados, pisos acarpetados, banheiros aquecidos com água quente nas banheiras e chuveiros, café da manhã no quarto, almoço... Enfim um verdadeiro “vidão”. Dessa forma, ver a neve até pode ser interessante. Todavia, para quem precisa sair, literalmente, da sua “zona de conforto”, durante os três meses da estação, as baixas temperaturas são um convite às diversas doenças provocadas ou agravadas pelo frio: gripes, sinusites, laringites, bronquites, otites, rinites e asma, cujas maiores vítimas são as crianças que, juntamente com os seus pais, são obrigadas a levantar cedo para irem à creche ou escola, e com isso enfrentam o açoite do vento gelado em suas faces rosadas, marcas essas provocadas pelas assaduras da friagem.  Mas isso não é o pior. A angústia é imaginar que muitas famílias sequer possuem um teto ou cobertores para se abrigarem do frio congelante, ou ouvir, ainda,  o relato comovente de uma criança que usa as folhas do seu próprio caderno escolar para cobrir as frestas da sua casa, por onde o vento, contumaz, insiste em penetrar. Logo, como podemos dar ao inverno essa conotação orgulhosa de clima europeu?
 Num país onde há uma enorme desigualdade social e o governo não subsídia a energia elétrica para que mais famílias possam adquirir chuveiros elétricos, aquecedores e ar condicionados ou até mesmo facilite a compra de fogões à lenha, lareiras, agasalhos e roupas de cama, como apreciar as belezas do clima gelado? Sem esse apoio do Estado, o cidadão brasileiro, habitante da região sul do país, para ter a sua casa bem aquecida, precisa desembolsar o triplo do valor que costuma pagar à sua conta de luz, tornando a estação ainda mais onerosa ao seu bolso de contribuinte.
Em suma, o inverno no Brasil é, literalmente, uma fria. E, como nos extremos não se encontra o equilíbrio, as melhores estações são, na minha opinião, a primavera e o outono, sempre amenas. Nem o frio siberiano, nem o calor senegalês, visto que esses só são bons aos endinheirados/desocupados. Contudo, se alguém ainda não se convenceu de que o inverno aos pobres traz sofrimento, eis aqui uma indicação de leitura: "A Menina dos Fósforos", um conto gigantescamente singelo e impactante, de Hans Christian Andersen.
E para quem ainda não se deu por conta, há campanhas do agasalho sendo realizadas em várias localidades do estado.
Sua colaboração fará muita diferença. Participe!