sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

FELIZ 2012 !

A
inda que sejam convenções marcadas pelo calendário humano, em função dos movimentos de rotação do planeta em torno do sol, o sentimento com a aproximação de um novo ano é de esperança e renovação. Mesmo que a “passagem” de ano seja rotineira, não há como fazer a travessia de um ano para outro sem que haja certa reflexão daquilo que deixamos para trás. Dizem que passado o terremoto de Lisboa (1755), o rei Dom José perguntou ao General Pedro D’Almeida, Marquês de Alorna, o que se havia de fazer. Ele respondeu ao rei: “Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. Esta simples resposta sintetizou de forma franca e objetiva a única coisa que podia ser feita naquele momento. Assim devemos fazer diante dos nossos abalos pessoais: enfrentá-los com a mesma objetividade, isto é, mesmo que venhamos a sofrer, não há como lutar contra as falhas “geológicas” da vida. Mesmo que estejamos desestruturados pelos movimentos bruscos de nossas próprias bases devemos buscar serenidade para suportar tais consequências. A alternativa para quem deseja sobreviver às mudanças impostas pela própria existência é seguir adiante, sem olhar para trás, pois de nada adianta chorar sobre o leite derramado. É essa capacidade de nos reinventarmos que faz de nós verdadeiros super heróis. Pessoas valorosas que não precisam recorrer a drogas; que lutam para não cair em depressão; que não se deixam influenciar pela onda de pessimismo ligado ao mito de 2012; que não se deixam levar pelos modismos... Nós que aprendemos a cair e a dar a volta por cima, cheios de dignidade, e que não nos curvamos aos julgamentos alheios, merecemos um planeta povoado por verdadeiros seres humanos: fraternos, iguais aos trabalhadores voluntários que se dedicam a levar à sociedade maior qualidade vida; leais como os meus amigos verdadeiros; dignos como os meus pais, generosos como a minha filha, que ainda criança já sabia respeitar os animais e os mais velhos.
Seguindo essa linha de raciocínio, venho através dessa postagem desejar a vocês, visitantes virtuais do Brasil, Malásia, Rússia, Reino Unido, Alemanha, México, Guatemala, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, Estados Unidos, Holanda, Portugal e Nova Guiné, um ANO NOVO repleto de Paz, Sorte, e a Responsabilidade de Amar todos os Seres Vivos deste lindo planeta. A todos que assim como eu, sobreviveram às besteiras, às finanças, às alegrias, tristezas e decepções, mas que nem por isso deixaram de acreditar num recomeço, e mostraram que é possível driblar esse fluxo de situações inesperadas, inerentes à vida, muita LUZ E PAZ.  Embora os votos não sejam muito originais, pois como diz a letra da música do Legião Urbana, “Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?”, ainda assim elas exprimem toda a minha sinceridade. E, mesmo que não nos conheçamos, recebo, através de suas visitações diárias, essa energia emanadora, que me dá o alento e a convicção de que estou no caminho certo.  Muito obrigada pelo apoio e pelos e-mails generosos. SEJAM MUITO FELIZES!

FELIZ ANO NOVO E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE!

*Meu agradecimento especial para Amanda Werlang(filha); aos meus pais, Alzair e Manoel; amigos: Rosane Gil, Rosinete Zefferino, Débora Gianoni, Nádia Oliveira, Mara Gallina,  Cláudia Orci, Custódia de Bróbio, Simone Flores e Luiza Carravetta. E aos ilustres desconhecidos que cruzaram o meu caminho e que me estenderam a mão. Vocês, que de um jeito ou de outro, nesse ano, me ouviram e me apoiaram, seja na vida pessoal ou na profissional... MUITO OBRIGADA!

QUE DEUS OS ABENÇOE SEMPRE!


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O fim do mundo entre o cético e o crente











No início dessa semana, ao transitar pela esquina democrática, ponto turístico da capital gaúcha, localizada entre a Rua da Praia e a Avenida Borges de Medeiros - ponto tradicional de passeatas e manifestações desde o século XIX - presenciei uma hilariante discussão entre um crente e um cético. Enquanto o primeiro defendia com veemência a necessidade urgente de conscientização dos seres humanos para uma mudança efetiva de comportamento antes do final do mundo, o outro gritava que tudo não passava de lorota. O bate boca só terminou com a intervenção da polícia militar.
O crente ao olhar para os curiosos transeuntes alardeava que a sua “arma” contra os ignorantes era a Bíblia, que ele erguia freneticamente para o alto, como se procurasse confirmação divina às suas palavras proféticas. Discussões à parte... É bom lembrar que o livro sagrado dos cristãos refere-se ao final dos tempos no Velho e no Novo Testamento - em ambos, há uma descrição da destruição do mundo que será causada pelo comportamento inadequado da humanidade. No primeiro, há a figura do profeta Daniel, que marca até hoje o imaginário ocidental com seus sonhos e visões sobre o final dos tempos. Ao lado dele, incluído no Novo Testamento, o Apocalipse de São João, capítulo 13, versículos 16, 17 e 18 diz que “A segunda Besta faz também com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, recebam uma marca na mão direita ou na fronte”. Teoria essa que serve de inspiração aos crentes que acreditam numa conspiração feita através dos códigos de barras, que carregam obrigatoriamente o número da Besta em todos os produtos que recebem o padrão UPC.
 Na volta para casa o assunto me acompanhou... Nem bem o ano chega ao seu final e os profetas do apocalipse se proliferam de forma assustadora, pensei. O tema cada vez mais recorrente, nos últimos tempos, tem mexido com o imaginário de muitas pessoas, que de alguma forma parecem ter  opinião formada sobre o que ocorrerá no final do ano que vem: transformação cósmica, inversão dos pólos magnéticos da Terra, ano do contato extraterrestre, a erupção do super vulcão americano, final dos tempos, o juízo final, começo da era de ouro... de aquário... E toda essa “histeria” se fundamenta na previsão catastrófica da cronologia do calendário Maia, que supostamente aponta para 21 de dezembro de 2012 como sendo o início do fim do mundo. Outras civilizações antigas também confirmam essa teoria ao indicarem essa mesma data como sendo a derradeira. Um dos mais famosos oráculos do mundo antigo, conhecida pelo nome de Sibila, viveu durante o império romano (século VI a.c) dentro de uma caverna vulcânica perto da cidade de Nápoles na Itália. Conforme uma antiga revelação apocalíptica feita por ela, diz que o mundo duraria nove ciclos de 800 anos cada um. Segundo a Sibila, a décima geração começaria aproximadamente nos anos 2000 d.c e que essa seria a última geração. O Livro das Mutações, o chinês I Ching, teria previsto com pertinência e precisão, a mesma previsão catastrófica para esse mesmo dia, mês e ano. Ainda, segundo a astrologia moderna, nessa data teremos o alinhamento completo de todos os planetas do sistema solar que, além de estarem alinhados entre si, estarão alinhados com o centro da via láctea, fato que ocorre a cada 26.000 anos. Para fomentar ainda mais essa possibilidade, livros, revistas e programas de tevês - Discovery e The History Channel-, estão explorando esse filão à exaustão, ainda que com muita competência, já que depois de algumas horas de exibição dos documentários dá vontade de armazenar água, comida, construir um abrigo subterrâneo blindado, e até mesmo se antecipar aos fatos catastróficos e cometer suicídio... Coisa de doido!
 Indiferentes ao tema, no entanto, estão os céticos, que já se acostumaram com as previsões apocalípticas que a própria humanidade tem traçado, ao longo dos tempos, para si mesma. Foi assim na virada do século, em 11/11/11, e tantas outras datas que nem vale à pena aqui citar. Porém, diante dessa possibilidade sinistra e assustadora, que está sendo desenhada para o próximo ano: o Caos - que na mitologia grega era o deus primordial, e representava a desordem inicial do mundo - fica a pergunta: por que esse tema exerce tanto fascínio e medo nos homens? Talvez seja pela culpa. Ciente de sua falta de responsabilidade com Gaya, a mãe Terra, ele deseja desaparecer para que o planeta possa voltar ao equilíbrio novamente. Será isso ou o ser humano está cansado de sua própria existência? De uma coisa estou certa, ele ainda teme a morte e o castigo do inferno eterno, aquele descrito pelo Dante Alighieri, na Divina Comédia.
         Para nossa sorte, as certezas de cataclismos sinalizadas por diferentes mitologias trazem também a promessa de um mundo novo, cheio de virtudes. O problema é que essa nova era será exclusiva dos afortunados, dos arrebatados, dos abduzidos, dos elevados, dos glorificados... dos puros de coração. Os impuros não terão vez nesse paraíso “tropical” prometido. Como já disse o poeta romano Juvenal O destino dará reinos aos escravos e triunfos aos cativos”.
 Então, quem são esses eleitos que escaparão do destino trágico, reservado aos meros e pecadores mortais? Certamente não serão os beatos arrogantes, cheios de preconceitos, que julgam a tudo e a todos e que pedem a danação do fogo eterno aos seus semelhantes. Contudo a esperança que faz parte do imaginário humano é a de estar entre os escolhidos que sobreviverão ao trágico destino reservado à humanidade. Essa expectativa praticamente se confunde com o desejo desesperador de escapar de triste sina, ou seja, de uma morte imposta pelo castigo divino.
Assim, enquanto 21 de dezembro de 2012 não chega, e diante dessa nefasta possibilidade de essa ser a data final, céticos e crentes aguardam de um jeito cínico e nervoso pelo Caos...  Apocalipse, Armagedon,  Ragnarok ou qualquer nome que se queira entre esses e tantos outros não elencados. E se essa for uma verdade da qual não pudermos evitar, o melhor que temos a fazer é tentar a elevação espiritual já que Não poucas vezes esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele”, Jean de La Fontaine, escritor francês. Quem viver verá. Ou talvez não.

sábado, 26 de novembro de 2011

Aprisionados pelo corpo

Finalmente uma campanha que valoriza os diferentes biotipos femininos

 
 milhões de anos, o corpo humano vem se transformando e evoluindo para se adaptar ao ambiente e assim poder se desenvolver. Portanto, torna-se fundamental que tenhamos com ele uma relação harmoniosa. E, segundo o codificador do espiritismo, o francês, Allan Kardec, O corpo existe tão somente para que o espírito se manifeste” . Partindo dessa premissa, muitos acreditam que a saúde do homem está condicionada aos seus pensamentos. Talvez por isso haja uma propagação dos livros de autoajuda, onde o pensamento positivo é incentivado como forma de se manter o vigor corpóreo, o que confirma a famosa citação latina, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal, Mens sana in corpore sano”. No entanto, chegamos às portas do terceiro milênio, num mundo dominado pela cultura exagerada a corpos, ora esqueléticos ora “malhados” demais, e onde ninguém parece estar muito preocupado com a saúde mental. Conforme o escritor francês François La Rochefoucauld “Temos mais preguiça no espírito do que no corpo”. Contudo, essa inversão de valores têm levado muitos indivíduos a extrapolarem a racionalidade, através de regimes mirabolantes, de cirurgias plásticas, do consumo de esteróides e anabolizantes... A questão toda está, mais uma vez, em volta da padronização definida pela ditadura social. O assustador nisso tudo é que pesquisas recentes apontam que a maioria das pessoas está insatisfeita com o seu corpo, e que se submeteria a plásticas corretivas. Segundo o antropólogo francês, David Le Breton, em seu livro “Adeus ao Corpo”, o ser humano está, plasticamente, se “moldando” conforme sua vontade, porém "Ninguém deve culpar-se pelo que sente, não somos responsáveis pelo que nosso corpo deseja, mas sim, pelo que fizemos com ele", disse, certa vez, o escritor gaúcho Érico Veríssimo.

       A imagem corporal está intrinsecamente associada ao conceito individual que o homem tem sobre si mesmo. Diante disso, tudo leva a crer que o ser humano virou um produto de marketing, e aquele que não se enquadrar dentro desse “pacote” não é merecedor de crédito, por isso é excluído ou é conduzido ao afastamento social. Direcionados por esse viés homens e mulheres peregrinam pelas academias de ginásticas, clínicas de estética, spas etc, buscando de forma doentia por “tratamentos” milagrosos e/ou alternativos, mesmo que para isso tenham que ferir, danificar ou modificar seus corpos, dando um caráter patológico a esse ritual, cuja tentativa desesperada nada mais é do que alcançar o padrão vigente de beleza. Essa ultrapassagem dos limites do bom senso, todavia, nem sempre garante ao sujeito, que venera corpos “plastificados”, o sucesso dos artifícios por ele usados, e o tiro acaba saindo pela culatra. Até mesmo dentro do universo da moda existe uma dicotomia, que menospreza esse comportamento compulsivo e doentio pela veneração ao corpo, A moda é um circo cheio de palhaços que se levam muito a sério declarou o fundador da agência de modelos Elite, John Casablancas.
Essa metamorfose arquitetada pelo homem, contudo, não consegue transpor a prisão corporal em que ele se encontra, isto é, a mente não acompanha o corpo, e, infeliz, o homem contemporâneo, devido ao seu biotipo, geralmente, não consegue se adequar ao padrão de beleza imposto pela sociedade, ficando cativo dos seus anseios e frustrações. Essa apreciação, entretanto, leva à conclusão de que a imagem ganhou de fato predomínio sobre a argumentação. Então é isso, nossa sociedade propõe um conceito equivocado e desumano, num momento em que impõe um modelo de corpo que, segundo ela, deve ser padronizado esteticamente de acordo com as exigências do “mercado” podendo variar do belo, magro, alto e saudável - mesmo que este último quesito seja questionável - ao “sarado” e/ou “bombado” artificialmente, cujas implicações, em ambos os casos, afetam diretamente a vida das pessoas, no momento em que desorganiza aspectos fisiológicos, emocionais, culturais e sociais.
  
O professor japonês Hirochi Ishiguro
 e o seu alter ego Geminoid HI-1
CYBORG A discussão é antiga, o homem sendo substituído pela máquina... A inspiração partiu das telas de cinema, que entendeu o temor humano de ser trocado por robôs e andróides. A conspiração se fazia sentido ou não já é outra história. Atualmente, influenciado pela indústria da moda e pela mídia, o ser humano se mutila para se tornar cibernético: frio e imortal, alguém sem expressão, talvez um cyborg, já que virou pecado mortal ter um corpo envelhecido e flácido: com rugas, celulites, estrias e sem implantes de silicone ou botox. “... a mídia impôs padrões de beleza que atendem somente aos interesses comerciais”, declarou recentemente, em entrevista à ISTOÉ independente, o célebre cirurgião plástico, Ivo Pitanguy. O incentivo cruel vem, também, das passarelas, onde modelos andróginos desfilam roupas como se fossem “cabides ambulantes” - o irônico é pensar que a moda é feita para todos. O mundo não precisa de pessoas obcecadas pela estética do corpo, precisa mesmo é de pessoas melhores”, observou o estilista brasileiro Jum Nakao. Contudo, ao sentirem-se traídas pela sua constituição física, muitas pessoas são levadas a atentar contra o próprio corpo, quando cometem contra ele verdadeiras atrocidades. Essa morfofobia ao contrário de corrigir, acentua ainda mais os defeitos e desfigura completamente a imagem humana.

Em suma, cada vez mais plastificado o corpo humano vai deixando de ser carne para tornar-se sintético. Não haverá demora até que a única coisa “real” no homem seja sua mente, que se tornará cativa de um corpo cibernético. Então, aprisionado por este modelo “artificial” de beleza, a imortalidade e o vazio, finalmente estarão inseridos na vulgaridade que se tornará a vida humana. O aspecto positivo está no fato de que não haverá lágrimas para o arrependimento... Mas como já disse o poeta alemão Friedrich Novalis, “Só há um templo no mundo e é o corpo humano. Nada é mais sagrado que esta forma sublime. Inclinar-se diante de um homem é fazer homenagem a esta revelação na carne. Toca-se o céu quando se toca um corpo humano.”






terça-feira, 22 de novembro de 2011

O rei está nu

Obra de Salvador Dali

No
mundo globalizado, a arte mesmo sendo multifacetada deve, por sua característica singular, atingir o âmago do ser humano. Naturalmente modelada pelos fatores históricos e sociais, a arte, por seu aspecto “transgressor”, renova a visão do homem sobre o seu próprio jeito de ver o mundo físico, mental e espiritual, o que torna essa manifestação universal e atemporal. Entretanto, o objetivo desse texto é defender o argumento de que todo ser humano é um artista em potencial, mesmo que o conceito de arte seja subjetivo, podendo ainda variar de acordo com a época e cultura, ela pode influenciar o modo como nós decidimos viver a realidade. Assim sendo como podemos padronizá-la? Cada um, a sua maneira, desempenha o seu papel artístico. Então, por que rotulamos o artista como sendo uma espécie de “deus” quando sua manifestação nada mais é do que um talento particular e natural.  Dentro dessa visão reservada, vejo metodologia no modo como o pedreiro assenta os tijolos; o marceneiro transforma a madeira em mobiliário; o agricultor prepara o solo para que possa receber as sementes que servirão de alimento; a dona de casa arranja o lar... Enfim, todas as ações “produtivas” levam o homem a desenvolver suas habilidades naturais e artísticas, seja no campo intelectual, físico e espiritual, e isso eleva toda obra à condição de arte. Obviamente os ditos intelectuais se contorcerão com a minha definição tão pueril. Porém, não se esqueça de que foi uma criança que percebeu que o rei estava nu, alusão que faço ao conto de Hans Christian Andersen, onde todos os adultos da côrte fingiam que o soberano vestia finos trajes, somente para agradá-lo, quando na verdade era a sua vaidade e arrogância que o colocara numa situação ridícula  e embaraçosa, diante dos súditos “ignorantes”.

Pietá de Michelangelo
  No entanto, mais do que a expressão de uma simples linguagem a arte deve, sobretudo, ter o intuito de comunicar integralmente, ou seja, é preciso entendê-la também através do seu contexto. Assim ressaltou o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “Temos a arte para não morrer da verdade”. Seguindo esse raciocínio se pode citar o teatro, como forma primitiva e milenar de elevar a arte à sublimação, já que possui como objetivo principal o poder de levar o prazer da participação coletiva. Embora eu não seja uma “expert” neste assunto, procuro seguir a minha intuição, sempre que vejo uma obra de arte. Assim sendo, busco na interpretação daquilo que observo uma análise “verdadeira”, isto é, procuro entender a proposta daquilo que supostamente está à mostra. Portanto, deixo a hipocrisia de lado, em alguns momentos, para colocá-la em xeque.
Quadro de Van Gogh
Na semana passada, a convite de uma amiga, visitei uma exposição de arte contemporânea de um escultor (não me ocorre, no momento, a sua naturalidade) que estava de passagem pela capital gaúcha. A obra apresentada por ele era composta por vinte peças feitas com as “sobras” de oficina: parafusos, pregos, roscas, porcas, fios, arames etc. Àquelas esculturas o artista deu um formato peculiar, porém diante daqueles ferros escovados e retorcidos, fundidos em peças disformes e frias, me fiz a seguinte pergunta? Não estaria eu, também, diante de um rei nu? Embora cada um dos convidados tivesse à mão um folheto explicativo sobre a individualidade da peça, confesso que não vi naquela exposição nenhuma obra de arte. Mas como a noite ainda reservava algumas surpresas, descobri que se eu desejasse levar alguma daquelas esculturas, teria que desembolsar um valor substancial, coisa que eu não pretendia fazer mesmo que estivesse “nadando em dinheiro”. Não, definitivamente aquelas obras de arte não combinavam com a minha sala, nem estavam de acordo com o meu gosto e/ou bolso. A complexidade desse tema, no entanto, pode levar o prezado leitor a falsa ideia de que eu seja uma “entendida” no assunto. É evidente que eu compreendo que a arte contemporânea se divide em vários segmentos: abstracionismo, surrealismo, dadaísmo... Ainda assim ela precisa ter essência e transmitir sensibilidade. “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol”, declarou Pablo Picasso.
Obra de Pablo Picasso
É nesse ponto que eu estaciono... Ali naquele local haviam somente manchas amarelas... As obras que estavam expostas àquela oficina eram totalmente desprovidas de sentido. Não estavam conectadas nem com a racionalidade nem com a sensibilidade. Ah, mas então o caro leitor dirá que esta era a verdadeira intenção do artista. Muito bem, se este era o objetivo do artesão, fundir ferramentas umas nas outras, para transmitir o vazio, então ele e eu temos o mesmo talento, ou seja, vamos fazer com que as pessoas sintam-se num vácuo intelectual, sem entenderem nada do que venham a visualizar com a arte proposta. Por isso me desculpem os intelectuais de plantão, mas usar a ignorância do povo para impor um engodo é, sobretudo, uma tentativa arrogante de suborno à sua capacidade intelectual. Portanto dentro dessa argumentação fica a certeza de que existe, sim, arte em tudo, porém podemos classificá-la, assim como o fez o poeta Fernando Pessoa “O fim da arte inferior é agradar, o fim da arte média é elevar, o fim da arte superior é libertar”.
Deste modo, seguindo os meus instintos básicos, me retirei, à francesa, daquela exposição, pois sou autêntica, e, igual a criança, recuso-me a participar de um embuste artístico. Embora eu deseje boa sorte ao tal escultor - que eu não tenho a menor intenção de denegrir a imagem. E, quem sabe diante das dificuldades financeiras eu não saia, também, a catar “lixo” pelas oficinas da cidade, para fazer a minha própria arte. O problema será convencer as crianças de que não se trata de “fazer arte”, mas de compor uma obra de arte. Concluo este texto com uma frase dita pelo magnífico artista Leonardo da Vinci que A lei suprema da arte é representação do belo”.  

domingo, 13 de novembro de 2011

TPM loucura anunciada


E
sse texto tem um camuflado pretexto de driblar o meu desejo incontido de comer chocolate... pavê, sorvete, pudim, amendoim, castanhas, avelãs, tortas, pizza, costela assada, pães e “nadica de nada” de salada verde, vermelha, amarela, roxa... Ai de mim! Na realidade a intenção, enquanto aqui escrevo, é enganar essa ansiedade que tem nome e sobrenome: Tensão P-Menstrual (TPM). É essa dissimulada que ao se aproximar, todo mês, lentamente, vai trazendo consigo uma fome ridícula e um aglomerado de problemas, ou melhor, faz com que eles se acentuem numa proporção absurda: é a mente conspirando contra o corpo. Então, como fazer uma análise imparcial da TPM, quando me sinto tão atingida por esta que potencializa minhas “neuroses”? Assim acontece quando me deparo com roupas sujas, ainda que estejam colocadas devidamente dentro do cesto; com o vizinho “sem noção” e seus cachorros – tão mal educados, quando soltos, quanto o próprio dono; com um pretenso “cliente” solicitando, pela enésima vez, um orçamento para o mesmo projeto de revista, que eu já sei que ele não vai fazer, novamente; são as contas do mês acumulando... blá, blá, blá... Socorro! Mas é como eu sempre digo, “nada é tão ruim que não possa piorar”. Então imagine a TPM coincidindo com a transição da fase lunar para a lua cheia. É a “loba” uivando! Sai de baixo! Não tem para nenhum lobisomem. A louca está solta! Calma! Muita calma nessa hora. O importante é respirar fundo e pedir Que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor, e a outra metade... também”, frase do poema Metade do músico Oswaldo Montenegro, cuja linda mensagem evidencia que nem todo homem é insensível. Será?
Hormônios à parte, várias outras situações fazem com que as mulheres fiquem ainda mais "doidonas", nesse período. Todavia, não se pode esquecer de que há um lado cômico embutido na fase da mulher com TPM. Sim, porque inserida, disfarçadamente, nesse contexto dramático, está a comédia, cuja magnífica interpretação teatral confere à mulher o exímio talento de conseguir, ao mesmo tempo, desempenhar o papel de vítima e de algoz. É o máximo! Diga-se de passagem, isso exige muita competência feminina. Então, diante dessa confusão que é a vida daquelas que sofrem de TPM, aqui vão alguns conselhos àquelas que estiverem passando por essa Total Paranóia Mental, não coma por impulso, a culpa vem depois; não abra e-mails suspeitos – correntes e/ou propagandas - isso vai deixá-la ainda mais tensa e irada; não assista a filmes românticos, pois o mar de lágrimas que se seguirá, será patético e tende a durar dias; evite aqueles encontros indesejáveis e conversas desagradáveis com pessoas chatas, parentes inconvenientes, vizinhos bisbilhoteiros, colegas invejosos, e, principalmente, com aquele seu ex... namorado, marido, ficante, amante... que você deixou de esbofetear - pelas mentiras e traições (dele) -, por pura elegância e amor próprio, mas que agora com o advento da TPM - como a amabilidade e orgulho não fazem o menor sentido mesmo -, você não pretende desperdiçar a chance, já que teve a oportunidade de encontrá-lo por acaso... No entanto, cuidado antes de tomar uma atitude impensada! Lembre-se que o arrependimento e a razão costumam vir logo após o término da menstruação.
Procure o equilíbrio -  Assim sendo, podemos constatar que diante desse quadro caótico que acomete a maioria das mulheres, talvez esse fosse o motivo principal pelo q
Ah, um só não faz mal!
ual os povos antigos consideravam sagrado o período pré-menstrual. O momento era de total recolhimento e meditação, quando a mulher na plenitude de sua feminilidade estava elevada ao máximo, magicamente poderosa e plenamente integrada à natureza e ao ciclo lunar. Também, nesse período, elas eram liberadas das tarefas cotidianas e passavam "esses dias" repousando, sintonizando-se com as mudanças ocorridas e com as sensações que vinham à tona, liberando-se das energias antigas que seu corpo havia carregado, e, assim, se preparavam para a uma nova conexão com a fertilidade da Mãe Terra, da qual seriam portadoras no próximo mês. Ah, como eu queria muito tudo isso! Desse modo, sou obrigada a concordar, em número, gênero e grau com esses povos sensíveis e inteligentes, do passado, muito mais do que aqueles que, hoje, se consideram pretensamente contemporâneos.
A verdade é que estes dias “sangrentos” estão cada vez mais desequilibrados para as mulheres que precisam lidar com as exigências de uma vida “moderna” e atribulada, sem que com isso tenham um momento necessário de recolhimento e interiorização, que o período requer, por isso elas acabam sofrendo tantos sintomas desagradáveis: cólicas, dores de cabeça, tonturas, náuseas... O pior de tudo é que, geralmente, essa desordem  peculiar também termina por afetar toda a estrutura familiar.
Portanto, é provável que seja esse desajuste, provocado pelo choque entre o superficial e o espiritual, que elevou a mulher à condição de TPM, contrariando o que diz a tradição dos índios Cherokees, o momento da menstruação é um tempo de Luz. Entretanto, nós, mulheres, esquecemos que somos iluminadas pela Mãe Natureza, por isso é relevante que façamos com que a TPM seja um Tempo Para Meditação.
 Assim sendo finalizo esse tema avisando que aquela vontade explícita de comer chocolate... foi substituída, enquanto eu redigia esse texto, por uma enorme caneca de chá verde, uma maçã, duas ameixas e... por um bombom. Afinal de contas, não se pode menosprezar uma TPM de respeito.  E lembre-se que "A loucura é vizinha da mais cruel sensatez. Engulo a loucura porque ela me alucina calmamente." Clarice Lispector



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O medo que domina

O
Quem não tem medo da morte?
 ritmo de vida contemporâneo tem levado muitos homens e mulheres a tornarem-se vítimas de suas próprias expectativas. E, apesar de a vida humana ser multifacetada, somos uma espécie naturalmente imprevisível, ou seja, ninguém consegue prever o próprio futuro. Cada um de nós, a sua maneira, cumprirá sua sina, sem que possa ao menos tentar presumir o que lhe reservará o amanhã. Assim a história é para cada um de nós, particularmente, uma incógnita. Quem não gostaria de antever o rumo de suas escolhas e assim garantir um destino promissor e, ao mesmo tempo, desviar dos percalços que por ventura surgir durante sua jornada. Portanto, afirmar que a existência do homem sobre a Terra reserva muitas surpresas é, no mínimo, redundante. E, talvez, seja por isso mesmo que muitas pessoas escolhem uma vida “previsível”, já que sair de sua zona de conforto pode ser arriscado e implicar em enfrentamento dos seus próprios “fantasmas”, como o medo do fracasso profissional, afetivo e emocional... Torna-se, relevante, entretanto, lembrar que essa questão é tão antiga quanto perturbadora, pois o poeta e dramaturgo inglês, William Shakespeare, já disse que Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”.

O medo, todavia, advém da relação desequilibrada que o indivíduo, por força do sistema, estabelece consigo mesmo e com a sociedade. Embora essa seja nossa emoção mais primitiva, ela tem duas funções básicas e antagônicas: proteger e dominar; a primeira sinaliza à precaução, então diante de um eventual obstáculo ou perigo, muda-se o caminho ou se retrocede; enquanto que a segunda impede um desenvolvimento intelectual e social, efetivo. Foram muitos os filósofos, historiadores, sociólogos, biólogos, antropólogos e psicólogos a discutir o assunto no decorrer dos tempos, até mesmo porque este tema faz parte da essência humana. Ralph Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse Faça aquilo que você receia e a morte do medo será certa”. Contudo, é preciso que haja um enfrentamento diante desses temores, para que se legitime uma evolução humana, de fato. Outro aspecto importante a ser ressaltado é que dentro desse contexto, ironicamente, talvez, o que mais nos assombre seja o medo da morte, já que somos o único ser vivo que tem a consciência de sua mortalidade, e isso é realmente apavorante. Entretanto, o medo, este sentimento difuso, nem sempre fácil de determinar, queira ou não, permeia a vida do homem, desde os seus primeiros passos, e contribui decisivamente para a tomada de algumas decisões. Deste modo será ao longo dos anos, devido aos estímulos que receberá que este sentimento irá ou não se acentuar. Assim pode-se afirmar que essa sensação é o que causa, constantemente, profundo desconforto à consciência. Porém, como evitar esta sensação tão angustiante, que por vezes paralisa nossas intenções, impedindo que ações contundentes sejam tomadas. Algumas pessoas, devido aos seus temores “aflitivos”, acabam por desenvolver certas fobias; algumas chegam a desenvolver a síndrome do pânico, deixando, com isso, de viver uma vida plena. Esse medo social, no entanto, reflete o estado de insegurança do sujeito que se deixa apanhar em sua própria armadilha, isto é, o mundo idealizado por ele não possui defesas, dessa maneira não consegue “planejar” uma estratégia que o faça vencer as barreiras que surgirão à sua frente. Para esse indivíduo essa angústia existencial torna-se mais forte do que a vontade de lutar pelo que realmente deseja, ainda que isso, muitas vezes, faça parte do seu subconsciente, que teme a realidade que a vida, de fato, oferece.

Logo, é comum encontrarmos pessoas que se isolam em “ilhas” sociais, onde o risco é calculado e previsível, qualquer coisa que fuja à regra, pode implicar numa insegurança “histérica”, onde as sombras tomam formas sinistras.  Partindo, então, do pressuposto que todos desejam a mesma coisa: alcançar a felicidade, fica aqui a seguinte pergunta: por que algumas pessoas desistem tão facilmente de lutar pelos seus propósitos? A resposta, talvez, esteja na falta de estímulo e coragem e no medo de arriscar. Mas o fato é que “Quem vence sem risco, triunfa sem glória... Não tenha medo da vida, não tenha medo de vivê-la...” aconselha o psiquiatra e escritor brasileiro Augusto Cury.
O medo é um mostro
 que se fortalece
 da fraqueza humana

Em resumo, estamos vivendo praticamente num mundo de medrosos, ou seja, mesmo aquele que obtém êxito profissional, emocional e físico, sente medo por, quiçá, não merecer tais méritos. A relevância desse assunto evidencia, também, que as pessoas estão vivenciando, cada vez mais, os sonhos dos outros ou aquilo que consideram ser mais “produtivo” socialmente, isto é, a opinião alheia é muito mais significante do que a sua própria vontade. Nesse caso se pode afirmar que o melhor antídoto contra o medo de viver, como questão máxima, seja o autoconhecimento que proporciona ao homem a necessária capacidade de se conectar ao mundo de forma plena e segura. Somente quem se ama e se respeita consegue viver em harmonia consigo mesmo e com o seu semelhante.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Geração depressão

De um momento para outro a vida perde o sentido. A estrutura emocional fica paralisada e comprometida. O sucesso, que havia sido afiançado pelos pais, amigos, professores e pela própria profissão, não aconteceu, ao menos não do modo idealizado e desejado. Diante desse “fracasso” o sujeito, desanimado, se deixa abater pelos próprios pensamentos. Esse pessimismo aliado a falta de perspectiva faz, então, com que ele veja um mundo incolor. Essa profunda desvalorização é o que tem levado muitos indivíduos à depressão, que enfraquece o senso de concentração e observação. Os sintomas são praticamente os mesmos: desânimo, alterações de humor, apatia, cansaço e tristeza; e, para piorar, este parece ser o mal do século. Portanto, dentro deste contexto, torna-se importante aprendermos a lidar com as diversas alterações do nosso estado de ânimo, aliás, é bom lembrar que do momento em que acordamos até a hora de irmos dormir, dependendo dos fatos ocorridos, nesse período, em casa, no trabalho, no trânsito, na rua, e até mesmo através das pessoas que encontramos, somos ou não estimulados positivamente. Essa “manifestação” diária, contudo, precisa ser elaborada de forma reflexiva, para que os problemas não venham a se acumular. Entretanto é bom seguirmos o conselho do renomado escritor Augusto Cury, quando diz “Nunca despreze as pessoas deprimidas. A depressão é o último estágio da dor humana”. Por isso mesmo acredito que não somente somos a geração dos deprimidos como estamos passando às gerações mais jovens a mesma perturbação, já que em certos casos, esse abatimento parece ser contagioso, isto é, os pais estão passando o esboço de suas malfadadas experiências aos filhos, pois a criatura costuma se espelhar no seu criador.
Dessa forma estamos levando adiante essa desordem "epidêmica", já que qualquer pessoa, independente de posição social, raça, idade ou sexo, pode ser acometida por uma profunda melancolia, sem que perceba. O fato é que essa inquietação manifesta-se de forma lenta e gradual, fazendo com que o indivíduo perca aos poucos o controle de sua própria vida. Mas o que tem levado tanta gente a sofrer do mesmo mal? Talvez a resposta esteja na combinação de uma vida permeada por valores superficiais com a falta de objetivos. E, conforme afirmação do médium Chico Xavier Tudo que criamos para nós, de que não temos necessidade, se transforma em angústia, em depressão...”. Talvez o reflexo dessa desordem social esteja no modo de vida que estamos levando: com o vício do álcool e das drogas a atormentar ainda mais nossas almas, perdidas pela falta de uma verdadeira qualidade de vida, cuja essência humana é sumariamente desprezada pelos valores extrínsecos.
  O paradoxo dessa situação está no fato de que a própria sociedade talvez seja a única responsável por este quadro deprimente – perdoe-me pelo trocadilho - em que está vivendo, ou seja, no momento em que propaga e idealiza um modelo de felicidade fictício, comum e possível a todos. Todavia, quando o indivíduo descobre que este arquétipo não condiz com a realidade, o sentimento de frustração e de autopiedade, assim como uma profunda sensação de culpa e fracasso, passam a assombrá-lo constantemente. Assim sendo, os diálogos internos negativos reforçam a desesperança. Então, diante dessa constatação de que a felicidade não é permanente, mas constituída somente por momentos prazerosos, a pessoa é levada a acreditar que a sua vida não tem propósito algum, e diante disso se deixa abater pela apatia, “alimentando” o rancor e o pessimismo por achar que a vida dos outros, em comparação à sua, é muito melhor. A insatisfação passa a dominá-la, e junto com isso vêm também a agressividade e a tristeza Por isso aqui fica um conselho de William Shakespeare, “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Talvez, nesse caso, a depressão seja a toxina ingerida paulatinamente, em nome de mágoas passadas . Portanto, faz sentido a frase de Larisse Ribeiro quando afirma que “Depressão nada mais é que um ciclo vicioso pessimista. Quanto mais se pensa, mais se enfraquece; quanto menos se age, mais se afoga”. 
 É óbvio que esta é uma maneira particular de uma leiga interpretar esse transtorno mental. Entretanto, sem uma visão mais realista de suas existências, certas pessoas passam a “romancear” suas vidas, como se fossem contos de fadas, cujo grande final é ditado pela frase E viveram felizes para sempre...” Contudo, é sempre bom lembrar da famosa frase do poeta Vinicius de Moraes  “Que seja eterno enquanto dure...” Até porque a felicidade é um conceito bastante relativo... Na verdade estamos difundindo, cada vez mais, o falso conceito de que tudo podemos e devemos fazer, e mesmo que alcancemos todos os objetivos idealizados, nada garantirá que a felicidade almejada será encontrada, já que a sensação de satisfação pode estar nas coisas simples da vida. Então, que tal amarmos e nos dedicarmos mais aos nossos pais, cônjuges, filhos, irmãos, amigos e até mesmo aos nossos animais de estimação? Amar e perdoar são antídotos eficazes no combate ao veneno que leva à depressão, e por consequência à morte.



terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vizinhos à cerca


O
 texto em pauta tem a modesta intenção de tentar entender o motivo pelo qual, cada vez mais, os vizinhos estão se desentendendo, isto porque a briga entre eles, segundo a Polícia Militar, representa 80% dos chamados nos finais de semana. A essa ocorrência a PM costuma chamar de desinteligência, o que faz sentido, já que um pouco de tolerância seria o suficiente para a solução da maioria dos problemas.  O fato faz lembrar a bela crônica, escrita pelo magistral Rubem Braga, “Recado ao 903”, que aborda de forma brilhante essa difícil, porém necessária, relação humana. O caso narrado pelo escritor nos leva a refletir sobre este ambiente social codificado por regras e que, por nossa própria escolha, nos isola, cada vez mais, dentro de muros gradeados e paredes de tijolos e argamassa. O "concreto", neste caso, tem por objetivo transformar as relações sociais em  virtuais.

 Ainda, segundo definição do dicionário, vizinho é aquele que está perto, próximo, é o nosso semelhante... Será? É certo afirmar que precisamos encontrar, em nosso cotidiano, um jeito de convivermos em paz com aqueles com os quais somos “forçados” a dividir cercas e/ou muros e paredes limítrofes. Este é o verdadeiro conceito de viver em  comunidade. Há sempre alguém à direita ou à esquerda, acima ou abaixo, indicando que não estamos sozinhos, e que a civilidade precisa ser praticada de forma pluralista e sem preconceito. Para isso é recomendável que cada um, a sua maneira, faça valer o seguinte lema: Viva e deixe viver, cujo intento é a demonstração de respeito à liberdade do outro; ou seja, à convivência social é imprescindível à prática da tolerância e da solidariedade. No entanto, é bom seguir o conselho de um antigo provérbio popular "Ama teu vizinho, mas não derrubes a tua cerca." Essa sensata recomendação nada mais é do que um aviso sutil: não abuse, mantenha certa distância”, já que algumas pessoas, por ignorância,  costumam ser invasivas e não conseguem perceber que o uso do espaço comum a todos os moradores, seja no condomínio, na rua, no quiosque, na piscina, no playground..., deve obedecer a determinados critérios e códigos de conduta, cujo intuito é garantir que as “fronteiras” da boa vizinhança não sejam ultrapassadas, assim é possível evitar eventuais rupturas ou desentendimentos. Portanto, reveja sua atitude, antes de adentrar à casa do seu vizinho sem aviso prévio ou sem ser convidado, pois esta é uma maneira grosseira de impor a sua presença.
Outro aspecto relevante para um bom convívio social é a importância de se manter um olhar disciplinado em direção a propriedade do outro. Logo, torna-se crucial à política da boa vizinhança que a inveja e a curiosidade sejam “trabalhadas” intrinsecamente como medida preventiva à amizade de porta/portão.
Diante desses seres – os vizinhos -, tão singularmente diferentes entre si, há uma efetiva e constante necessidade de adaptação e de entrosamento. Aquele que entende esse processo social não costuma se exceder nos ruídos seja através do seu animal de estimação ou no seu próprio convívio familiar. O bom vizinho não obriga o outro a ouvir o seu repertório musical, já que tem consciência de que gosto não se discute, assim ele escuta de forma educada o seu pagode, samba, forró, bossa nova, milonga, gospel, rock and roll, bolero, música sertaneja ou popular brasileira..., além de outras, num volume tolerável. Essa racionalização é o que possibilita uma convivência harmoniosa junto à comunidade a qual se está inserido, e demonstra que o sujeito compreende o que diz a sábia frase o direito de um termina quando começa o direito do outro”. Entretanto, sem essa compreensão, algumas pessoas são levadas a cultivar certo rancor em relação aos seus vizinhos, assim como o famoso escritor e colunista norte-americano, Ambrose Gwinett Bierce, que proferiu a seguinte frase "Vizinho: indivíduo que, segundo os mandamentos, devemos amar como a nós próprios, embora ele faça tudo o que sabe para nos levar à desobediência”. Contudo, não devemos desenvolver ou alimentar relações de amizades profundas com aqueles que, segundo alarde nossa intuição, possuem hábitos que vão de encontro aos nossos instintos básicos. Esse procedimento não nos torna arrogantes, porém sensatos e precavidos. No entanto, é importante salientar que por mais que sejamos parecidos com os nossos vizinhos e eles conosco, seremos, em algum momento, “elementos estranhos” à sua natureza: costumes, opiniões e crenças. Deste modo torna-se imperativo o desvio de assuntos controversos ou mesmo sobre a vida alheia dos outros vizinhos; atitude esta prudente e indispensável à socialização comunitária. Não que com isso não se possa encontrar nos vizinhos verdadeiros amigos, porém é bom lembrar que “cautela e canja de galinha, como diziam nossas avós, não fazem mal a ninguém... exceto à galinha”, e uma amizade verdadeira vem com o tempo e traz confiança. De acordo com esta perspectiva é possível afirmar que não se deve criar grandes expectativas em relação aos vizinhos. Mas que eles podem nos surpreender de forma positiva isto é um fato, desde que você também se disponha a ser um bom vizinho.
Em resumo, a garantia de uma boa relação entre vizinhos pode ser sintetizada numa única e mágica palavra: educação, cuja abordagem específica, neste caso, está na cordialidade e na formalidade, que jamais devem ser esquecidas, por mais que  estes sejam nossos amigos. No entanto, ter um bom vizinho é como ter conseguido o prêmio máximo de um bilhete sorteado pela loteria. Embora o seu valor seja inestimável!