sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A criatura e o criador

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C
onhecidas como Rede Social Primária ou Informal, as redes de relacionamentos como Orkut, Facebook, Linkedin, Monster, em tese, formam-se a partir de relacionamentos entre indivíduos, que em certa fase de suas vidas estabeleceram algum contato, primário ou informal. São pessoas que fizeram ou ainda fazem parte da vida cotidiana do homem moderno: amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos, instituições sociais... Cada um de modo singular proporciona ao sujeito compor sua própria identidade, ao menos essa é a intenção, já que muitos agregam famosos - ilustres desconhecidos -, para assim angariar status maior perante o grupo de amigos escolhidos. Na verdade, esse intrincado procedimento leva a pensar que nossas páginas de relacionamentos são tão artificiais como o monstro criado por Mary Shelley, Frankenstein, quando recebem frequentemente membros tão distintos. Assim sendo, podemos dizer que quando optamos por nos conectar com centenas de pessoas, adicionando elas a nossa  página virtual, estamos criando um clone moderno do monstro, cujo nome poderia ser Facenstein. O problema é que criatura e criador nem sempre conseguem conviver juntos, e comumente fica difícil identificar um do outro.
Contudo, como o próprio doutor Victor Frankenstein, nessa tentativa de conectar e juntar personalidades tão diferentes, corre-se o risco de uma contumaz tragédia, ao se perceber como uma união  desordenada  de  partes desconhecidas  pode instituir algo tão irreal e subjetivo e, sobretudo, sem uma identidade definida. Sim, até mesmo porque sem noção da dosagem muitas pessoas se expõem à rede de maneira exagerada. Diante desse fato não tarda a ocorrência do arrependimento por vaidade e até mesmo por ansiedade, já que a intenção é mostrar o quanto se é culto, bonito, bondoso, batalhador, religioso, apaixonado, rancoroso, bem sucedido, emblemático, vingativo, conquistador, invejoso, simpático ou antipático... Vale tudo para chamar a atenção. E esses membros tão desconexos caem na pluralidade das páginas compartilhadas; eis novamente o surgimento do Facenstein. Devido a esse comportamento acintoso muitos são “amputados”, quando têm sua assinatura bloqueada ou cancelada sumariamente sem aviso prévio.
O paradoxo do monstro, porém, está na dualidade de sua personalidade: poética e paranoica, fazendo com que todas as partes – os faceamigos – mergulhem facilmente na paródia que se torna a criatura virtual, que, frequentemente, recebe novos agregados à sua personalidade, “novos amigos”, geralmente garimpados pela peneira da rede. Um constante processo que pode se transformar em vício, quando possui, ainda, uma ferramenta que fornece a opção curtir, comentar e compartilhar. É aqui que o bicho pega, quando o indivíduo se desnuda completamente. Embora muitos não percebam, os sites de relacionamentos são em menor escala uma espécie de reality show, ignorando esse fato muitas pessoas esquecem de que estão sendo observadas, e expõem suas fraquezas, preferências religiosas, culturais, sociais e até mesmo sexuais. Desse modo cada um a sua maneira vai se “despindo” ao evidenciar sua predileção por determinados assuntos: futebol, política, roupas, maquiagem, filosofia, animais, viagens, religião... Porém, não tem jeito, assim que o sujeito se insere nas redes de relacionamentos sua vida privada passa a ser do conhecimento de todos. Tudo acabará sob o julgamento alheio. É quando tudo descamba para a desconstrução do relacionamento civilizado, quando há uma contumaz invasão de privacidade. Então vem a pergunta que não quer calar: por que adicionamos pessoas tão inexpressivas ao nosso modo de viver, se elas estão longe de pertencer ao nosso círculo de amizades ou dos nossos interesses reais, e o pior se não conhecemos minimamente o seu caráter?
Algumas vezes, quando percebo alguns comentários de amigo para amigo, mas perfeitamente dispensáveis pela ocasião e pela exposição à rede, me vem à memória a célebre frase de Rui Barbosa “Amigos e inimigos estão em posições trocadas. Uns nos querem mal, fazem-nos bem. Outros almejam o bem e nos fazem mal.”  

Os Jovens - No entanto, ao observar o comportamento dos jovens à rede se percebe nitidamente que eles sabem melhor lidar com o mundo virtual do que os adultos, e isso, sim, é extremamente positivo, pois seus relacionamentos são mais vaporosos. Creio mesmo que eles sejam mais sociáveis, e por estarem inseridos num mundo mais globalizado e eclético, aprenderam a lidar com as diversidades alheias, e como não costumam “deixar barato”, não mandam indiretas; a resposta é objetiva, sem subterfúgios. Dentro desse contexto, podemos observar uma adaptação mais efetiva e até mesmo produtiva inserida nessa comunicação digital, o que a torna muito mais proveitosa, já que eles não se limitam ao plágio ou mesmo a uma personificação fictícia, mesmo que compartilhem de fantasias ou brincadeiras. Nesse caso, isso significa que essa geração, que praticamente já nasceu dedilhando os teclados de um computador, mostra-se exatamente como parece ser; já em contrapartida os mais velhos buscam inserir conceitos abstratos em sua concretude existencial. Trocando em miúdos, gostam mesmo é de aparecer. E aqui eu preciso concordar com a minha filha quando diz que muitas pessoas costumam dar um crédito real a fatídica pergunta do facebook, “No que você está pensando?”, como se estivessem estiradas no divã de um analista qualquer, compartilhando com ele suas insatisfações e frustrações em tempo real. Assim esses sujeitos vão postando tudo o que lhes vêm à cabeça, sem medir as consequências. Como a vida cotidiana, principalmente a urbana, costuma ser estressante para todos, devido à correria, falta de trabalho, dinheiro, amor, solidariedade, segurança, e também devido ao excesso de expectativas que colocamos em cima de determinadas pessoas, as decepções são praticamente certas, assim o “Facenstein” passa também a ser usado como uma ferramenta de válvula de escape, tornando-se um lugar comum a todos que estão solitários, descontentes, apaixonados... E as páginas viram um diário virtual em tempo real, onde a intenção é não somente desabafar, mas o envio de recados indiretos ou direcionados aos seus desafetos: chefes, colegas de trabalho, amigos, vizinhos, parentes... Contudo é bom lembrar que essa “metralhadora giratória” nem sempre atinge o alvo, e o tiro pode sair pela culatra. Desse modo um amigo virtual pode passar facilmente a um inimigo real.

Então, só para recordar, se você escolheu adicionar alguém, sem ao menos conhecê-lo de fato e não consegue conviver com suas ideias, fotos... cancele sua assinatura, simplesmente. Não dê desenvolvimento ao Facenstein que você mesmo ajudou a criar...
Se gostou do texto por favor não deixe de curtir, comentar ou compartilhar, aqui ou no meu Facenstein!
LUZ E PAZ! 


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