quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Comemorações a álcool


S
egundo definição, hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui.  E ninguém melhor do que François duc de la Rochefoucauld quando sintetizou esse conceito ao revelar de maneira mordaz a essência do comportamento hipócrita: "A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude". Ou seja, todo hipócrita finge emular comportamentos corretos, virtuosos, socialmente aceitos. Sem a intenção de fomentar ainda mais o pessimismo do moralista e aristocrata francês, pego carona nessa premissa ao observar o comportamento humano em épocas comemorativas como o Natal e a Páscoa, onde a intenção cristã deveria ser exclusivamente a comemoração do nascimento e a ressurreição de Jesus Cristo. Porém, o intento torna-se, na maioria das vezes, uma festa pagã, onde o que vale mesmo é a ingestão absurda de bebidas alcoólicas, hábito cada vez mais bizarro e ameaçador. A cerveja e a aguardente, em especial, fazem parte desse contexto cultural, e geralmente são as mais incorporadas nessas reuniões sociais. As festividades, permeadas por situações de embriaguez, evidenciam esse caos social, onde o vício, mascarado de boas intenções, celebra a virtude daqueles que se declaram cristãos. 

     Tudo é diversão... e mau exemplo. Quando essa prática passou a ser considerada normal!? Idosos, adultos e adolescentes expondo-se de maneira irresponsável à frente de crianças, como se a bebedeira fosse uma coisa banal. O que os pais, no entanto, ignoram é que esse tipo de comportamento leva aos filhos a concepção errônea de que para o estabelecimento de laços sociais é necessário atravessar essa ponte perniciosa, cujo pedágio cobrado é a ingestão farta de bebida alcoólica. Entretanto, eles se esquecem que, uma vez cruzada essa ponte, retornar pode ser muito difícil. Assim, a falsidade dos devotos conduz às gerações mais novas um entendimento comportamental de que a bebedeira faz parte do pacote festivo da tradição cristã. Contudo, não raras vezes, são esses mesmos pais que exigem dos filhos um comportamento exemplar quando chega a hora de eles saírem para as “baladas” noturnas. Mas essa reversão de valores está equivocada, já que o exemplo, nesse caso, passa de pai para filho, e não o contrário. Por isso quando o jovem se insere nesse mundo tortuoso das drogas fáceis, talvez ele esteja a protestar pelos limites ausentes e pela falta dos bons exemplos de conduta, já que a família, quase sempre, tem sua parcela de responsabilidade. Por isso não adianta levar o filho à igreja, rezar, e, logo em seguida, se afogar em copos de cerveja, uísque, vodka, cachaça... As coisas não funcionam assim. Ou você dá o exemplo ou conte com a sorte. E é bom lembrar que não adianta chorar depois do leite derramado.

     Portanto esse modelo, que propõe uma interação social regada ao consumo excessivo de bebida alcoólica, nos leva a acreditar que o homem não sabe mais dialogar de “cara limpa”, isto é, não basta uma conversa animada e civilizada, o intuito é extrapolar, nem que isso provoque nos filhos repulsa, vergonha e/ou mau exemplo. Mas de quem é a culpa? De toda a sociedade que costuma incentivar o consumo de álcool, mesmo ciente de que esse também é uma droga psicotrópica. Ou seja, o alcoolismo não difere psicologicamente da dependência de outros tipos de drogas. Assim essa “carga negativa” é arremetida pela sociedade contra ela mesma, quando permite e incentiva de forma indiscriminada o consumo generalizado de bebidas que levam o indivíduo a uma situação vexatória e irresponsável perante seus pares, amigos e familiares e principalmente diante dos próprios filhos. E aqui cabe a famosa frase do escritor francês Gustave Flaubert “A fraternidade é uma das mais belas invenções da hipocrisia social”.
     É nesse momento que a hipocrisia dita ordem quando abandona a principal motivação do encontro festivo: tempo de troca de afetos e de matar a saudade. E o que deveria ser um momento reflexivo, alegre e benéfico a todos, não passa de um blefe, já que essa compulsão pela bebida tende muitas vezes a enganar a consciência para que assim sejam expostos os problemas emocionais: angústias e frustrações. Porém, é bom lembrar que a bebida só acentua o problema e comumente costuma gerar ainda mais, e que pessoas civilizadas devem agir, principalmente diante dos filhos, com o máximo de responsabilidade e dignidade. Vale aqui citar a célebre frase “Quem se modera raramente se perde” do filósofo chinês Confúcio.   
     Engana-se, entretanto, quem imagina que o intuito desse texto é a propagação da eliminação de bebida alcoólica nas comemorações festivas. Na verdade, a finalidade dessa matéria é chamar a atenção para o fato preocupante do aumento excessivo de pessoas embriagadas, que sem nenhuma responsabilidade, todos os anos, são capazes de colocar em risco, além da própria vida, a vida daqueles que juram amar, quando sem nenhuma consciência de sua ebriedade decidem dirigir.  Os números incontestáveis demonstram que é justamente nessa época do ano que o número de acidentes e a violência no trânsito aumenta consideravelmente, em relação a outros períodos do ano, consequências do alto consumo de bebidas alcoólicas. O que seria motivo para celebração da vida, rotineiramente, transforma-se em tragédia. Aquele que precisa  beber constantemente valendo-se de variadas desculpas deve, sim, procurar ajuda médica e psicológica, urgentemente. É importante ressaltar que se o objetivo das reuniões sociais é difundir a tradição e a fé cristã, e acreditando que Ele ressuscitou, fica aqui a pergunta para quem jura seguir os mandamentos divinos: acaso beber em demasia não causa desonra ao pai e a mãe, ainda que estes já não estejam mais neste plano físico? O que será que o aniversariante, Jesus, pensa ao “observar” que a maioria dos homens, pelos quais Ele ofereceu a própria vida, se embriaga, diante dos próprios filhos, em sua homenagem e memória?
                 Lembre-se, de nada adianta procurar a frente das coisas olhando de lado, POR ISSO BEBA COM MODERAÇÃO.
                                        FELIZ ANO NOVO!



Nenhum comentário:

Postar um comentário