quarta-feira, 29 de junho de 2011

Aprendizes de super-heróis


As
 crianças buscam, através das brincadeiras, recriar atitudes dos seus heróis e super-heróis, a quem aprendem a admirar e respeitar. Esses personagens super poderosos não só habitam o imaginário infantil como os influenciam de modo a que tenham coragem e pratiquem o bem, já que se aprende com eles que o mal existe e precisa ser combatido, sempre. Contudo, essa idiossincrasia ingênua faz com que cada criança, através do seu anseio individual, se identifique com um determinado personagem. Essa identificação tão singular fez com que eu, quando criança, desejasse ser a super-heroína Mulher Maravilha. Enquanto as meninas, normalmente, esperavam por um príncipe montado num cavalo branco - influenciadas pelos contos de fadas-, eu sonhava - sugestionada pelos "Gibis" - em voar nos braços do Super Homem ou andar no batmóvel com o Batman, embora eu suspirasse pelo riquíssimo e "aguado" Namor – príncipe submarino, com aquela sunga molhadinha e colada...  - Uiii!! Adoro peixe! (sério, eu era totalmente surtada e interesseira!). Porém, o tempo foi passando, e, obviamente, a tola, que aqui escreve, foi crescendo e dando-se conta que esses super-heróis habitavam outro “mundo” chamado Estados Unidos da América. Era, somente, naquele país que eles atuavam em defesa dos fracos e oprimidos. Ai essa doeu! Eles tinham até um super-herói criado sob medida: o Capitão América, que lutava sob a bandeira do patriotismo norte americano. Foi a partir daí que a ficha caiu... O resto do mundo que...  Bem, o resto do mundo aos olhos dos meus heróis, alados e super poderosos, não existia, até porque imagine o trabalho que eles teriam se tivessem que combater o mal em países subdesenvolvidos, como o nosso. Haja heroísmo! Brasília ia ganhar uma filial da Liga da Justiça!... Sonhos à parte...
Lynda Carter a eterna
 Mulher Maravilha
          E, assim, desencantada, decidi crescer, isto é, mudar o foco, também pudera, já estava crescidinha. No entanto, após todos esses anos de desilusão (eu devia ter procurado um terapeuta), ocasionado pela crença em super-heróis, que não ligam a mínima para os tupiniquins que habitam essa terra, localizada abaixo da linha do equador, descobri com tristeza e pesar que, por essa omissão deles, os bandidos invadiram o nosso território, visto que, lá pra cima, o povo aprendeu com os seus heróis a não permitir que vilões comparados ao Coringa, Pinguim, Lex Luthor, entre outros, assaltem ou corrompam, sem que com isso sejam exemplarmente punidos. Lá a justiça e o sistema prisional funcionam. É verdade que volta e meia um deles consegue escapar, mas aí entra a Liga da Justiça, que o captura, novamente.

 Ufa! Depois de, finalmente, conseguir sair desse retardo alienatório da terra do Tio Sam (já não era sem tempo), procurei por um super-herói que fosse genuinamente nacional, e encontrei o HG – Homem Grilo, cujo poder foi conquistado através da “mordida” de um grilo radioativo (dãããããã... grilos não mordem). Mais uma decepção para a minha coleção, o forte impacto dessa informação me deixou preocupada... Nossa defesa estava nas “mãos” de um inseto! Agora me respondam, por que um grilo, quando temos uma fauna tão diversificada e mais interessante? Ah, deixa pra lá! Além de tudo o HG deve ter ido “cantar” noutra freguesia. A coisa podia ser pior, imagine se eles tivessem optado pelo HBP – Homem Bicho Preguiça; HA – Homem Anta... 
Demorou, mas para a felicidade "geral" da Nação, finalmente o destino fez surgir um "herói" nacional. É provável que ele não tenha sido criado para fazer concorrência ao Capitão América, mas bem poderia, já que ambos possuem a mesma insígnia militar, eis, então,  o Capitão Nascimento, cuja palavra de ordem é “pede pra sair!”, repetida à exaustão pelo povo que o adora. Ele é a síntese de um anti-herói, cujo modo de fazer justiça é bastante peculiar, isto é, com as próprias mãos. Um personagem criado para descer o “sarrafo na bandidagem”, por isso passou a ser um “ícone” idolatrado pelos desvalidos, que se identificam com o seu jeito de supliciar e punir bandidos, no mesmo instante que já não acreditam na justiça nem no Estado.
*Agora, se for para escolher um capitão, que tal o brilhante, ambíguo, trambiqueiro, atrapalhado, louco e fascinante Capitão Jack Sparrow...


     Povo heróico bravo e retumbante

Contudo, a maturidade nos leva a capricharmos mais em nossas escolhas e a “mergulharmos” numa reflexão profunda, ainda mais quando somos inspirados pelo mais belo Hino Nacional: o nosso. E, portanto, nele acomodei meus pensamentos e, assim, passei a ponderar sobre nós, os brasileiros, gigantes pela própria natureza, que conseguem, mesmo com tantas dificuldades, conquistar com braços fortes, em nome dessa pátria amada e idolatrada chamada Brasil. Mas que, no entanto, não encontram na justiça a “clava” forte, mas que nem por isso fogem à luta... Povo esse, heróico bravo e retumbante, e que colossalmente atua com dignidade nas mais diversas categorias profissionais: bombeiros, policiais, médicos, professores, trabalhadores assalariados, etc. Cidadãos esses que, silenciosamente, bradam por melhores condições de trabalho e salário, e que por isso mesmo são super poderosos, no momento em que atuam com esforço e dedicação em prol de toda a sociedade, para sobreviver e sustentar suas famílias dignamente, sem recorrer a vilanias.
Em suma, se a axiologia do super-herói ensina que é necessário a ele ter a coragem, determinação, solidariedade, bondade, amizade, lealdade, perseverança e além de tudo ter um compromisso com a verdade e não fugir às suas responsabilidades, quem está mais propício a receber esse título honorífico por essa missão cumprida, diariamente, senão esses brasileiros que, tão similares aos nossos pais e a nós mesmos, apesar de estar longe desse arquétipo de herói clássico, e sem a intenção de fazer um pastiche, são suficientemente capazes de operar milagres com suas ações cotidianas, para como super-heróis, mesmo desprovidos do uso de máscaras, se reconhecerem e não morrerem de fome e de desesperança... É assim que nós, cidadãos brasileiros, desafiamos o nosso peito à própria morte, diariamente, sem, infelizmente, o “heroísmo” do Estado a nos defender e proteger, e, enquanto isso, os únicos que parecem estar deitados eternamente em berço esplêndido são aqueles que o governam. 
                                     

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