sexta-feira, 24 de junho de 2011

Chegadas e partidas




À
 frente do programa, Chegadas e Partidas, do GNT, Astrid Fontonelle tem apresentado com “maestria” esse reality show que se passa no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O entretenimento é inspirado na série holandesa "Hello goodbye". Embora eu seja avessa a reality shows, e nem sempre tenha tempo para assistir a esse programa, preciso confessar que quando o assisto fico comovida com as histórias abordadas pela apresentadora, que dá a ele um caráter particular e casual, sem pieguices.
Essa marca da singularidade humana, envolvendo histórias individuais, abre espaço para versões surpreendentes, nos levando a pensar em quantas histórias dariam um bom livro ou um bom roteiro de cinema. Então, naquele “cenário”, onde a hora do encontro é também despedida, é a vida... (como diz a letra da música de Milton Nascimento/Fernando Brandt) o alvoroço esboça sensações ambíguas e contraditórias com pessoas sorrindo e/ou chorando, enquanto, cheias de ansiedades e expectativas, aguardam no saguão aqueles que amam regressarem ou partirem: são familiares, amigos, amores... E, no momento em que esperam, elas se perdem entre olhares aflitivos, lágrimas, sorrisos nervosos, e, nesse “caldeirão” de emoções, há uma mistura de sentimentos alegrando ou entristecendo corações. A dialética é compreensível já que passamos a vida inteira nessa “gangorra-emocional” – entre altos e baixos – aprendendo a lidar ora com a dor da separação ora com as alegrias de um encontro ou até mesmo de um reencontro. É assim a cada vez que, por algum motivo, geralmente alheio a nossa vontade, precisamos vivenciar essa realidade. Alguns se vão por “breves” momentos, para em seguida retornarem; já outros se afastam para sempre, deixando para trás a dor causada pela ausência. Toda separação enseja psicologicamente um sentimento de desamparo proveniente da perda do outro; ainda assim, muitas vezes, são trajetórias opostas sem jamais deixar de se olhar... Dessa vez a letra da música é do Gonzaguinha, “Feliz”...
♫...“É um carinho guardado no cofre...
 De um coração que voou...
 É um afeto deixado nas veias...
 De um coração que ficou...
 É a certeza da eterna presença...
 Da vida que foi...
 Da vida que vai...
 É a saudade da boa”...♫
Assim podemos dizer que a vida humana é permeada por essas duas emoções básicas e fundamentais: alegria e dor, cuja contribuição à nossa evolução espiritual, no momento em que nos traz experiência, entre chegadas e partidas, faz com que compreendamos que a maioria dos relacionamentos são, por sua essência, complexos e efêmeros, e a suposição de que “ninguém é de ninguém” pode ser relevante, nesse momento.  No entanto, racionalizar esse fato nem sempre é tão fácil, já que somos humanamente vulneráveis e possessivos, por isso o sofrimento causado pela partida de alguém pode ser tão devastador quanto à perda causada pela própria morte. Entretanto, deve-se ter bastante cuidado para não passar do apego à dependência, já que a linha entre os dois é tênue e perigosa; e reza o dito popular que é melhor se apoiar do que se agarrar. Essa premissa deve valer como regra geral a todos os nossos relacionamentos.
Agora, se o destino trás aquele que partiu, de volta, o coração agradece e as lágrimas já não serão de tristeza e dor, mas do mais puro contentamento. Porém, às vezes, é somente em ambos os casos: separação e reencontro, que compreendemos, efetivamente, o quanto o outro é importante em nossa vida. Mas, se o retorno não for possível é aconselhável usar um único e eficaz remédio: o tempo, cuja dosagem, ainda que lenta e gradual, tem esse poder de fazer a dor da saudade ser aplacada paulatinamente, basta que se exercite a paciência e o equilíbrio, até que ele comece a fazer o efeito desejado.
E a vida segue assim, separação e reencontro sem ter fim... Porém um dia chegará, e disso não podemos escapar, jamais, em que seremos nós a partir, finalmente, da vida daqueles que amamos, para além dessa vida terrena aguardá-los, e, assim, com eles compartilharmos um novo recomeço... Assimilar essa verdade é a única chance que temos, aqui neste plano, de aproveitar essa oportunidade de sempre que possível demonstrar àqueles que de fato amamos o quanto eles são importantes para nós, já que não temos como saber quanto tempo permaneceremos juntos. Portanto essa concepção de que estamos, por natureza, sozinhos, não se sustenta...


A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário