quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O medo que domina

O
Quem não tem medo da morte?
 ritmo de vida contemporâneo tem levado muitos homens e mulheres a tornarem-se vítimas de suas próprias expectativas. E, apesar de a vida humana ser multifacetada, somos uma espécie naturalmente imprevisível, ou seja, ninguém consegue prever o próprio futuro. Cada um de nós, a sua maneira, cumprirá sua sina, sem que possa ao menos tentar presumir o que lhe reservará o amanhã. Assim a história é para cada um de nós, particularmente, uma incógnita. Quem não gostaria de antever o rumo de suas escolhas e assim garantir um destino promissor e, ao mesmo tempo, desviar dos percalços que por ventura surgir durante sua jornada. Portanto, afirmar que a existência do homem sobre a Terra reserva muitas surpresas é, no mínimo, redundante. E, talvez, seja por isso mesmo que muitas pessoas escolhem uma vida “previsível”, já que sair de sua zona de conforto pode ser arriscado e implicar em enfrentamento dos seus próprios “fantasmas”, como o medo do fracasso profissional, afetivo e emocional... Torna-se, relevante, entretanto, lembrar que essa questão é tão antiga quanto perturbadora, pois o poeta e dramaturgo inglês, William Shakespeare, já disse que Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”.

O medo, todavia, advém da relação desequilibrada que o indivíduo, por força do sistema, estabelece consigo mesmo e com a sociedade. Embora essa seja nossa emoção mais primitiva, ela tem duas funções básicas e antagônicas: proteger e dominar; a primeira sinaliza à precaução, então diante de um eventual obstáculo ou perigo, muda-se o caminho ou se retrocede; enquanto que a segunda impede um desenvolvimento intelectual e social, efetivo. Foram muitos os filósofos, historiadores, sociólogos, biólogos, antropólogos e psicólogos a discutir o assunto no decorrer dos tempos, até mesmo porque este tema faz parte da essência humana. Ralph Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse Faça aquilo que você receia e a morte do medo será certa”. Contudo, é preciso que haja um enfrentamento diante desses temores, para que se legitime uma evolução humana, de fato. Outro aspecto importante a ser ressaltado é que dentro desse contexto, ironicamente, talvez, o que mais nos assombre seja o medo da morte, já que somos o único ser vivo que tem a consciência de sua mortalidade, e isso é realmente apavorante. Entretanto, o medo, este sentimento difuso, nem sempre fácil de determinar, queira ou não, permeia a vida do homem, desde os seus primeiros passos, e contribui decisivamente para a tomada de algumas decisões. Deste modo será ao longo dos anos, devido aos estímulos que receberá que este sentimento irá ou não se acentuar. Assim pode-se afirmar que essa sensação é o que causa, constantemente, profundo desconforto à consciência. Porém, como evitar esta sensação tão angustiante, que por vezes paralisa nossas intenções, impedindo que ações contundentes sejam tomadas. Algumas pessoas, devido aos seus temores “aflitivos”, acabam por desenvolver certas fobias; algumas chegam a desenvolver a síndrome do pânico, deixando, com isso, de viver uma vida plena. Esse medo social, no entanto, reflete o estado de insegurança do sujeito que se deixa apanhar em sua própria armadilha, isto é, o mundo idealizado por ele não possui defesas, dessa maneira não consegue “planejar” uma estratégia que o faça vencer as barreiras que surgirão à sua frente. Para esse indivíduo essa angústia existencial torna-se mais forte do que a vontade de lutar pelo que realmente deseja, ainda que isso, muitas vezes, faça parte do seu subconsciente, que teme a realidade que a vida, de fato, oferece.

Logo, é comum encontrarmos pessoas que se isolam em “ilhas” sociais, onde o risco é calculado e previsível, qualquer coisa que fuja à regra, pode implicar numa insegurança “histérica”, onde as sombras tomam formas sinistras.  Partindo, então, do pressuposto que todos desejam a mesma coisa: alcançar a felicidade, fica aqui a seguinte pergunta: por que algumas pessoas desistem tão facilmente de lutar pelos seus propósitos? A resposta, talvez, esteja na falta de estímulo e coragem e no medo de arriscar. Mas o fato é que “Quem vence sem risco, triunfa sem glória... Não tenha medo da vida, não tenha medo de vivê-la...” aconselha o psiquiatra e escritor brasileiro Augusto Cury.
O medo é um mostro
 que se fortalece
 da fraqueza humana

Em resumo, estamos vivendo praticamente num mundo de medrosos, ou seja, mesmo aquele que obtém êxito profissional, emocional e físico, sente medo por, quiçá, não merecer tais méritos. A relevância desse assunto evidencia, também, que as pessoas estão vivenciando, cada vez mais, os sonhos dos outros ou aquilo que consideram ser mais “produtivo” socialmente, isto é, a opinião alheia é muito mais significante do que a sua própria vontade. Nesse caso se pode afirmar que o melhor antídoto contra o medo de viver, como questão máxima, seja o autoconhecimento que proporciona ao homem a necessária capacidade de se conectar ao mundo de forma plena e segura. Somente quem se ama e se respeita consegue viver em harmonia consigo mesmo e com o seu semelhante.

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