Agência Brasil/Gilvan Rocha
Vista da cidade inundada de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Texto: Amanda Werlang
As enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul —
com cenas de cidades submersas, mortes e milhares de desabrigados — não são
apenas obra da natureza, mas resultado direto de decisões políticas que
ignoraram o meio ambiente e a ciência.
Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo vem conduzindo
uma gestão marcada pela entrega de bens públicos ao setor privado e pelo
desmonte das estruturas ambientais e urbanísticas da cidade. Um exemplo grave
disso é a tentativa de privatização do DMAE (Departamento Municipal de Água e
Esgotos) — órgão que historicamente cuida da água e do esgoto da capital com
caráter público e técnico.
Sob o pretexto de “eficiência”, Melo quer entregar esse
serviço essencial à lógica do lucro. Mas como confiar no interesse privado para
cuidar de enchentes, saneamento e abastecimento, quando os objetivos são
financeiros? O DMAE deveria ser fortalecido, não enfraquecido, especialmente em
tempos de crise climática, onde a gestão hídrica precisa ser estratégica,
técnica e voltada ao bem público.
Enquanto isso, o governador Eduardo Leite segue a mesma
linha: desmontou a Fundação Zoobotânica, enfraqueceu a FEPAM, flexibilizou o
Código Ambiental e acelerou licenciamentos que favorecem grandes
empreendimentos e atividades altamente impactantes, como mineração e expansão
urbana sobre áreas frágeis.
A soma dessas escolhas tem nome: colapso ambiental urbano.
E a conta está vindo em forma de enchentes cada vez mais
frequentes, intensas e destrutivas.
Enquanto a UFRGS e outras instituições científicas alertam
há anos sobre a necessidade de preservar áreas de alagamento, reforçar diques,
manter vegetação nativa e repensar a ocupação urbana, o poder público segue
apostando em ações emergenciais mal planejadas — sem foco real em prevenção.
O que adianta milhões em verbas federais para “reconstrução”
se continuam reconstruindo sobre o erro?
O que adianta abrir canal de doações e helicópteros para
salvar famílias, se ao mesmo tempo se aprova a construção de condomínios de
luxo em áreas de várzea?
Sem investimento estruturado em prevenção, sem fortalecer
órgãos públicos como o DMAE, e sem ouvir a ciência, o Rio Grande do Sul
continuará mergulhado — literalmente — em tragédias anunciadas.
As mudanças climáticas estão apenas começando a mostrar seu
impacto. Ou os governos mudam sua lógica de curto prazo e lucro imediato, ou a
realidade será ainda mais dura.
A crise climática não perdoa improvisos. E ela já está
batendo à porta.
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