sexta-feira, 20 de junho de 2025

A crise climática não perdoa governos que desmontam o meio ambiente...

       Agência Brasil/Gilvan Rocha
 
Vista da cidade inundada de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Texto: Amanda Werlang

       As enchentes históricas que atingiram o Rio Grande do Sul — com cenas de cidades submersas, mortes e milhares de desabrigados — não são apenas obra da natureza, mas resultado direto de decisões políticas que ignoraram o meio ambiente e a ciência.

    Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo vem conduzindo uma gestão marcada pela entrega de bens públicos ao setor privado e pelo desmonte das estruturas ambientais e urbanísticas da cidade. Um exemplo grave disso é a tentativa de privatização do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos) — órgão que historicamente cuida da água e do esgoto da capital com caráter público e técnico.

    Sob o pretexto de “eficiência”, Melo quer entregar esse serviço essencial à lógica do lucro. Mas como confiar no interesse privado para cuidar de enchentes, saneamento e abastecimento, quando os objetivos são financeiros? O DMAE deveria ser fortalecido, não enfraquecido, especialmente em tempos de crise climática, onde a gestão hídrica precisa ser estratégica, técnica e voltada ao bem público.

   Enquanto isso, o governador Eduardo Leite segue a mesma linha: desmontou a Fundação Zoobotânica, enfraqueceu a FEPAM, flexibilizou o Código Ambiental e acelerou licenciamentos que favorecem grandes empreendimentos e atividades altamente impactantes, como mineração e expansão urbana sobre áreas frágeis.

    A soma dessas escolhas tem nome: colapso ambiental urbano.

   E a conta está vindo em forma de enchentes cada vez mais frequentes, intensas e destrutivas.

   Enquanto a UFRGS e outras instituições científicas alertam há anos sobre a necessidade de preservar áreas de alagamento, reforçar diques, manter vegetação nativa e repensar a ocupação urbana, o poder público segue apostando em ações emergenciais mal planejadas — sem foco real em prevenção.

   O que adianta milhões em verbas federais para “reconstrução” se continuam reconstruindo sobre o erro?

  O que adianta abrir canal de doações e helicópteros para salvar famílias, se ao mesmo tempo se aprova a construção de condomínios de luxo em áreas de várzea?

  Sem investimento estruturado em prevenção, sem fortalecer órgãos públicos como o DMAE, e sem ouvir a ciência, o Rio Grande do Sul continuará mergulhado — literalmente — em tragédias anunciadas.

   As mudanças climáticas estão apenas começando a mostrar seu impacto. Ou os governos mudam sua lógica de curto prazo e lucro imediato, ou a realidade será ainda mais dura.

  A crise climática não perdoa improvisos. E ela já está batendo à porta.

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