
Já os vegetarianos e os veganos sentem
essa empatia maior em relação aos animais do que o restante da população, e não
querem se envolver com tanta crueldade. E quem pode afirmar que isso é um
problema? Como pode isso provocar tantos comentários maldosos? É como se as
pessoas, num acesso de culpa e vergonha, tentassem impedir o outro de alcançar
essa grandeza espiritual, porque eu sinceramente admiro essa postura, quando o
objetivo é obviamente em prol de algo que traga benefícios ao meio ambiente e
aos próprios animais. Diante dessa questão compreendi que existem outras formas
de alimentação e que a minha filha, perante aquilo que acredita, optou por algo
que a deixa em paz com a sua consciência. E na verdade é isso o que importa: a
paz de espírito. E é aqui que esse texto começa. Sua decisão, assim como a de
muitas outras pessoas, sempre gera críticas e desconfianças. Eis a pergunta que não quer calar: por que a escolha de uns é tão massacrada por outros? Essa intenção de querer
moldar o outro de acordo com a sua própria maneira e conveniência é a coisa
mais arbitrária e ridícula que existe. É como tentar impedir que uma lagarta passe pelo
processo natural de metamorfose. Eu defendo a teoria de que o mundo está em
transformação permanente, e que isso é a única coisa que faz sentido num dia
após o outro. É essa mudança que nos permitirá alcançar uma evolução física e
espiritual. Porém, devido a essas pessoas que atravancam o desenvolvimento
mental dos demais - essa ação natural evolutiva -, ainda caminhamos nas trevas
sorvendo águas de fontes desprovidas de oxigênio. A fomentação dessa ignorância
não permite que muitos consigam romper essa dependência irritante das normas arcaicas
ditadas durante séculos, contribuindo para o fato de que ser aceito é mais
importante do que ter opinião própria. E assim, por medo de destoar da manada,
velhos conceitos fazem com que o consumo de água parada se torne algo natural. "O homem não
pode pretender alcançar certas verdades, enquanto conserva dentro de si certas
mentiras." Carlos Bernardo González Pecotche.
Porém,
sob o fio tênue da linha dessa premissa percebe-se que o vegetarianismo não é
uma moda, mas a construção paulatina de uma identidade social e ambiental, que
tem como meta estabelecer novos hábitos alimentares e fomentar o movimento
abolicionista que visa libertar os animais dessa servidão ao ser humano.
Pessoas que silenciosamente estão fazendo sua própria revolução por se negarem
a compactuar com esse sistema de exploração animal. E talvez seja exatamente
isso que venha provocando tantos protestos, gracejos, irritações e até mesmo
temores por parte dos ditos carnívoros. Já que muitos não sabem lidar com essa
nova “ordem” que surge diariamente, sem muito alarde, mas que se alastra
despretensiosamente como rastilho de pólvora. Assim observo com preocupação que
ao adotar essa filosofia de vida, os vegetarianos passam a ser menosprezados
passando à condição de “personae non gratae” entre aqueles que
insistem em propagar uma falsa saúde atribuída ao consumo de carne. Mas
esse movimento pela compaixão animal não deveria ser motivo para causar
incômodo a ninguém, já que é exclusivamente particular, e cabe a cada um aderir
ou não, de acordo sua própria filosofia de vida. Eis aqui o livre-arbítrio. Mas quando se trata de abordar esse assunto,
as pessoas rapidamente se colocam na defensiva, por serem consumidoras de carne, experimentando uma fraqueza sem igual, que é imaginada como isolamento social e/ou moral. Mas o
intuito desse texto não é sentenciar ou qualificar alguém por suas escolhas.
Também não estou afirmando que o fato de ser vegetariano torne uma pessoa com
envergadura moral superior às demais. Nem tampouco acredito que um carnívoro vá
arder no inferno, tendo ele boa índole, sendo alguém socialmente ativo e
participativo dentro dos princípios humanos.
A intenção desse texto, quero aqui registrar, é chamar à reflexão, quando aceitar o outro por suas escolhas torna-se tão
difícil. E aqui eu abordei o vegetarianismo, mas poderia ser outro tema
qualquer, homossexualidade, religião... Sem esse livre-arbítrio o homem atrofia
e morre, ainda que esteja vivo. Ao longo dos tempos diversos pensadores e
filósofos dissertaram sobre a importância da liberdade, como Sartre, Descartes,
Kant, Marx e outros. Certamente eles compreendiam que precisamos dessa espontaneidade
e autonomia para conduzir nossas vidas de forma plena, só assim a vida faz
sentido, quando nos proporciona de modo singular e natural a fazer nossas
escolhas. Por esse motivo “Não tenha medo de pensar diferente dos outros,
tenha medo de pensar igual e descobrir que todos estão errados!”, Eça
de Queiroz.
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