segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Traição e vingança






S
empre polêmicos e atuais estes dois assuntos, traição e vingança,  trazem à tona uma condição enigmática e complexa do caráter humano, cuja característica é sempre ambígua. Recentemente numa reunião entre amigas, para comemorar o novo “lar doce lar” de uma delas, formou-se um debate espontâneo e genérico sobre esse tema. A discussão abriu portas à probabilidade de algumas de nós sofrermos, em determinado momento da vida, uma grande decepção. Contudo, aqui neste espaço, vou me ater neste primeiro momento, somente a decepção amorosa, mais especificamente a traição, apontada como uma das maiores causas de separação entre os casais. E, segundo definição do jornalista egípcio Leon Eliachar, “O adultério é o que liga três pessoas, sem que uma delas saiba”. E quem já foi enganado sabe que a infidelidade deixa sequelas que se perpetuarão na alma, cujo desencanto pode levar a pessoa traída ao abandono de si mesma e a falta de fé na humanidade, afinal de contas é extremamente doloroso descobrir que sua confiança foi depositada na pessoa errada, ou ainda pior, naquela que você julgava ser a melhor do mundo, e que juntos vocês compartilhavam de recíproca cumplicidade. Então diante dos “novos” e tristes fatos, a desconfiança, a partir daí, passa a ser generalizada, e muitas vezes permeará a vida de quem sofreu tal desilusão. E, aqui começa a controvérsia: dar o troco ou sofrer a decepção da infidelidade em silêncio? A razão diz uma coisa, a mágoa grita outra. E nesse impasse as opiniões alheias geralmente ajudam a decidir a disputa. Se a opção escolhida for a represália, o  traidor sofrerá as consequências da sua falta de caráter, mas essa nem sempre é a escolha acertada, já que costuma trazer mais sofrimento que alento.

  No entanto é preciso entender o motivo que leva o ser humano, em pleno século XXI, a mentir sobre sua vida amorosa. Na realidade ninguém é de ninguém e a velha máxima de que seja eterno enquanto dure é a mais pura verdade. Ainda mais nos tempos da pílula azul, onde o homem “garante um comparecimento seguro” fora de casa, ainda que sob o efeito do milagroso remedinho. Mas não sejamos machistas, numa época em que as mulheres conseguem concluir o ensino superior e se especializam cada vez mais para galgar melhores posições dentro do mercado de trabalho, aumentam as chances de elas também encontrarem alguém interessante, ainda mais quando, dentro de casa, o relacionamento afetivo já não oferece a mesma empolgação (tesão). E, na verdade, o casamento muitas vezes só se sustenta pelos filhos -  o suporte para que ele não desande de vez. E isso ocorre independentemente do modelo social ou econômico, entretanto, no segundo caso quando os problemas financeiros são habituais a relação se desgasta mais rapidamente.
O tocante desse tema está justamente na imagem fantasiosa que temos da pessoa traída, sempre ingênua e frágil – uma palerma, que não foi capaz de ver o que todos ao seu redor já tinham percebido. Aí é que está o cerne da questão: por que os sinais não são detectados? Será que há conveniência nesse padrão comportamental de sujeito enganado? Eu arriscaria dizer que sim. É muito difícil, principalmente para a mulher, sempre tão cheia de “sonhos e castelos encantados” admitir que o príncipe escolhido era somente um sapo, e mesmo que ela tenha percebido o seu coaxar, relutará durante algum tempo contra as evidências. Mas quando ocorre o contrário, quando a mulher se identifica amorosamente com outra pessoa, antes de consumar a traição sexual, ocorre a fuga no plano emocional, isto é, a traição máxima passa a ser o desânimo de estar com alguém a quem ela não mais deseja – diferentemente do seu novo amor. E aqui sucede algo curioso na traição feminina, mesmo que seja baseada em fantasias, a meu ver tem uma sutil intenção de por fim ao relacionamento falido. E, dentro desse contexto, essa talvez seja uma forma velada de as mulheres se vingarem dos seus companheiros relapsos perante a relação conjugal, já que o conceito de traição, nesse caso, é muito subjetivo e particular. A mulher, mesmo ferida, ainda tenta entender o que acarretou tão trágico fim; já o homem interpreta a traição feminina de forma machista, atribuindo a ela um desvio de caráter, se eximindo de qualquer responsabilidade pessoal.
Contudo, vale lembrar que a traição seja masculina ou feminina dilacera a alma e a joga na lama – observem a facilidade em transformar a palavra alma em lama. E é isso o que se faz com os sentimentos daquele que deveria ser respeitado, que ferido e enlodado torna-se irracional. Motivo este que faz eclodir nele um forte desejo de vingança , cuja intenção é o de provocar no outro a mesma dor, ainda que isso venha a expor a ferida não cicatrizada. Entretanto, não se pode esquecer da citação do escritor russo Vassili Vassilievitch Rozanov: “Das grandes traições iniciam-se as grandes renovações”. Portanto não gaste suas energias com quem não foi digno do seu amor ou mesmo da sua piedade, pense que certos acontecimentos, mesmo as decepções afetivas, podem impulsioná-lo a uma nova jornada. E, a princípio, a luz de um recomeço pode até ofuscar sua visão, mas com o passar do tempo a escuridão do passado já não fará o menor sentido.  ASSIM SENDO SEJA FELIZ!

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