quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O gato, o garoto e a vizinha


Este bem que poderia ser o título de algum livro, porém está é uma história verídica, ocorrida hoje, ao meio dia, no bairro onde moro, sob um sol escaldante, onde a temperatura registrava aproximadamente 40°C à sombra. 
Tudo começou quando alguns vizinhos perceberam em cima de um chalé, cujos donos estavam ausentes, a presença de um lindo gato amarelo, cujo miado evidenciava o desespero do bichano que conseguira subir a uns 20 metros de altura, porém não conseguiu descer devido a presença, no pátio da residência, de alguns cachorros, um deles da raça rottweiler. No pescoço o belo felino trazia uma coleira com alguns sininhos pendurados - se a intenção de quem colocara aquele adorno era encontrá-lo facilmente, o intento deve ser repensado.

Aqui começa essa história... O primeiro passo dos moradores, comovidos com a precária situação do animal, foi acionar os bombeiros que afirmaram que nada poderiam fazer naquele momento, alegando que estavam sem os equipamentos apropriados para efetuar o resgate. O principal jornal da cidade também foi avisado, porém a pessoa que atendeu a ligação afirmou que passaria o caso ao chefe de reportagem... (?) Acreditava-se que, com a presença da imprensa no local, aumentariam as chances de os órgãos competentes - bombeiros, secretaria do meio ambiente, guarda civil... – se interessarem pelo fato e assim consequentemente tomarem alguma providência, no sentido de libertar o pobre bicho daquela situação agonizante, afinal de contas ele havia passado a noite anterior “miando por socorro”. Mas diante do descaso generalizado, já que um gato sofrendo em cima de um telhado abrasador, sob o escaldante sol de verão, parece não ter nenhuma relevância àqueles que deveriam garantir um mínimo de dignidade e solidariedade ao animal, a mobilização – "operação salva gato" - precisou partir dos próprios moradores das redondezas. Pessoas valorosas dignas de receberem todas as honrarias, cujo merecimento está justamente em atitudes altruístas em prol da vida, seja ela humana ou não, já que todos somos filhos dessa Terra e criaturas de Deus.
Entretanto, para quem assistia aquela lamentável cena, sem nada, efetivamente, poder fazer, restava a angústia e a sensação de impotência, além da certeza de que muita gente não sabe amar ou ignora o real significado que tem essa palavra, pois quem não consegue se comover com tal situação certamente não têm bons sentimentos. Enquanto isso o pobre felino se lambia compulsivamente, tentando com sua saliva fazer um isolamento térmico, mantendo assim o corpo e a pele resfriados, com o intuito de impedir o aumento da temperatura corpórea e evitar queimaduras, conforme explicou, mais tarde, a médica veterinária Carine Rosa Silva, da Colônia Animal.
No entanto, foi a atitude desesperada e corajosa e a indignação verdadeira de duas mulheres, Vanessa dos Santos Fagundes, e da mãe dela, conhecida pelo codinome de Maninha - ambas minhas vizinhas -, aliada a bravura de um garoto de 18 anos, Douglas Silva da Silva, a quem Vanessa pediu socorro, que mudaram o desfecho trágico dessa história, já que o pobre bichano começava a dar sinais de esgotamento físico.
Persuadido a colaborar com aquela nobre causa, o valente rapaz, mesmo ciente do perigo a que se submeteria, arriscou-se a subir no inclinado telhado quente, coberto por telhas esmaltadas, onde qualquer deslize o levaria ao chão, com cachorros enfurecidos a espera tanto dele quanto do já combalido gato. A quem assistia a cena só restava rezar, pedindo a Deus que protegesse ambos, o rapaz e o gato. Todo cuidado naquele momento era pouco, uma pisada em falso e o desfecho poderia ser fatal. O gato, ao perceber a presença do aguerrido jovem, espantosamente, se deixou capturar, facilitando dessa forma o seu resgate. Não me lembro de uma ocasião onde a culpa e o medo, pelo jovem, estivessem tão presentes, já que havia a possibilidade de tudo dar errado. Aquela atitude insensata, simplesmente seguida pelo coração, era totalmente irracional, mas quem consegue seguir a razão quando a alma está tão aflita, e observar o pobre bicho cair de cansaço na boca daquelas “feras” estava dilacerando o nosso peito, além de estar fora de questão. Lutar pela vida dele era consenso entre aqueles que a tudo assistiam, para falar a verdade pouquíssimas pessoas, talvez cinco, já que pelo horário muitos estavam em suas casas, almoçando. O que não justifica a falta de empenho de outros. Mas cada um com a sua consciência.

Douglas Silva da Silva: jovem herói
No final tudo deu certo, ou quase, até aparecer a dona do bichano se eximindo de qualquer responsabilidade sobre o incidente. A ela restou a alegria de sair com o bicho no colo, depois que nos mobilizamos para salvá-lo. E agora o caro leitor irá se perguntar, mas por que eu estou relatando esse fato? Eu explico, a minha intenção aqui é homenagear essas pessoas que de fato se uniram com o objetivo de fazer o bem, sem com isso esperar nada em troca. Pessoas que a meu ver são verdadeiras heroínas, diferentemente daquelas que são elevadas a mesma condição sem que jamais tenham feito por merecer tal crédito: só porque fizeram um gol, participaram de algum reality show idiota, ou qualquer outra coisa equivalente e inútil . Contudo, é provável que para a maioria dos seres humanos o salvamento de um gato não signifique absolutamente nada, no entanto “Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade,”  Leonardo da Vinci.

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