terça-feira, 13 de setembro de 2011

A velhice que escolhemos


O
ser humano nasce, cresce, desenvolve-se, adquire experiência, envelhece e depois morre. Atualmente existem mais de 10 milhões de idosos no país, segundo dados de projeção do IBGE, e em 10 anos serão mais de 15 milhões, ou seja, um crescimento de 50%. Até o ano 2050 o número deverá triplicar. Embora o envelhecimento seja, em princípio, comum a todos, o processo de envelhecer é marcado por experiências singulares, mesmo assim não somos preparados para entender e aceitar este processo natural à condição humana. No entanto, a ignorância do homem o leva a viver de tal maneira como se ele fosse imune a velhice, sem com isso se dar conta de que ela faz parte da natureza de todos os seres vivos, e que por isso mesmo é preciso deixar a arrogância e o preconceito de lado para tratar desta fase da vida com o devido respeito. A falta de racionalidade, entretanto, faz com que o foco volte-se às coisas supérfluas: notoriedade, aquisição de bens materiais, à gula, às drogas, às bebidas...  Enfim, há um excesso de tudo, como se houvesse uma urgência em viver de forma prazerosa e vaga. Enquanto se vive somente pelo “presente”; a conta, contudo, será apresentada, no futuro, ao fim da longa jornada, de maneira onerosa e cumulativa, quando o corpo já “cansado e debilitado” padecerá com o peso dessas escolhas insensatas, levando o sujeito a uma senilidade penosa, quiçá precoce. Ainda que dentro deste conceito estejam inseridos fatores distintos como o grupo social e o sexo a que pertencemos.

Quem, hoje em dia, morre por causas naturais? Praticamente ninguém, visto que o abandono dos velhos hábitos à mesa, como a ingestão de hortaliças frescas e orgânicas, plantadas no próprio quintal, contribuiu de maneira efetiva para o consumo de verduras e legumes cultivados com aditivos químicos, colaborando, substancialmente, para o surgimento de várias doenças. Outro fator preocupante é a inserção diária à mesa de alimentos gordurosos e condimentados artificialmente, que têm como finalidade “escravizar” o paladar; também é importante salientar que a troca das "polidas" panelas de alumínio, por panelas de inox ou barro, na hora de cozinhar, pode evitar literalmente, no futuro,  muita dor de cabeça. Assim sendo, já há algum tempo passei a considerar o ditado popular cuja frase diz que “o peixe morre pela boca” como sendo uma importante analogia ao modo como, atualmente, estamos vivendo, isto é, o homem moderno está morrendo da mesma forma, já que através de suas escolhas alimentares é que ele acaba, na maioria das vezes, adquirindo muitas das doenças que irão “assombrá-lo” durante a velhice: obesidade, hipertensão, diabetes, osteoporose..., além das doenças neurodegenerativas - Mal de Parkinson e Alzheimer – que não ocasionam a morte do indivíduo, mas afetam sua autonomia, assim como a depressão. Obviamente não se pode esquecer de que o sedentarismo contribui de forma contundente para o agravamento dessas moléstias. Como disse o escritor e político francês, François Chateaubriand, “A velhice era uma dignidade; hoje, ela é um peso”. Por isso há uma necessidade, urgente, de se adotar atitudes preventivas, como uma boa alimentação e atividades físicas, entre outras, como forma de manter à distância essas temíveis enfermidades, ou seja, as medidas de prevenção de doenças devem ser focadas em aumentar os anos de vida com saúde, e não meramente prolongar a vida.
Esta reflexão, no entanto, levou-me à conclusão de que chegar à terceira idade com saúde é um verdadeiro desafio. Mas afinal de contas por que terceira idade se as fases da vida humana são basicamente quatro: infância, adolescência, adulta e velhice? Então não seria mais adequado fazermos uma referência correta como sendo esta a fase da quarta idade? Seja como for, seria muito justo que essa fosse, sim, sem demagogias, a fase da melhor idade, onde depois de tantos percalços e lutas, pelo decorrer do tempo, pudéssemos gozar os últimos anos de nossas vidas, com tranquilidade, assistência médica eficiente e muita dignidade. Então a chamaríamos de a fase da idade do mérito, já que depois de muito trabalho e dedicação aos outros – pais, amigos, cônjuges, sobrinhos, filhos, netos... (não necessariamente nesta ordem)  -, receberíamos o devido e merecido descanso. Porém, infelizmente, não é isso o que acontece. Na maioria das vezes a senilidade vem acompanhada de uma parca aposentadoria, que não dá nem mesmo para a compra dos alimentos básicos, que possam garantir uma boa nutrição, tão importante nessa etapa da vida, além de tudo a aquisição de determinados medicamentos é outro fator que encarece e impossibilita que o idoso viva despreocupado. Diante desta constatação e devido à complexidade do tema, devemos repensar nossas atitudes, cujas consequências podem ou não garantir uma velhice com qualidade de vida. Diante disso, postergar hábitos saudáveis pode ser a sentença de uma terceira idade repleta de sofrimento. Assim sendo, nem mesmo os mais “abastados” escapam desta triste sina, ainda que para eles a expectativa de vida seja mais prazerosa, já que não dependem do Sistema Único de Saúde para o acesso aos leitos hospitalares e/ou as consultas com médicos especialistas. Sem contar que aqueles que possuem um poder aquisitivo mais elevado têm a sua disposição mais opções de alimentação, de lazer e entretenimento, o que amplia as chances de uma vida mais salutar, amenizando, ainda, as dificuldades trazidas com o avanço da idade.
 Diante destes argumentos, podemos perceber uma evidente contradição no comportamento humano, no momento em que, apesar de tanto descontrole no consumo alimentar, entre outros, a maioria deseja atingir a longevidade com saúde, por isso fica aqui um conselho "de grego", daquele que é considerado um dos maiores filósofos de todos os tempos, Pitágoras, “Uma bela velhice é, comumente, recompensa de uma bela vida”. 


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