domingo, 22 de maio de 2011

Ensaio aos apaixonados

A
inda que esteja meio em démodé, já que a “onda”, no momento, é curtir ou simplesmente ficar, o amor, livre e poético, nesse ensaio, não fugirá à regra. Impossível racionalizá-lo diante de sua complexidade. Envolvente, ele é o que torna nossa existência apaixonante; orgânico e perecível, assim como a vida, o amor assemelha-se às plantas: pode ser lindo à contemplação, mas, algumas vezes, danoso aos outros sentidos, e, igual a elas, pede ou não rega, diária, dependerá de sua intensidade e personalidade. Assim é o amor que para germinar é relevante que seus protagonistas saibam cultivá-lo e que não temam enfrentar os desafios impostos, a fim de merecê-lo. Embora sujeito às intempéries, essa nobre emoção, muitas vezes, não resiste à provação e por isso acaba sucumbindo. E aqui, então, muitos dirão que morreu porque não era amor...há controvérsias.
         O fascinante desse sentimento avassalador é que ele possui “vida” própria, pois é praticamente impossível dominá-lo ou detê-lo, ainda mais quando resolve aparecer na improbabilidade do momento, tornando-se combustível a viagens “celestiais”... Aí então é que a situação complica, pois quanto maior a altura maior é a queda. Mas, apesar de todo o risco e, muitas vezes, da dor que traz consigo, ele sempre surge como um sopro de renovação à vida, que já não era mais sentida. E, nesse arroubo, destituído de juízo, ele tudo pode romper, numa evidência clara de que não há limites que possam impedi-lo de mostrar que há vida na vida, que o suor das mãos pode não fazer sentido, mas faz acelerar o coração e ilumina o olhar, cujo brilho demorado e penetrante tem o poder de desnudar a alma do ser amado. Pronto!... Você foi alvejado e está perdidamente apaixonado! Apavorado e descoberto,  você só deseja fugir, porém, suas pernas não obedecem ao seu comando e o seu coração bate com tamanha intensidade que você o sente pulsar no pescoço - é aquela sensação de que ele quer sair pela boca - além do seu olhar traí-lo, completamente. Não, você não deseja fugir, você deseja sublimar e eternizar esse momento que lhe traz à vida, em toda a sua plenitude. É o céu, é o inferno, é o doce é o amargo... E sem conhecer o seu devido lugar, o amor, sem nenhum bom senso se faz de hóspede e lhe invade a alma, num óbvio e total abuso de poder instala-se de vez e usurpa sua vontade. E agora como expulsá-lo ou mandá-lo embora? Mas o que fez com que ele surgisse? Não fora plantado nem regado. E o solo, infértil, não estava preparado para recebê-lo. Mas como já disse Leonardo da Vinci "As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar". E assim nasce essa emoção, florescendo num coração onde se imaginava que nada mais germinaria? Cresceu com os ventos da admiração; a rega do respeito e a beleza da planta, que finalmente encontrou alguém para apreciá-la. Todavia, o destino caprichoso, nem sempre proporciona a estação propícia ao seu cultivo, que sem opção, muitas vezes, o aniquila, sem que o seu perfume possa ser exalado completamente. Eis aqui o amor impossível, que brota onde jamais deveria e, por isso, muitas vezes, se faz necessário arrancá-lo, matá-lo, esquecê-lo... No entanto, é preciso concordar com o poeta Mário Quintana, Tão bom morrer de amor e continuar vivendo. Essa deve ser a mesma lógica do levado e traiçoeiro Cupido, que ao perceber que sua flecha atingiu o “alvo” errado, simplesmente sorri e muda de direção, sem nenhuma responsabilidade, deixando ao pobre mortal a dor causada pela inconsequência de sua falta de pontaria. Será que essa imortal e alada criatura mitológica já se esqueceu do quanto o seu amor pela mortal Psiquê fora testado por sua mãe, a poderosa Vênus? Creio que sim, caso contrário, não brincaria com os sentimentos dos meros mortais, e trataria de treinar mais, antes de sair por aí, brincando de tiro ao alvo.



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