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Sem a família o homem não teria alcançado relevante evolução |
esde os primórdios da humanidade, quando ainda nas cavernas, que o homem obtém
sua formação dentro da família, é provável que isso tenha ocorrido pela
fragilidade de sua natureza humana, já que, sozinho, não conseguiria sobreviver
sem a união de forças dos pais e parentes, cujo propósito era garantir à
criança pleno desenvolvimento físico e intelectual, transformando-a assim em um
ser sociável e preparado para enfrentar as agruras da vida. Dessa forma a
família passou a ser a base fundamental que dá sustentação à formação do indivíduo.
E aqui a maioria concorda que sem esse suporte tudo se tornaria muito mais
difícil. No livro “Casa não é lar”,
Ramón Llongueras Arola diz que “a família
é o primeiro e principal contexto de socialização dos seres humanos”. Para
o antropólogo, professor e filósofo francês, Claude Lévi Strauss a família é um
grupo social que tem origem no casamento, é uma união legal com direitos e
obrigações econômicas, religiosas, sexuais e de outro tipo. Porém, também está
associada a sentimentos como o amor, o afeto, o respeito e/ou o temor. Embora,
em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de conservação e
reprodução da espécie, atualmente ela passa por um processo de isolamento
nuclear, onde se acentua o papel da mãe, na medida em que ela já não conta mais
com os parentes para ajudar e, comumente, nem mesmo com o apoio do pai dos seus
filhos. No entanto, não quero, aqui nesse espaço, me ater ao papel independente
dos pais.
Contudo, há
uma classificação bem interessante que indica, de maneira particular, as
características existentes dentro desse conceito de família, sendo elas:
elementar, extensa, composta, conjugada fraterna e a fantasma, sendo que esta
última consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou
mãe, e o chamado fantasma, além dos filhos.
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Toda família tem suas esquisitices |
Na verdade
minha abordagem é muito mais reflexiva, no momento em que procuro entender qual
o conceito real de família quando nos referimos à família extensa: pais, avós,
filhos, tios, sobrinhos, primos, noras, genros... De forma singela, desde muito
cedo, compreendi que os filhos ao saírem da casa dos pais, com o objetivo de unirem-se
a alguém, formam sua própria família, deixando para trás sua referência familiar:
pais, irmãos... E aqui tudo fica muito subjetivo. Dou relevância a este assunto
por entender que as relações de parentesco dentro da propagada base familiar se
dá muito mais pela afinidade - conjugada fraterna - do que pelo vínculo
consanguíneo – quando descendem do mesmo tronco ancestral. No entanto, sempre
observei dentro das famílias elementares e extensas a existência, ainda que
velada, de uma rivalidade e até mesmo uma animosidade em relação aos novos agregados
– sogros, noras, genros, cunhados, madrastas e padrastos. Pessoas que
repentinamente são inseridas no núcleo familiar, e que por isso mesmo passam à
condição de parentes da noite para o dia. Essa atitude generalizada tem
provocado, ao longo dos séculos, em toda a sociedade muita controvérsia e
hostilidade. A literatura está repleta de exemplos “malditos”, onde a hipocrisia
da família teve uma atuação tão nefasta que o melhor seria não tê-la, como no
caso da trágica história de William Shakespeare, Romeu e Julieta, cuja guerra
travada entre duas famílias levou o casal apaixonado à morte. E quem não se
lembra dos clássicos contos infantis que evidencia o sofrimento de jovens como
a Branca de Neve e da Bela Adormecida, causados por suas odiosas madrastas, que
impuseram às pobres moças múltiplos infortúnios, sendo que a última ainda
padeceu com a inveja das próprias irmãs. Histórias que revelam que a dor,
quando causada por parentes, é muito mais difícil de ser assimilada, já que o
normal é que a família proteja e jamais provoque consternação.
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A família como instituição desagregadora |
Porém, é bom
lembrar que a responsabilidade pelas discórdias nem sempre é da família, muitos
agregados, oriundos de outros núcleos familiares, também costumam causar
tristezas e decepções, já que à primeira vista a verdadeira face fica oculta, é
mais tarde que a máscara costuma cair. Infelizmente esse é um aspecto essencialmente
humano. E se alguém ao ler este texto pensou que a minha inspiração veio da
Carminha, personagem da novela das nove, que deveria se chamar “Avenida dos
Cornos”, se enganou redondamente, ainda que haja certa coincidência, já que a
personagem sempre escondeu da família e do próprio marido seu verdadeiro
caráter – embora eu não tenha por hábito assistir novelas, conheço o enredo
central, por isso logo me lembrei do acaso da história.
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Sagrada Família |
Mas o caro
leitor deve estar se perguntando aonde eu quero chegar com esse texto. É
simples, estou tentando, há muito tempo, entender essa relação intrincada e
complexa que leva muita gente a desistir do convívio familiar, isto é, pessoas
que se afastam dos parentes, deixando para trás o caos social provocado pelo
conflituoso relacionamento, muitas vezes entre seus pares e seus familiares.
Assim irmãos, pais, filhos, tios, avós... perdem o contato mútuo por muito
tempo, quiçá para sempre, em decorrência
de atitudes questionáveis por ambas as partes. Isso ocorre geralmente
pelo excesso de intimidade entre os membros da família, cujos comportamentos
conflituosos e contraditórios, além de provocar fofocas, já serviram de
inspiração nos anos 90, para o filme do diretor Mario Monicelli “Parente é
Serpente”. É óbvio que a intriga é tão antiga quanto o homem. Na História da
Roma Antiga, Julio César costumava lançar mão desse artifício pagando pessoas a
peso de ouro para espalhar boatos contra seus adversários políticos. Contudo,
voltando ao tema proposto, penso que tanto os novos agregados quanto a própria família,
ambos, brindes que vêm sem etiqueta de troca, precisam estabelecer limites para
que a conexão entre todos pertencentes ao mesmo “clã” fortaleça a convivência
familiar. E, para que isso aconteça de fato, o mais importante é que se
instituam determinadas regras: como diria uma amiga “cada um no seu quadrado”,
já que é inegável que, apesar dos pontuados desentendimentos, a família
contribui para a formação social do indivíduo. Entretanto, para que haja uma
relação saudável entre todos os parentes, é necessária a adoção de certas
medidas: diálogo, respeito, limites e principalmente compreensão. É óbvio que
não existe família perfeita, mas quando todos os membros reconhecem a
importância de pertencer ao núcleo familiar, desenvolvendo sua responsabilidade
em prol de um convívio salutar, todos saem ganhando, principalmente as crianças
que, ainda hoje, carecem do afeto dos avós, dos tios, dos primos, dos padrinhos
e dos amigos, que passam a compor a grande família.