o
que tudo indica, a expressão “puxa-saco” teria se originado a partir de gíria
militar, já que os oficiais não colocavam suas roupas em malas, mas em sacos
durante as viagens. Contudo, quem carregava, obedientemente, a bagagem para
cima e para baixo eram os soldados. Dessa forma, puxar esses sacos virou
sinônimo de subserviência, com isso a função passou a definir todos que
bajulavam superiores ou qualquer outra pessoa. Desde então eles podem ser
encontrados em todos os lugares: nas repartições públicas, no mundo corporativo,
nas escolas e até mesmo inserido no próprio ambiente familiar.
Quase
sempre despiciendo, o bajulador precisa “masturbar” o ego alheio,
principalmente se a pessoa, em questão, estiver hierarquicamente numa esfera
social acima dele. Decorre daí sua fraqueza e uma dedicação exagerada,
praticamente pornográfica, em relação ao outro, já que o referido homo sapiens
comumente costuma se regozijar com as migalhas que recebe por sua atuação
vulgarmente amadora e teatral, onde a verdadeira intenção é esconder sua falta
de talento e competência, ainda que estes não sejam uma regra, pois sempre há exceções. Sendo assim o adulador costuma se adaptar ao meio, melhor do
que os demais, por isso qualquer tentativa de exterminá-lo torna-se pura perda
de tempo. Talvez por esse motivo o malandro tenha ganhado até um dia especial,
20 de dezembro, data limite para o pagamento da segunda parcela do 13º salário.
Época, então, propícia para sair à procura do presente de Natal do respectivo
chefe, o importante é garantir a tão sonhada posição de subserviente. Mas é bom lembrar
que “Entregar-se às pérfidas insinuações de
um adulador, equivale a beber veneno numa taça de ouro”, Demófilo, arcebispo de Constantinopla no período de 370/380 d.C.
Apesar
de não conseguir emitir luz própria, o sujeito parco de talento e qualidades morais faz sua órbita de forma apagada em torno daqueles que irradiam força e
determinação. Infelizmente com isso, não raras vezes, o puxa-saco consegue desviar uma
trajetória de sucesso, pelo simples fato de ele, temeroso, sentir-se ofuscado pelo brilho de
alguém que ele imagina que possa ocupar o seu lugar. E quem
já não se sentiu prejudicado por essa criatura que, aproveita-se da escuridão, assim
como um vampiro, para sugar a energia vital daqueles que estão à sua volta, não
se expondo jamais à luz da verdade? Entretanto, é preciso fazer justiça ao
puxa-saco, que só existe porque encontra quem o alimente, nesse caso o adulado,
que precisa demasiadamente ter o seu ego massageado com frequência, porque é
tão inseguro e arrogante quanto o próprio despiciendo, já que não consegue lidar com a possibilidade
de fracasso ou rejeição às suas ideias, situação que denota em ambos,
bajulador e bajulado, as mesmas características: fraqueza, oportunismo, baixa
autoestima, insegurança e ignorância. No entanto, Marques
Rebelo, jornalista brasileiro, dizia que “Adular
não é meio de vida, mas ajuda a viver”.
Contudo, estudos indicam que é na crise que o vírus
do “puxa-saquismo” se reproduz. Assim, com um ambiente propício, onde os ânimos
se acirram e a competitividade exagerada cresce de forma desordenada, mesmo
aqueles que pareciam imunes a tal comportamento, passam a desenvolver aspectos
semelhantes. É provável que o filósofo grego, Epicteto, tenha percebido o quanto é tênue a linha que separa a
vida profissional da vida pessoal, por isso fez o alerta de que “Um adulador parece-se com um amigo, como um
lobo se parece com um cão. Cuida, pois, em não admitir inadvertidamente, na tua
casa, lobos famintos em vez de cães de guarda.”
Em suma, o puxa-saco é, de maneira singular ou
pluralista, tão nefasto para o ambiente social e econômico, quanto a própria
corrupção, porque contribui de forma particular para que não haja vitória dos justos. Ele só tem um objetivo: cuidar do próprio umbigo. Por isso “Cada frase do adulador é composta de um
sujeito, um predicado e um cumprimento.”, Georges Clemenceau, jornalista, médico e
estadista francês. Assim sendo, o adulador passa a vida nas sombras sorvendo
o “sangue bom” dos competentes, enquanto onaniza o ego dos seus
superiores, que personificam e incentivam para o aumento substancial do cordão
dos puxa-sacos, cujo comportamento repulsivo acaba contaminando o caráter dos
fracos e desmotivando os demais: profissionais talentosos, de fato, que não
precisam se valer desses estratagemas para alçarem sucesso, quando não são
descobertos e ceifados pelo pérfido bajulador, que com isso costuma tornar a
vida no habitat natural de trabalho um verdadeiro inferno, quando alardeia boatos, se
apodera de ideias e projetos que não são seus, faz intrigas com o intuito de semear a discórdia, desestabilizando o
ambiente. O problema é que não existe, em toda a medicina, um
antídoto para combater esse mal, que apesar de, em certos casos, a gravidade da
situação ser quase "patológica". Enquanto isso o vírus, que há tanto
tempo contaminou o ser humano, continua a fazer vítimas em todos os cantos do
planeta, principalmente nos lugares onde a educação e a cidadania são relegadas
à posição de inferioridade nas esferas do desenvolvimento social. Diante disso, como diria a Rainha de Copas, assim que for detectado o pusilâmine sujeito, metaforicamente, "Cortam-lhe a cabeça!"