É com um misto de incredulidade e
decepção que vejo a todo instante nas redes sociais as pessoas se digladiando com
a intenção de medir qual das duas tragédias merece mais atenção, se a ocorrida
em Mariana, Minas Gerais, ou a de Paris. Quanta bobagem! Os dois acontecimentos são
dois dramas distintos, e igualmente importantes, pois ambos destacam a
ignorância humana e a falta de amor ao próximo, e que cada um, de forma
singular, possa se identificar mais com um do que com o outro ou com os dois; isso
se chama liberdade de escolha. No entanto, não vou aqui me distender falando das
duas tragédias porque creio que praticamente tudo já foi dito. Apesar dos
muitos absurdos que tenho lido nesses últimos dias, denotando que a maioria não
tem a mínima ideia sobre as razões pelas quais escolheu um dos dois acidentes
para “sofrer mais”, embora isso tenha seu lado positivo: evidencia que somos
livres para fazermos nossas escolhas, e de acordo com elas expressar nossas opiniões,
de forma correta ou equivocada, de acordo com o ponto de vista singular de cada
um; e é sobre isso que venho aqui discorrer: o direito à liberdade de
expressão, direito de vivermos como quiser, sem com isso provocar nenhum um dolo
ao outro. Isto é o que se espera de um mundo civilizado e contemporâneo, onde
todos tenham seus direitos civis assegurados. Isso é democracia.
A tragédia de Mariana impactou muito, não só
pelo aspecto humano, mas também pelo aspecto ambiental. Assassinamos um rio e
toda a vida que havia nele e nos arredores! Isto é horrível! Mas aqui podemos
gritar e apontar os culpados, exigir providências dos responsáveis. Mais uma
vez podemos dizer que, apesar do horror dessa catástrofe ambiental e social,
temos a democracia como base para mudar o que está errado. Já o ocorrido em
Paris foi uma tentativa de calar o mundo pela imposição de valores que sequer
consigo imaginar para a minha vida ou para as pessoas com as quais convivo. Que
mulher quer viver submissa a um homem? Que mulher moderna e inteligente ambiciona
ter seus desejos sufocados, receber ordens, se tornar escrava sexual, ser
estuprada diariamente, apanhar, usar trajes fechados, ser usada como moeda de
troca, não ter o direito de estudar, trabalhar, não ter opinião própria, enfim
qual mulher deseja se tornar um zumbi, ou seja: uma morta viva? É isso que o Estado Islâmico pratica diariamente e prega como filosofia religiosa. Pois eu prefiro pegar numa arma e lutar
até a morte ao deixar que um bando de doente mental, trogloditas, retrógrados, imbecis de posses de todo tipo de armamentos, venham
ditar princípios e comportamentos e acabarem com aquilo pelo qual tanto lutamos:
nossa democracia e liberdade.

Há séculos, batalhamos por um mundo igualitário, é certo que
temos avançado a passos de tartaruga, mas estamos caminhando para que todos, eu
disse todos, tenham os mesmos direitos. Nós mulheres, já passamos por tantas
humilhações perante esse mundo machista e sexista; fomos extorquidas de exercer
nossos direitos civis, e somente agora começamos e vislumbrar mil
possibilidades e a conquistar o espaço que é nosso por direito, como seres
humanos. E assim como nós o mesmo aconteceu aos homossexuais, negros, judeus,
deficientes físicos. Sofremos tantos abusos em decorrência do preconceito, da
discriminação de gênero e raça, e quando penso que ainda há tanto por
conquistar, vem um grupo radical, atrelado a um passado de horrores e punições,
querendo implementar pela força uma forma de viver (se é que podemos chamar
isso de vida) baseado em leis ultrapassadas, que não contribuem minimamente
para o desenvolvimento da humanidade. Criaturas cruéis, imbecis que, de posses
de todo tipo de armamento, tentam ditar princípios e comportamentos, com o intuito de propagar um estilo de vida permeado
pelo uso da força e violência e por ideias radicais. Não, não podemos deixar que eles sequer
sonhem com tal possibilidade. Somos todos iguais e livres! Precisamos caminhar
para uma elevação espiritual e social, e qualquer coisa que se oponha a isso se chama
loucura.
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