Curtir – Comentar - Compartilhar..

C
|
onhecidas como Rede Social Primária ou
Informal, as redes de relacionamentos como Orkut, Facebook, Linkedin, Monster, em
tese, formam-se a partir de relacionamentos entre indivíduos, que em certa
fase de suas vidas estabeleceram algum contato, primário ou informal. São pessoas que fizeram ou ainda fazem parte da vida cotidiana do homem moderno: amigos, familiares, colegas
de trabalho, vizinhos, instituições sociais... Cada um de modo singular proporciona
ao sujeito compor sua própria identidade, ao menos essa é a intenção, já que
muitos agregam famosos - ilustres desconhecidos -, para assim angariar status
maior perante o grupo de amigos escolhidos. Na verdade, esse intrincado
procedimento leva a pensar que nossas páginas de relacionamentos são tão
artificiais como o monstro criado por Mary Shelley, Frankenstein, quando
recebem frequentemente membros tão distintos. Assim sendo, podemos dizer que quando
optamos por nos conectar com centenas de pessoas, adicionando elas a nossa página virtual, estamos criando um clone moderno do monstro,
cujo nome poderia ser Facenstein. O problema é que criatura
e criador nem sempre conseguem conviver juntos, e comumente fica difícil identificar um do outro.
Contudo, como o próprio doutor Victor
Frankenstein, nessa tentativa de conectar e juntar personalidades tão diferentes, corre-se o risco de uma contumaz tragédia, ao se perceber como uma união desordenada
de partes desconhecidas pode instituir algo tão irreal e subjetivo e,
sobretudo, sem uma identidade definida. Sim, até mesmo porque sem noção da
dosagem muitas pessoas se expõem à rede de maneira exagerada. Diante desse fato
não tarda a ocorrência do arrependimento por vaidade e até mesmo por ansiedade,
já que a intenção é mostrar o quanto se é culto, bonito, bondoso, batalhador,
religioso, apaixonado, rancoroso, bem sucedido, emblemático, vingativo, conquistador, invejoso,
simpático ou antipático... Vale tudo para chamar a atenção. E esses membros tão
desconexos caem na pluralidade das páginas compartilhadas; eis novamente o surgimento
do Facenstein. Devido a esse comportamento acintoso muitos são “amputados”, quando têm sua assinatura bloqueada ou cancelada sumariamente sem aviso prévio.
O paradoxo do monstro,
porém, está na dualidade de sua personalidade: poética e paranoica, fazendo com que todas as
partes – os faceamigos – mergulhem facilmente na paródia que se torna a criatura
virtual, que, frequentemente, recebe novos agregados à sua personalidade, “novos
amigos”, geralmente garimpados pela peneira da rede. Um constante processo que
pode se transformar em vício, quando possui, ainda, uma ferramenta que fornece a opção curtir,
comentar e compartilhar. É aqui que o bicho pega, quando o indivíduo se desnuda
completamente. Embora muitos não percebam, os sites de relacionamentos são
em menor escala uma espécie de reality show, ignorando esse fato muitas pessoas
esquecem de que estão sendo observadas, e expõem suas fraquezas, preferências
religiosas, culturais, sociais e até mesmo sexuais. Desse modo cada um a sua
maneira vai se “despindo” ao evidenciar sua predileção por determinados
assuntos: futebol, política, roupas, maquiagem, filosofia, animais, viagens,
religião... Porém, não tem jeito, assim que o sujeito se insere nas
redes de relacionamentos sua vida privada passa a ser do conhecimento de todos.
Tudo acabará sob o julgamento alheio. É quando tudo descamba para a
desconstrução do relacionamento civilizado, quando há uma contumaz invasão de
privacidade. Então vem a pergunta que não quer calar: por que adicionamos
pessoas tão inexpressivas ao nosso modo de viver, se elas estão longe de pertencer
ao nosso círculo de amizades ou dos nossos interesses reais, e o pior se não
conhecemos minimamente o seu caráter?

Os
Jovens - No entanto, ao observar o comportamento dos jovens à rede se percebe
nitidamente que eles sabem melhor lidar com o mundo virtual do que os adultos, e isso, sim, é extremamente positivo, pois seus relacionamentos são
mais vaporosos. Creio mesmo que eles sejam mais sociáveis, e por estarem
inseridos num mundo mais globalizado e eclético, aprenderam a lidar com as
diversidades alheias, e como não costumam “deixar barato”, não mandam indiretas; a resposta é objetiva, sem subterfúgios. Dentro desse contexto, podemos
observar uma adaptação mais efetiva e até mesmo produtiva inserida nessa
comunicação digital, o que a torna muito mais proveitosa, já que eles não se
limitam ao plágio ou mesmo a uma personificação fictícia, mesmo que
compartilhem de fantasias ou brincadeiras. Nesse caso, isso significa que essa
geração, que praticamente já nasceu dedilhando os teclados de um computador, mostra-se
exatamente como parece ser; já em contrapartida os mais velhos buscam inserir
conceitos abstratos em sua concretude existencial. Trocando em miúdos, gostam mesmo
é de aparecer. E aqui eu preciso concordar com a minha filha quando diz que
muitas pessoas costumam dar um crédito real a fatídica pergunta do facebook, “No
que você está pensando?”, como se estivessem estiradas no divã de um analista
qualquer, compartilhando com ele suas insatisfações e frustrações em tempo
real. Assim esses sujeitos vão postando tudo o que lhes vêm à cabeça, sem medir
as consequências. Como a vida cotidiana, principalmente a urbana, costuma ser
estressante para todos, devido à correria, falta de trabalho, dinheiro, amor,
solidariedade, segurança, e também devido ao excesso de expectativas que
colocamos em cima de determinadas pessoas, as decepções são praticamente
certas, assim o “Facenstein” passa também a ser usado como uma ferramenta de válvula
de escape, tornando-se um lugar comum a todos que estão solitários,
descontentes, apaixonados... E as páginas viram um diário virtual em tempo
real, onde a intenção é não somente desabafar, mas o envio de recados indiretos
ou direcionados aos seus desafetos: chefes, colegas de trabalho, amigos, vizinhos,
parentes... Contudo é bom lembrar que essa “metralhadora giratória” nem sempre
atinge o alvo, e o tiro pode sair pela culatra. Desse modo um amigo virtual pode passar facilmente a um inimigo real.

Então, só para
recordar, se você escolheu adicionar alguém, sem ao menos conhecê-lo de fato e
não consegue conviver com suas ideias, fotos... cancele sua assinatura, simplesmente.
Não dê desenvolvimento ao Facenstein que você mesmo ajudou a criar...
Se gostou do texto por favor não deixe de curtir, comentar ou compartilhar, aqui ou no meu Facenstein!
LUZ E PAZ!