Como afundar ainda mais a audiência
A maioria daqueles que têm mais
de 40 anos lembra com nitidez que a TV brasileira reinava absoluta na terra do
“Plim-Plim”. Auditórios lotados, novelas diárias, programas humorísticos e
enlatados estrangeiros compunham a receita perfeita para preencher o tempo
ocioso de milhões de espectadores. Os mais exigentes, no entanto, podiam optar
por livros, cinema, teatro ou até uma boa roda de conversa entre amigos e
parentes. E assim, por décadas, a televisão manteve o seu auge. Mas o tempo
mudou... e a televisão parou no tempo.
Com o advento da internet e,
mais recentemente, com a facilidade proporcionada pelos serviços de streaming,
todas as emissoras de canais abertos passaram a sentir o retrogosto de um público
cada vez mais insatisfeito com a programação, o que deu início à queda na
audiência. Agora, o telespectador tem o poder de escolher o que, quando e como
assistir. Em consequência disso, os anunciantes, antes numerosos e generosos, passaram
a fugir desse modelo ultrapassado. Seguindo o comportamento do consumidor, redirecionaram
seus ovos de ouro para outras plataformas.
Diante disso, o desespero bateu.
E, como já dizia o “Velho Guerreiro”: “Na televisão, nada se cria, tudo se
copia”. Vem daí essa propagação de remakes e revivals, como se a
criatividade tivesse sido sepultada na década passada. É sempre o mais do
mesmo. E o resultado disso é a enxurrada de roteiros empobrecidos e previsíveis,
quando não beiram a linha tênue do plágio.
É preciso entender que essa
geração não quer perder tempo e nem tolera a hipocrisia, o que a faz buscar
coerência, respeito e autenticidade, além de excelência na qualidade daquilo
que consome. Não se deixa prender por modelos de programação decadentes, que
prometem tudo, mas não entregam nada.
Percebendo que a audiência se
fragmentou, as emissoras de televisão, em vez de investirem no inédito,
recorrem a programas engessados, há muito considerados ultrapassados. Enquanto
isso, a internet vai expandindo seu território e conquistando a confiança
daqueles que buscam assistir a algo verdadeiramente interessante e autêntico.
Na tentativa desenfreada por uma
retomada significativa da audiência e indo na contramão do que prega o bom
senso, parece que o SBT ainda não entendeu que entramos em um novo milênio. A
emissora tem abraçado youtubers, contratado influenciadores, sem seguir uma
linha coerente com a própria identidade, passando a atirar para todos os lados.
E vem aí o tiro de misericórdia: a ressurreição da famigerada Banheira do Gugu.
.
Um programa pífio, sem graça e extremamente apelativo, onde o corpo da mulher é
objetificado de forma explícita e vergonhosa. Nos dias atuais, não por
moralismo, mas por consciência, o público rejeita esse tipo de entretenimento
de massa. Cada vez mais, a ingestão desse modelo decadente provoca repúdio nos
mais jovens que não toleram o machismo disfarçado de diversão e sabem que há
milhares de opções à distância de um clique.
Se a televisão brasileira quiser
sobreviver com relevância, precisará, antes de tudo, respeitar a inteligência
de seu público. E, acima de tudo, aceitar que o controle mudou de mãos ― e
essas mãos não toleram mais a hipocrisia como única alternativa.