terça-feira, 15 de julho de 2025

Entre Banheiras e Remakes

 

        Como afundar ainda mais a audiência

   A maioria daqueles que têm mais de 40 anos lembra com nitidez que a TV brasileira reinava absoluta na terra do “Plim-Plim”. Auditórios lotados, novelas diárias, programas humorísticos e enlatados estrangeiros compunham a receita perfeita para preencher o tempo ocioso de milhões de espectadores. Os mais exigentes, no entanto, podiam optar por livros, cinema, teatro ou até uma boa roda de conversa entre amigos e parentes. E assim, por décadas, a televisão manteve o seu auge. Mas o tempo mudou... e a televisão parou no tempo.

   Com o advento da internet e, mais recentemente, com a facilidade proporcionada pelos serviços de streaming, todas as emissoras de canais abertos passaram a sentir o retrogosto de um público cada vez mais insatisfeito com a programação, o que deu início à queda na audiência. Agora, o telespectador tem o poder de escolher o que, quando e como assistir. Em consequência disso, os anunciantes, antes numerosos e generosos, passaram a fugir desse modelo ultrapassado. Seguindo o comportamento do consumidor, redirecionaram seus ovos de ouro para outras plataformas.

    Diante disso, o desespero bateu. E, como já dizia o “Velho Guerreiro”: “Na televisão, nada se cria, tudo se copia”. Vem daí essa propagação de remakes e revivals, como se a criatividade tivesse sido sepultada na década passada. É sempre o mais do mesmo. E o resultado disso é a enxurrada de roteiros empobrecidos e previsíveis, quando não beiram a linha tênue do plágio.

     É preciso entender que essa geração não quer perder tempo e nem tolera a hipocrisia, o que a faz buscar coerência, respeito e autenticidade, além de excelência na qualidade daquilo que consome. Não se deixa prender por modelos de programação decadentes, que prometem tudo, mas não entregam nada.

   Percebendo que a audiência se fragmentou, as emissoras de televisão, em vez de investirem no inédito, recorrem a programas engessados, há muito considerados ultrapassados. Enquanto isso, a internet vai expandindo seu território e conquistando a confiança daqueles que buscam assistir a algo verdadeiramente interessante e autêntico.

  Na tentativa desenfreada por uma retomada significativa da audiência e indo na contramão do que prega o bom senso, parece que o SBT ainda não entendeu que entramos em um novo milênio. A emissora tem abraçado youtubers, contratado influenciadores, sem seguir uma linha coerente com a própria identidade, passando a atirar para todos os lados. E vem aí o tiro de misericórdia: a ressurreição da famigerada Banheira do Gugu.
. Um programa pífio, sem graça e extremamente apelativo, onde o corpo da mulher é objetificado de forma explícita e vergonhosa. Nos dias atuais, não por moralismo, mas por consciência, o público rejeita esse tipo de entretenimento de massa. Cada vez mais, a ingestão desse modelo decadente provoca repúdio nos mais jovens que não toleram o machismo disfarçado de diversão e sabem que há milhares de opções à distância de um clique.

   Se a televisão brasileira quiser sobreviver com relevância, precisará, antes de tudo, respeitar a inteligência de seu público. E, acima de tudo, aceitar que o controle mudou de mãos ― e essas mãos não toleram mais a hipocrisia como única alternativa.