sábado, 17 de março de 2012

Estresse tecnológico X Nadismo


De acordo com alguns especialistas estamos a um passo de sucumbir pelo estresse causado pelo excesso de “informação”, ou seja, esta onda gigantesca que nos joga à margem de uma conexão ativa e constante através de jornais, revistas, telefones, internet, televisão etc, está a ponto de nos transformar em humanoides ou “zumbis”, pessoas que pouco dormem, descansam ou até mesmo que mal conseguem tempo para um convívio amiúde com a família e amigos “reais”.
A paranoia é tão gritante, que mesmo antes de procurar um local para um repouso merecido, alguns indivíduos optam por lugares onde haja sinal de telefonia celular, internet, TV a cabo etc. Alguém arriscaria dizer que tudo isso não provoca efeitos colaterais? Pois eu aposto que ao menos a minha geração está sofrendo com toda essa carga excessiva, que atiraram sobre ela, nos últimos anos. Na verdade não temos o que fazer com tanta informação, e assim que alguém nos comunica algo novo, da qual não tivemos tempo de nos inteirar, a sensação que permanece é que, de alguma forma, perdemos o “trem”, isto é, há uma obrigação implícita de que devemos saber tudo, o tempo todo, sobre o que acontece em nossa cidade, estado, país e no mundo. Que loucura! Estamos virando servos do excesso de informação, mesmo que essa não seja relevante, muitas vezes, à vida que levamos. Então para não passarmos por ignorantes abraçamos tudo, sem prestar atenção a nada. Tudo é efêmero, o tempo é demasiadamente curto para que haja em nosso cérebro o processo efetivo de tanto conhecimento, com isso, aos poucos, toda essa ansiedade pelo “saber” vai se transformando em frustração e incapacidade. Então, aqui vale inserir uma pequena e particular história: a minha. Assim que entrei para a escola, em meados dos anos 70 – não vale tentar calcular a minha idade – à época, era comum que muitas crianças não tivessem televisor em casa, eu era uma delas. O fato se tornava potencialmente frustrante quando eu ouvia a professora comentar com os outros alunos sobre o que havia ocorrido no capítulo da novela, transmitido na noite anterior. Sentia-me um peixe fora d’água, alguém que não pertencia àquele mundo. Talvez essa seja a mesma sensação que muitas pessoas têm, atualmente, ao serem questionadas sobre determinadas tecnologias: ipod, iphone, ipad, internet, e-mail, skype, e-book... Tudo isso, isoladamente, tem o seu valor, porém quando se torna uma obsessão à obtenção de toda essa “parafernália” tecnológica, acontece uma implosão singular no modo como as pessoas optam pela forma de se comunicarem, já que escolhem viver muito mais de maneira artificial/virtual do que de modo legítimo. Isso a meu ver é bastante perigoso, pois está cada vez mais difícil o enfrentamento dos problemas reais, que agora passaram a ser divulgados e discutidos em sites de relacionamentos, que muitas vezes parecem tatames, usados para disputas pessoais e onde o veredito é ditado pelo curtir, comentar e compartilhar... Alguém já percebeu os recadinhos exibicionistas, irônicos, maliciosos, indiretos, provocadores e até mesmo ameaçadores? Esse exagero, sem dúvida alguma, está causando muitas discórdias e aborrecimentos, além de casos de depressão e estresse.
 Portanto, esse modo tecnológico de viver cada vez mais acirra uma competição predatória, cuja intenção é revelar que papel cada um representa dentro desse “admirável mundo novo”, onde a superexposição da imagem e o modo de pensar ficam registrados diariamente por quase todos a todo instante, em suas páginas virtuais. Daí surge as desavenças, as críticas, as maledicências... Então, diante desse diário virtual, aberto a todos, amigos e inimigos trocam elogios ou tripudiam em cima daquilo que observam. E assim a coisa vai ficando enfadonha. E essa disponibilidade e o fácil acesso a todas essas informações em tão pouco tempo, costumam causar alegrias e decepções - não necessariamente na mesma ordem. Partindo dessa premissa podemos afirmar que nos transformamos em “marqueteiros” pessoais, porém essa autopromoção da imagem nem sempre surte o efeito desejado, e, assim, ser adicionado ou excluído passa a ser condicionante para uma troca de informação que em nada acrescentará em nossas vidas. É óbvio que há o lado bom dessa tecnologia, que permite ao indivíduo dar aplicabilidade à informação e buscar aprimoramento à sua capacidade de aprendizagem na educação, na medicina, na comunicação e tantos outros campos de atuação que muito progrediram com o advento tecnológico, além de propiciar uma interação objetiva rápida e eficaz com quem de fato interessa. Outra questão pertinente a essa “Era da Informação” é proporcionar ao sujeito uma escolha democrática do que ele considera mais conveniente às suas expectativas.
Contudo, diante desse cenário tecnológico, que como um tsunami arrasta tudo pela frente, não há como separar o joio do trigo, ou seja, é preciso que haja cautela, pois uma frase ou uma imagem “distorcida” intencionalmente ou não, faz com que uma “informação” seja interpretada de várias maneiras, e a responsabilidade e a repercussão, necessariamente, poderá passar por níveis diferentes de julgamento. Assim sendo, torna-se relevante lembrar que atrás de toda essa tecnologia da informação existem corações pulsantes. Assim a mutação do homem à condição de humanoide - junção do homem com o debiloide - será uma opção particular, lembre-se do livre arbítrio.
 Dessa forma use esse aparato tecnológico moderadamente com criatividade e maturidade. Aqui, vale lembrar que cansadas dessa “conexão forçada” diariamente, muitas pessoas estão optando pelo “nadismo”, uma filosofia de vida que prega que por alguns momentos do dia, da semana, do mês e até mesmo do ano, o sujeito deve efetivamente se desconectar de tudo – tudo mesmo – e procurar uma interação com o nada, ou seja, simplesmente aproveitar a vida e o planeta, no que ele tem de mais bonito para oferecer: sua exuberante natureza. Isso não é simplesmente maravilhoso! E não vale levar a máquina fotográfica para depois postar as paisagens, poses... na internet, isso não é nadismo... é exibicionismo.
BOM NADISMO PRA VOCÊ!


quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da MULHER

365 dias do ano,
            porque um dia só é pouco

Neste Dia Internacional da Mulher, faço aqui uma livre interpretação da evolução feminina através da história das nossas tias, mães e avós... Mulheres que passaram por fases difíceis e diferentes, ao longo dos tempos, mas que souberam “driblar” as adversidades com bravura.  O objetivo é proporcionar a todas as mulheres, através delas, uma singela homenagem e, sem compromisso, propiciar, também, por meio desta leitura, uma reflexão metafórica e analógica do que realmente mudou, nestes últimos tempos, na vida das mulheres, e o que ganhamos e perdemos ao longo de tantas fases.
  Ainda, há bem pouco tempo, éramos consideradas inferiores aos homens. Nossa sina, como mulher, estava no casamento e na maternidade; e, com a mais absoluta resignação; já que éramos submissas por educação.
  Já no século passado, seguindo uma tradição surgida na Europa, por volta do ano de 1800, famílias ricas passaram a promover um grandioso baile, cujo objetivo era apresentar às jovens à sociedade, aos seus possíveis pretendentes, e mostrar que elas estavam se tornando mulheres, portanto já estavam prontas para tornarem-se boas esposas e mães. O baile de debutantes das “débus”, - cuja origem da palavra francesa début significa estréia, início -, como se conhece, até hoje, tinha mesmo que, de maneira velada, mas nem tanto, o estratagema de arrumar candidatos a marido. E, assim, lindas jovens, apresentavam-se como verdadeiras princesas à procura de seus príncipes - ainda que mal soubessem elas que a maioria deles, ao final da história, transforma-se em sapos.
 Afinal de contas, naquela época, qual mulher desejaria outro destino que não fosse o casamento? O fundamento imposto pela sociedade era constituído na sustentação de que sozinha a mulher jamais seria respeitada, por isso recebia, de forma contínua e progressiva, um “treinamento” voltado único e exclusivo à conquista de um marido e à procriação.

Uma mulher bonita não é 
aquela de quem se elogiam
 as pernas ou os braços,
 mas aquela cuja inteira aparência
 é de tal beleza que não deixa
 possibilidades para admirar
 as partes isoladas. Sêneca
A igreja também estabelecera normas rígidas com relação ao casamento, dando-lhe o status de sagrado, ainda no século VIII. Ao ser considerado um sacramento, ficou instituído que o casamento seria perpétuo e que a sua dissolução seria impensável e/ou inaceitável. A impossibilidade de separação de uma união era tida como grande vantagem para a mulher, já que o casamento era sinônimo de “segurança” para ela, que teria sempre um homem ao seu lado para prover suas necessidades e as de sua família, vantagem que uma mulher solteira não possuiria. Então, para garantir que suas filhas não ficassem “encalhadas” – o que para as famílias era quase como uma maldição -, as mães passavam à sua prole, os ensinamentos de como ser uma boa esposa, quanto mais a jovem se aperfeiçoasse nas “artes domésticas” – bordar, passar, costurar, lavar... – mais chances ela teria de conseguir um bom partido, sem esquecer, obviamente, da importância de os pais tudo fazerem para garantirem a “inocência” de suas filhas. Virgindade era o principal “atributo” esperado e desejado pelo futuro marido. E, sendo assim, desde cedo, as meninas aprendiam a importância de se manterem imaculadas para aquele que viesse, no futuro, a desposá-las. As mães, ainda que “acanhadas”, por seus pudores, ensinavam suas filhas com sutileza, sobre a importância da castidade, pois não pretendiam despertar o interesse das donzelas pelo sexo, antes do dia de elas contraírem núpcias. E, assim enquanto “aprontavam o enxoval” a espera de um pretendente, que fosse do seu mesmo nível social, - alguns escolhidos pelos seus próprios pais – as mocinhas iniciavam-se, paulatinamente, no conceito abstrato de como ser uma boa esposa, mãe e dona de casa.
Os "utensílios" da mulher moderna
Entretanto, apesar dos “esforços”, muitas não conseguiam cumprir tal destino e levariam até a morte o estigma de ser uma “solteirona” - forma pejorativa de definir a mulher que não conseguira contrair matrimônio. Para evitar a “humilhação”, de não ter conseguido um marido ou de ter sido rejeitada por algum aspirante a marido, muitas mulheres, sob pressão da família e por vergonha, fugiam desse rótulo e passavam a procurar pelos “enjeitados”, homens sem muita estirpe. Tudo era válido para não sofrer com o estigma de ser uma solteirona; afinal, ela não conseguira cumprir com o seu destino: casar e constituir família. À procura por um “senhorio” - já que o marido era considerado dono legal e religioso de sua esposa, e nela poderia, a partir do matrimônio, aplicar-lhe os castigos que julgasse necessário -, era melhor do que se tornar dependente, financeiramente, de algum membro da família, irmão ou irmã, que, após a morte dos pais, provavelmente permitiria que ela morasse em sua casa em troca de “favores”, nos cuidados dos afazeres domésticos e das crianças. Assim, a solteirona passava a ser a “tiazona”, uma espécie de escrava, disfarçada de parente, que além de trabalhar de graça, tinha, ainda, que ser grata pela acolhida.
O sonho de consumo de muitas mulheres
Já vai longe esse tempo, ou será que não? É provável que ainda existam culturas e localidades, em diferentes pontos da Terra, onde sociedades machistas ainda tratem as solteironas com este sentimento pungente. Porém, uma coisa é certa, avançamos muito nestas últimas décadas. Nossa atuação, seja no campo profissional, familiar, afetivo, sexual e até mesmo político, deve-se muito a essas corajosas e magníficas mulheres -  solteironas, viúvas, separadas etc - que, sem fazer alarde, foram se libertando dos grilhões da subserviência e das regras impostas por uma sociedade hipócrita. E, de forma plácida, inseriram-se no mercado de trabalho, com a aprovação dos seus parentes, que preferiram vê-las trabalhando, para o seu próprio sustento, ao ter que sustentá-las para o resto da vida. Já que eram vistas como heranças malditas... E quem saiu ganhando com isso? O sexo feminino, que de frágil não tem absolutamente nada.  E, lá foram as tiazonas para o magistério, hospitais, fábricas, etc. A partir de então, cientes dos seus valores, nunca mais se deixaram rotular... Uma fase havia se encerrado e uma nova iniciara-se em suas vidas... E, logo em seguida, veio outra: elas descobriram-se independentes financeiramente, e foram morar sozinhas, sem a “escravidão e a exploração” dos parentes. O casamento não precisava mais ser algo “arranjado”, pois elas descobriram, também, que podiam amar sem prévias condições. E uma união estável, passou a ser simplesmente uma questão optativa do casal, sem a obrigatoriedade nem a pompa circunstancial que uma cerimônia matrimonial exige. As “casadas”, que a tudo assistiam, impassíveis, já não pareciam tão confiantes em suas escolhas – dona de casa, mãe, esposa... 
E acredito, sinceramente, que a luta dessas mulheres foi o que motivou muitas outras a desistirem de uniões conjugais infelizes. Então, para torná-las mais livres, eis que surgiu a pílula anticoncepcional, era outra fase: a liberdade de escolher entre querer ou não ser mãe! Elas, que agora trabalhavam e estudavam, mesmo sob os olhares de desconfiança, e uma inveja quase patológica, de uma sociedade machista, passaram a falar em “produção independente”. Era o fim dos tempos, logicamente para os conservadores, porque para essas mulheres era o início de uma nova fase, a busca pela maternidade sem a necessidade da presença da figura paterna no cotidiano de suas vidas ou na vida de seus filhos. Confiante ela agora tem a consciência de sua competência, caráter, fibra, inteligência, habilidade e um amor incomensurável que precisava ser canalizado ao filho desejado e planejado.
 De lá pra cá, foram muitas as fases ocorridas na vida da mulher. Nesta etapa da vida, em pleno século XXI, as mulheres passaram a assumir a sua orientação sexual, despojando-se de preconceito. Hoje, nesses novos tempos, relatam seus romances do mesmo jeito que falam de suas viagens e roupas, tudo com muita dignidade. "Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores". Cora Coralina.