quinta-feira, 31 de março de 2011

Insensata televisão

A
 intenção ao abordar o texto em pauta, é, unicamente, tentar encontrar uma resposta para decrepitude da programação da televisão aberta, brasileira, que urge por renovação. Não que a tevê de canal a cabo também não esteja deixando a desejar, devido a sua programação repetitiva, mas isso já é assunto para outra pauta...
Nesse domingo, de frio e chuva, depois de terminar a leitura de um livro, já no final da tarde, decidi fazer o que já não fazia há algum tempo: assistir televisão. O experimento, ao observar a programação dos canais abertos, deu-me a péssima sensação de “Déjà vu”, já que renovação e mudança são fatores que não fazem parte da grade de entretenimento, dessas emissoras, numa demonstração, evidente, de que perderam o “fôlego” e o foco. Conforme podemos observar há um ranço no “ar”. Na verdade, tudo está ultrapassado e enfadonho. Como já dizia o “Velho Guerreiro”, “Na tevê nada se cria, tudo se copia”. Contudo, essa desconstrução, expõe, diariamente, aos telespectadores atrações superficiais e apelativas, cujo intuito é, tão somente, elevar a audiência a qualquer custo. O exagero chega a tanto que alguns apresentadores investem em caricaturas, para com isso justificar a imbecilidade e a idiotice dos seus programas, que qualquer semelhança com a concorrência, não é mera coincidência, é clonagem, mesmo. É relevante lembrar que somos nós, consumidores que, indiretamente, pagamos a conta dessa programação de coisa nenhuma para ninguém assistir, visto que acabamos por adquirir os produtos que patrocinam essa chatice jurássica. Mas, diante de tudo isso, o que mais me deixa indignada é a maneira como os programas são conduzidos... Fica óbvio que a inteligência dos telespectadores está sendo menosprezada, devido ao baixo nível do que é apresentado a eles.  
Até mesmo a teledramaturgia, outrora um potencial de relevância, atualmente, também está sofrendo da mesma crise de mediocridade e falta de criatividade; já que os temas, os autores e atores são sempre os mesmos. Parece-me que falta “sangue novo” à dramaturgia, que sem ideias, impõe ao público, as mesmas histórias, com roupagens diferentes: mocinhas ingênuas e burras, que passam o “folhetim” inteiro sofrendo, para somente no final alcançar a felicidade plena, quiçá eterna; enquanto seus algozes, mais espertos e inteligentes, passam a novela inteira tramando e criando conchavos, e para no final... E, por falar nisso... Alguém já viu algum vilão ir parar atrás das grades? A grande maioria morre ou foge para ilhas paradisíacas. De onde se constata que nem os escritores, da teledramaturgia brasileira, acreditam na justiça desse Estado. O momento é tão crítico que até os grandes intérpretes já se deram por conta que, há muito tempo, as novelas, pelo seu conteúdo improdutivo e monótono, passam por um processo lento e gradual de estagnação. Em entrevista à Folha de São Paulo, o ator Lima Duarte deu a seguinte declaração: Há 40 anos faço a mesma novela!
Portanto, sem fomentar novos conhecimentos e sem agregar valor à sua programação, a televisão brasileira, em breve, estará fadada às moscas.

terça-feira, 29 de março de 2011

Amigos virtuais

N
uma busca, absurda, de tentar entender o mundo em que estamos inseridos e diante da correria da vida, muitas vezes nos deparamos com pensamentos complexos, àqueles que falam de uma maneira mais teórica e filosófica sobre um determinado assunto. Sob essa perspectiva passei a refletir sobre a importância, cada vez maior, dos sites de relacionamentos, local onde passamos a cultivar os amigos - cada vez mais virtuais -, em nossas vidas.
Há alguns dias atrás, fui surpreendida pelo comentário feito por uma amiga, que eu já não via há algum tempo, e que, por acaso, encontrara no centro da cidade. “E daí sumida, por onde tem andado, está tudo bem contigo!?”, essa foi a pergunta feita por ela, cuja admiração, ao me ver, era evidente. O engraçado é que eu continuo morando no mesmo endereço, há pelo menos cinco anos, e os meus telefones permanecem os mesmos, por isso estranhei a pergunta. Então, depois de colocarmos a conversa em dia, finalmente, entendi o porquê daquela indagação inicial; ela se referira ao fato de não saber mais notícias minhas, através dos sites de relacionamentos, que tínhamos em comum, na internet, e pelo qual trocávamos informações, eventuais. Como eu havia excluído o meu perfil, desses sites, ela achou que eu “evaporara do mapa”.
 Agora, veja você que ironia, eu passei, o resto da semana, pensando naquele episódio, preocupada; sentindo-me uma "marciana" e/ou “um peixe fora d’água”, a variante era o momento. Entretanto, para o meu alívio, embora ela não soubesse, lembrei-me que ainda mantinha um perfil cadastrado em um site de relacionamento, voltado, especificamente, à área profissional. Ufa! Ainda bem! Assim voltei à sensação de estar viva, novamente. Exageros à parte... O comentário, dessa “amiga”, me fez refletir sobre a importância que as pessoas dão ao universo dos amigos virtuais, até porque os amigos “reais” sabem por onde ando e como eu estou.
Entretanto, esse encontro casual, logicamente, me levou a acreditar que a maioria, daqueles que eu conheço, já caiu à rede. Dessa forma, decidi voltar ao mundo “pluralista”, dos amigos virtuais, novamente, antes que, por lá, eu vire um “singular” fantasma…
Na verdade, confesso, também, que tenho sentido a falta daqueles que, de certa forma, já faziam parte do meu cotidiano virtual. Então, até breve. É provável que nos encontremos à rede de algum site de relacionamento, e passemos a ser “amigos”. Quem sabe...

sábado, 26 de março de 2011

Saúde pública, caótica e inoperante


E
ntra governo e sai governo e permanece “tudo como d’antes no quartel de Abrantes” , citação essa que transmitia o sentimento de inoperância e inconformismo daqueles que não  se resignavam com a invasão de Napoleão Bonaparte à Península Ibérica, no início do século 19. E, hoje, em pleno século XXI, é sob essa ótica que abordo esse assunto: a resinação do povo brasileiro diante do caos instalado na saúde pública dessa amada pátria, chamada Brasil, cujo modelo de assistência aos seus cidadãos, conhecido como SUS - Sistema Único de Saúde, tem causado múltiplos sofrimentos a maioria daqueles que, sem outra alternativa, precisa buscar atendimento médico e hospitalar.
O assunto pede uma maior reflexão sobre as condicionantes sociais relacionadas com os circuitos de pobreza e as doenças. É óbvio que os pobres adoecem mais, não por serem pobres, mas porque lhes faltam as condições necessárias para serem saudáveis: higiene, saneamento, água tratada, alimentação e até mesmo educação. A impossibilidade de atendimento, no momento em que realmente é imprescindível, faz com essa grande parcela da população brasileira tenha o seu quadro de saúde, ainda mais agravado. Essa afirmação assume particular importância, quando constatamos que a maioria da população brasileira pertence à camada mais desfavorecida da sociedade.

Às portas de hospitais e postos de saúde, crianças, adultos e idosos doentes, diariamente, abarrotam salas de espera, enquanto aguardam por atendimento médico. A demanda é maior do que a capacidade que esses poucos locais têm, efetivamente, de atender aos que ali procuram diagnóstico para suas enfermidades. Se já não fosse triste o bastante estar debilitado, imagine ainda ter que pernoitar em filas, mesmo sem condições físicas e/ou até psicológicas, na esperança de conseguir assistência médica. Que sistema atroz e agonizante é esse que faz com que pessoas percam horas ou até mesmo dias, até que sejam diagnosticadas? É triste, humilhante, e debilita ainda mais qualquer pessoa que já esteja doente. 
Somente quem vive numa ilha de prosperidade e saúde, cercada por pessoas igualmente prósperas e saudáveis, pode afirmar, com ignorância e grande alegria, que desconhece o fato ao qual me refiro. 
Até quando e quantos, ainda, precisarão morrer em filas de espera por falta de leitos e de atendimentos médicos, para que medidas concretas sejam tomadas no sentido de reverter esse sistema de saúde, caótico e desumano, administrado de forma tão incompetente pelo poder público? Quanta  falta de consideração, para com aqueles que, muitas vezes, passaram uma vida inteira contribuindo, obrigatoriamente, para que essa “aparelhagem” pudesse funcionar, como é o caso de muitos idosos aposentados, que ao chegarem na velhice percebem o quanto foram ludibriados ao contribuírem anos a fio para que, chegada a idade, pudessem contar ao menos com o direito a um leito limpo e a médicos comprometidos efetivamente com o bem estar dos seus pacientes.  
O fato está se tornando tão insustentável, que um apresentador de televisão, um dia desses, muito inabilmente, confessou estar preocupado com o precário estado em que se encontram os hospitais da capital gaúcha, quiçá do estado, visto que, até para pessoas com bons planos de saúde - obviamente estava pensando em si mesmo - já estaria faltando leitos em quartos privativos. Obviamente, aquilo muito inquietara o “pobre” sujeito. Então, indignado diante das câmeras, o homem bradara pela construção urgente de mais hospitais e postos de saúde, em todo o estado. Evidentemente, naquele momento, me pareceu que ele estava defendendo os seus próprios interesses, e, embora o objetivo fosse nobre, o motivo real de tanta indignação deixava dúvidas. Portanto, podemos chegar a triste conclusão de que a luta por justiça social, não raras vezes, é motivada para defender interesses escusos e particulares. Infelizmente assim será, até que comecemos a pensar de forma mais pluralista, solidária e abrangente, em prol da sociedade da qual fazemos parte.
Uma forma de amenizar o problema, portanto, seria a construção imediata de  hospitais e postos de saúde - como bradou o "ilustre" apresentador -, além da contratação urgente de mais profissionais qualificados. No entanto, para o sucesso da implantação de uma mudança no sistema de saúde, são necessárias a adoção de medidas eficazes, como a melhora da comunicação entre os profissionais da saúde e os pacientes; aplacar a desordem no sistema de atendimento em hospitais e postos; treinar, capacitar, humanizar e dignificar todos aqueles que trabalham na área da saúde; adaptar a prestação de cuidados de saúde às necessidades e características da população de cada região; investir em saúde preventiva, cujos custos tornam-se muito menos onerosos do que o tratamento de doenças crônicas, agravadas pela falta de atendimento médico/hospitalar; elaborar um plano estratégico da instituição hospitalar e das relações com outras instituições; desenvolver políticas sociais e ambientais complementares e, finalmente, investir tecnologicamente na aquisição e na modernização de equipamentos médico/hospitalar, que visem auxiliar, os profissionais da saúde, com diagnósticos mais precoces e precisos. Atitudes simples que, em pouco tempo, trariam grandes resultados para a qualidade de vida de toda a população. Obviamente, essa tomada de decisão demanda de vultosos investimentos e de boa vontade por parte dos nossos governantes, que ainda não entenderam que é muito mais lucrativo e inteligente cuidar da saúde do que tratar da doença. Entretanto, lembro-me com tristeza e pesar que, na contramão dessas medidas, está o fechamento, em poucos anos, somente na capital gaúcha, de grandes hospitais, com problemas estruturais e financeiros, que cerraram suas portas, definitivamente, deixando a população, ainda, mais desamparada.
Essa é a pergunta que não quer calar: para onde está indo o dinheiro que deveria ser destinado à saúde? Afinal de contas por que o cidadão paga tantos e altos impostos se não tem retorno algum, nem quando mais precisa? Por que não há uma política social, de forma operante, voltada a investir na prevenção de doenças e na promoção da saúde, de maneira a erradicar as gritantes disparidades sociais que se refletem nas desigualdades de acesso à saúde? A resposta é simples, os senhores políticos, apresentadores, empresários... a elite, em geral, não precisam do SUS. Somente quando os seus leitos estiverem ameaçados ou ocupados, eles se darão conta que vamos todos para o mesmo lugar.
 Em suma, a solução talvez esteja, em primeiro lugar, na implantação de normas rígidas que visem acabar com a corrupção, que tira da população menos favorecida um dos seus direitos fundamentais: o acesso gratuito a um sistema de saúde único – voltado a todos -, justo e operante.
Enquanto escrevo esse texto, provavelmente, muitas pessoas, em várias partes dessa tão nobre pátria, estão morrendo por falta de assistência médica e hospitalar. Pense nisso... Saúde e paz pra você, sempre.





terça-feira, 22 de março de 2011

Água: milagre da vida


     Este é com certeza um tema recorrente, mas como não falar sobre esse elemento tão fundamental à vida, justamente hoje, O Dia Mundial da Água.  Há 18 anos, as Nações Unidas, criaram uma data especial para que o mundo inteiro refletisse sobre a importância da água, esse recurso natural que vem emitindo sinais de escassez e de verdadeira fadiga com os maus tratos que recebe do ser humano, cujo corpo é composto, justamente, por 70% desse líquido precioso.
     Não vou aqui, nesse espaço, "chover no molhado", todos, adultos e crianças conhecem os benefícios que água tem sobre a vida.
     A preocupação, contudo, vem diante do fato de que quase nada ou nada tem sido feito, de forma efetiva, para proteger esse recurso natural, cada vez mais escasso no planeta. As medidas de proteção aos rios, lagos e aqüíferos brasileiros praticamente inexistem; e as campanhas de conscientização, com a finalidade específica de sensibilizar as populações para a importância do uso racional da água, não surtem efeitos. E, passando essa data, o tema volta ao esquecimento e como diz o ditado: "o povo tem a memória curta", então, farei valer outro ditado, oportuno para o assunto em questão: "água mole em pedra dura..."
     E, justamente, o Brasil, que, segundo dizem, possui o maior reservatório de água doce do planeta, parece, que tão somente por isso, sua população acredita não precisar usar esse recurso de forma sustentável. Nada é eterno. Precisamos garantir às gerações futuras uma qualidade de vida, e para isso, precisamos começar a partir de agora, já, nesse momento. Chega de postergar medidas simples que podem ser adotadas diariamente: não escovando os dentes e nem lavando a louça com a torneira aberta; não lavando pátios e calçadas, de maneira exagerada; procurando, sempre que possível, utilizar a água da máquina de lavar, para limpar o chão; controlando o tempo do banho... Para quem não sabe, o óleo de fritura que usamos em nossa casa, é um dos maiores vilões da poluição doméstica. Cada litro polui 1 milhão de litros de água, tornando-se um agente poluente muito nocivo. Se jogado direto nos rios, o óleo prejudica a oxigenação da água, tornando-a imprópria ao consumo; se jogado ao solo, o óleo impermeabiliza-o, favorecendo enchentes. E, até mesmo em nossa casa, se despejado na pia, este óleo pode provocar entupimentos, mau cheiro e servir de fonte para alimentação de insetos e roedores. Motivo esse que faz com que eu, aqui em casa, tenha sempre reservado aqueles frascos vazios de amaciantes, para poder armazenar todo o óleo que foi utilizado em frituras, depois de cheio eu os levo até o posto de coleta para que possa ser reciclado. Ações simples que não dão nenhum trabalho e ainda nos permitem cuidar do meio ambiente. Eu faço a minha parte e você? Nunca é tarde para começar, pense nisso e nas gerações futuras. A vida, assim, estará garantida, e as futuras gerações agradecerão.

 

segunda-feira, 21 de março de 2011

“Mulher de fases...”

   Já que neste mês comemora-se o dia Internacional da Mulher, faço aqui uma livre interpretação da evolução feminina através da história das nossas “tias, mães, avós solteironas”, mulheres que passaram por fases difíceis e diferentes, ao longo dos tempos, mas que souberam “driblar” as adversidades com bravura.  O objetivo é proporcionar a elas uma singela homenagem e, sem compromisso, propiciar, também, através desta leitura, uma reflexão metafórica e analógica do que realmente mudou, nestes últimos tempos, na vida das mulheres, e o que ganhamos e perdemos ao longo de tantas fases.
  Ainda, há bem pouco tempo, éramos consideradas inferiores aos homens. Nossa sina, como mulher, estava no casamento e na maternidade; e, com a mais absoluta resignação; já que éramos submissas por educação.
  Já no século passado, seguindo uma tradição surgida na Europa, por volta do ano de 1800, famílias ricas passaram a promover um grandioso baile, cujo objetivo era apresentar às jovens à sociedade, aos seus possíveis pretendentes, e mostrar que elas estavam se tornando mulheres, portanto já estavam prontas para tornarem-se boas esposas e mães. O baile de debutantes das “débus”, - cuja origem da palavra francesa début significa estréia, início -, como se conhece, até hoje, tinha mesmo que, de maneira velada, mas nem tanto, o estratagema de arrumar candidatos a marido. E, assim, lindas jovens, apresentavam-se como verdadeiras princesas à procura de seus príncipes - ainda que mal soubessem elas que a maioria deles, ao final da história, acabam virando sapos.
 Afinal de contas, naquela época, qual mulher desejaria outro destino que não fosse o casamento? O fundamento imposto pela sociedade era constituído na sustentação de que sozinha a mulher jamais seria respeitada, por isso recebia, de forma contínua e progressiva, um “treinamento” voltado único e exclusivo à conquista de um marido e à procriação.
A igreja também estabelecera normas rígidas com relação ao casamento, dando-lhe o status de sagrado, ainda no século VIII. Ao ser considerado um sacramento, ficou instituído que o casamento seria perpétuo e que a sua dissolução seria impensável e/ou inaceitável. A impossibilidade de separação de uma união era tida como grande vantagem para a mulher, já que o casamento era sinônimo de “segurança” para ela, que teria sempre um homem ao seu lado para prover suas necessidades e as de sua família, vantagem que uma mulher solteira não possuiria. Então, para garantir que suas filhas não ficassem “encalhadas” – o que para as famílias era quase como uma maldição -, as mães passavam à sua prole, os ensinamentos de como ser uma boa esposa, quanto mais a jovem se aperfeiçoasse nas “artes domésticas” – bordar, passar, costurar, lavar... – mais chances ela teria de conseguir um bom partido, sem esquecer, obviamente, da importância de os pais tudo fazerem para garantirem a “inocência” de suas filhas. Virgindade era a principal “qualidade” esperada e desejada pelo futuro marido. E, sendo assim, desde cedo, as meninas aprendiam a importância de se manterem imaculadas para aquele que viesse, no futuro, a desposá-las. As mães, ainda que “acanhadas”, por seus pudores, ensinavam suas filhas com sutileza, sobre a importância da castidade, pois não pretendiam despertar o interesse das donzelas pelo sexo, antes do dia de elas contraírem núpcias. E, assim enquanto “aprontavam o enxoval” a espera de um pretendente, que fosse do seu mesmo nível social, - alguns escolhidos pelos seus próprios pais – as mocinhas iniciavam-se, paulatinamente, no conceito abstrato de como ser uma boa esposa, mãe e dona de casa.
Entretanto, apesar dos “esforços”, muitas não conseguiam cumprir tal destino e levariam até a morte o estigma de ser uma “solteirona” - forma pejorativa de definir a mulher que não conseguira contrair matrimônio. Para evitar a “humilhação”, de não ter conseguido um marido ou de ter sido rejeitada por algum pretendente, muitas mulheres, sob pressão da família e por vergonha, fugiam desse rótulo e passavam a procurar pelos “enjeitados” pelas mais jovens, homens sem muita estirpe. Tudo era válido para não sofrer com o estigma de ser uma solteirona; afinal, ela não conseguira cumprir com o seu destino: casar e constituir família. À procura por um “senhorio” - já que o marido era considerado dono legal e religioso de sua esposa, e nela poderia, a partir do matrimônio, aplicar-lhe os castigos que julgasse necessário -, era melhor do que se tornar dependente, financeiramente, de algum membro da família, irmão ou irmã, que, após a morte dos pais, provavelmente permitiria que ela morasse em sua casa em troca de “favores”, nos cuidados dos afazeres domésticos e das crianças. Assim, a solteirona passava a ser a “tiazona”, uma espécie de escrava, disfarçada de parente, que além de trabalhar de graça, tinha, ainda, que ser bem agradecida pela acolhida.
Já vai longe esse tempo, ou será que não? É provável que ainda existam culturas e localidades, em diferentes pontos da Terra, onde sociedades machistas ainda tratem as solteironas com este sentimento pungente. Porém, uma coisa é certa, avançamos muito nestas últimas décadas. Nossa atuação, seja no campo profissional, familiar, afetivo, sexual e até mesmo político, deve-se muito a essas solteironas magníficas, que, sem fazer alarde, foram se libertando dos grilhões da subserviência e das regras impostas por uma sociedade hipócrita. E, de forma plácida, inseriram-se no mercado de trabalho, com a aprovação dos seus parentes, que preferiram vê-las trabalhando, para o seu próprio sustento, ao ter que sustentá-las para o resto da vida. Já que eram vistas como heranças malditas... E quem saiu ganhando com isso? Todas nós mulheres.  E, lá foram as tiazonas para o magistério, hospitais, fábricas, etc. A partir de então, cientes dos seus valores, nunca mais se deixaram rotular... Uma fase havia se encerrado e uma nova iniciara-se em suas vidas... E, logo em seguida, veio outra: elas descobriram-se independentes financeiramente, e foram morar sozinhas, sem a “escravidão e a exploração” dos parentes. O casamento não precisava mais ser algo “arranjado”, pois elas descobriram, também, que podiam amar sem prévias condições. E uma união estável, neste momento, era simplesmente uma questão de opção do casal, sem a obrigatoriedade nem a pompa que uma cerimônia matrimonial exige. As “casadas”, que a tudo assistiam, impassíveis, já não pareciam tão confiantes em suas escolhas – dona de casa, mãe, esposa...
E acredito, sinceramente, que a luta das “solteironas” foi o que motivou muitas outras mulheres a desistirem de uniões conjugais infelizes. E, com isso surgiram as separadas, as divorciadas e aquelas que, simplesmente, optaram por permanecerem sozinhas – quase todas, de certa forma, também no princípio, foram estigmatizadas (mas isso já é outra história).
Então, para torná-las mais livres, eis que surgiu a pílula anticoncepcional, era outra fase: a liberdade de escolher entre querer ou não ser mãe! Elas, que agora trabalhavam e estudavam, mesmo sob olhares de desconfiança, e uma inveja quase patológica, de uma sociedade machista, passaram a falar em “produção independente”. Era o fim dos tempos, logicamente para os conservadores, porque para as solteironas era o início de uma nova fase, a busca pela maternidade sem a necessidade da presença da figura paterna no cotidiano de suas vidas ou na vida de seus filhos. A solteirona, agora, sabia possuir competência, caráter, fibra, inteligência, habilidade e um amor incomensurável que precisava ser canalizado ao filho desejado e planejado.
 De lá pra cá, foram muitas as fases ocorridas na vida da mulher. Atualmente o termo “solteirona” está ultrapassado. Nesta etapa da vida, em pleno século XXI, as mulheres dizem, sem nenhum constrangimento, se estão solteiras ou não. E, além de tudo, passaram a assumir a sua orientação sexual, despojando-se de preconceito. Hoje, nesses novos tempos, relatam seus romances do mesmo jeito que falam de suas viagens e roupas, tudo com muita dignidade.
Como tudo na vida tem um preço, nós também pagamos pelo valor de toda essa liberdade. Mas, não teria sido o custo muito alto? O certo é que para toda ação há sempre uma reação. O caminho é longo, é lógico que não podemos, jamais, retroceder, mas será que não está na hora de desacelerarmos um pouco, e assim resgatarmos o tempo da paciência, já que andamos tão estressadas. É possível que com toda essa correria do dia a dia tenhamos nos esquecido de bordarmos e tricotarmos com nossas amigas; de passarmos conversas a limpo; de pintarmos novos cenários para nossas vidas e costurarmos amizades rompidas. Afinal de contas, há quanto tempo não lavamos a alma?
  Texto: Rosaide Gomes RPMT 7287
 * Você pode copiar este texto, porém, peço a gentileza de não retirar  o crédito do autor

Oh, Lua!



Q
ue marravilha! Exclamaria o chef de cozinha francês, Claude Troisgros, ao olhar a lua cheia, nesta noite de sábado, 19 de março. Segundo os especialistas, este lindo satélite natural da Terra, estava, nesta data, 35% mais brilhante e 18% maior, fato que só ocorre uma vez a cada 18 anos.
Ela estava mesmo “cheia” ao mostrar-se tão bela e radiante. Confesso que cheguei a me emocionar, pois ela parecia saber, ao ser contemplada, de sua capacidade de seduzir. Afinal, quem consegue ficar indiferente a sua majestade, que há milênios reina magnífica sobre a noite, exercendo, sobre nós, pobres mortais, esse misto de fascinação e mistério.
Então, me lembrei da primeira vez em que o homem colocou seus pés por lá. Na época, 1969, não tínhamos televisão em casa. Eu, pouco menor que hoje, no alto dos meus cinco anos, (só não comecem a calcular a minha idade), estava sentada à escada da cozinha, quando uma amiga da minha mãe apareceu, para nos contar a novidade. Lembro-me, como se fosse hoje, do ceticismo da minha mãe, ao afirmar que aquilo era mesmo uma grande bobagem. Então, sentada à porta, passei a olhar fixamente para cima, arregalando meus olhos, de modo a tentar enxergar os tais “homenzinhos” caminhando sobre a lua. Em meu delírio infantil fiquei a pensar, por muito tempo, no tamanho da escada que eles tiveram que construir para conseguir alcançar tal proeza. E, embora minha querida mãe fosse categórica ao afirmar que tudo aquilo não passava de uma grande mentira - igual brincadeira do 1º de abril -, fiquei dias (noites) a fio, tentando ver qualquer coisa que vencesse o ceticismo dela. Como eu só conseguia enxergar um vulto, que me fazia lembrar da Nossa Senhora, com seu filho no colo, passei a pensar que os tais “astronautas” tinham chegado mesmo era no céu, e a lua deveria ser a porta de entrada. Então, talvez, fosse verdade a história de São Jorge, com dragão e tudo... Mas, para o meu desencanto nem nisso a minha cética mãe acreditava. Não me dei por vencida, e assim que adquirimos nossa primeira televisão fiquei a esperar pela notícia de que os homens que voltaram da lua tinham consigo trazer de lá, um filhote de dragão, ainda que eu não soubesse bem como deveria ser aparência do bichano, mas para a minha total decepção nada disso foi noticiado. Ainda assim, o universo conspirava a meu favor, ou a lua, vai saber.
Já na 5ª série, do ensino fundamental, a diretora da minha escola organizou uma excursão ao planetário, fiquei estupefata, era a chance que eu teria de provar para a minha mãe que ela estava errada. E, enquanto o ônibus rodava, eu ficava a imaginar uma maneira de provar o quanto ela estava equivocada... Bem... Não que o passeio não tenha sido válido, mas de longe, não era, e não era mesmo, o que eu tinha imaginado. Eu, que vivia no mundo da lua, esperava algo mais que pedaços de rochas... E, o pior, eu não tinha como levar nada daquilo para mostrar a ela.
O tempo passou, e, recentemente, uma teoria surgiu, céticos, munidos de argumentos, afirmaram que a ida à lua não passara de uma farsa, então, para o meu alívio, a minha mãe não estava sozinha... Eu, com isso, aprendi que quando a minha mãe diz que pau é pedra, nem adianta discutir, pois é tempo perdido.
O fato é que a lua tem mesmo esse poder sobre as pessoas, de provocar fascínio e controvérsias. Vista por alguns como uma entidade mágica, com poderes sobrenaturais e por outros, simplesmente, como um satélite natural que orbita em volta da Terra, o caso é que não se consegue ficar alheio aos seus encantos e mistérios. Que o digam os apaixonados e até mesmo o temível Lobisomem (Uhhhhhhh), que eu nem preciso dizer que a minha mãe também não acredita existir.  Oh! Triste sina a minha, ser a única lunática da família...

Texto: Rosaide Gomes / RPMT 7287
* Ao copiarem este texto não retirem o crédito, por favor.